Manter uma
relação ética com os outros é estar sempre
disposto a conceder-lhes a palavra e a pôr em palavras o que exigimos
deles, o que oferecemos ou o que neles é passível de crítica.
A ética não é uma disposição inata
nem um impulso espontâneo, mas sim uma conquista. Não pretende
ser uma descrição positiva do comportamento, mas propõe
um ideal. Na prática diária da medicina cada um dos nossos
pacientes convida-nos a uma relação interpessoal única,
distinta da de outro, mais ou menos difícil e intensa. Dada a quantidade
de consultas que temos diariamente reconhecemos a necessidade de reflectir
aprender e manejar alguns conceitos éticos básicos. O conhecimento
da ética não nos obriga a actuar eticamente, mas estimula
a reflexão, permite emitir juízos de valor mais correctos,
aumenta a sensibilidade para detectar problemas morais e melhora a capacidade
para tomar decisões. Existem textos base que todo o médico
deverá conhecer: o Juramento de Hipócrates, o Código
de Ética e Deontologia Médica e a Declaração
de Genebra.
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Decidir...
Nem em Medicina
nem em Ética é possível decidir com absoluta certeza.
Chegamos apenas ao provável. Cabe actuar com prudência. Devemos
aprender a tomar decisões incertas, mas racionais. Para tanto convém
que conheçamos os princípios morais «absolutos»
implicados na relação médico-paciente.
Autonomia - capacidade de actuar com conhecimento de causa e sem qualquer
tipo de coacção externa.
«Primo no nocere» - procurar sempre o bem do paciente
e ter sempre em mente a obrigação de não o prejudicar.
Justiça - todos os Homens são iguais em direitos e merecem
total consideração e respeito.
A decisão
em ética clínica pode depender:
1. Do problema em si mesmo
2. Das suas características médicas
3. Dos factores humanos ,valores em jogo e prioridades entre eles
4. Dos conflitos originados
5. Dos critérios empregues
As decisões
podem ser tomadas segundo:
1. Consequências originadas por cada caso
2. Princípios éticos
3. Diferentes procedimentos que tenham em conta as máximas morais
que condensam a sabedoria prática dos sinais
4. Hábitos (virtudes) e atitudes (carácter) que deve possuir
e usar um bom médico (benevolência, veracidade, respeito,
equidade, justiça, amizade, discrição, honestidade...)
As questões
mais tradicionais como por exemplo o aborto e a manipulação
genética surgem mais noutras especialidades. No entanto encontramos
diariamente na Medicina Geral e Familiar situações que nos
convidam a demonstrar se estamos a trabalhar segundo princípios
éticos.
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Será
que somos honestos?
Relação
com Indústria Farmacêutica
Nenhum condicionante externo deveria modificar a livre prescrição.
A questão dos incentivos, de que todos necessitamos, não
pode pesar na nossa decisão. Temos que considerar o custo da nossa
prescrição. O contrário, por enquanto, é eticamente
inadmissível (inexistência de formulário nacional...)
Implicações
éticas da investigação
Convém considerar algumas situações que ameaçam
os princípios éticos da investigação. Inventar
um projecto e os seus resultados, modificar os dados de um estudo para
obter as conclusões desejadas, incluir um paciente num protocolo
de investigação apenas a troco de algum incentivo, publicar
projectos de investigação repetidos, aceitar figurar como
autor em trabalhos em que não participou ou em que a participação
foi mínima, são ainda situações correntes
que devem ser evitadas.
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Será que somos discretos?
Segredo profissional
Os comentários acerca dos pacientes que seguimos devem apenas ser
feitos em sessões clínicas ou em locais resguardados. O
conhecimento por outrem da história clínica não deverá
prejudicar o paciente ou fazer com que ele perca a confiança no
seu médico de família.
Interrupções
da consulta
Devemos evitar as várias interrupções que ocorrem
durante os períodos de consulta. Elas distorcem gravemente a pedra
angular da relação médico-paciente: a comunicação.
É nosso dever delinear estratégias para evitar as interrupções
da consulta. Sugestões: estabelecer um horário para interrupções;
pendurar uma bolsa na parte de fora da porta do gabinete de consulta onde
os recados vão sendo depositados; outras igualmente funcionais
e criativas.
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Somos sempre verdadeiros?
Eticamente
mentir nunca se justifica. No entanto, em medicina, usamos a mentira com
alguma frequência. Sem uma informação verdadeira é
impossível obter o consentimento informado e tomar decisões
firmes e participadas, seguindo o princípio da autonomia. Não
é fácil mas o paciente acredita na verdade das nossas actuações.
É isso que devemos exigir de nós próprios. Por exemplo,
para dar más notícias são necessários:
1. Sensibilidade
2. Respeito
3. Sinceridade
4. Amabilidade
5. Prudência
6. ... e Tempo!
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Ajudando a morrer.
Não nos sentimos preparados para assumir a responsabilidade de
ajudar a morrer. Ou preferimos pensar que não estamos, ou que não
é tarefa nossa. Mas o paciente é nosso até ao final.
É necessária uma legislação clara, mas não
é suficiente. Falar da morte talvez diminua a sensação
de que este tema é tabu. Uma atitude serena sobre a nossa própria
morte favorecerá a relação e a comunicação
com um paciente que esteja a precisar de ajuda para morrer.
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E
o paciente tem opinião?
Só romperemos o Segredo profissional em caso de prejuízo
para o próprio ou para terceiros sendo estas as situações
mais conflituosas. Situações há que não podem
ser omitidas e que nos obrigam a actuar. Raramente perguntamos a opinião
ao paciente sobre o que vamos fazer com ele. Nem sempre temos em conta:
1. Crenças
2. Costumes
3. Nível económico
4. Social
5. cultural
quando tentamos
modificar o seu estilo de vida; para adequar prescrições
e recomendações aquele paciente específico e não
a outro. Devemos tentar tratar da mesma forma os pacientes pouco cumpridores
e difíceis, dedicando-lhes tempo e atenção de acordo
com as suas necessidades.
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Ouvir
Ouvir é imprescindível. Uma atitude arrogante, paternalista
e altiva não ajudará qualquer das partes envolvidas nesta
relação tão «sui generis». Se não
conhecermos as expectativas, medos, crenças de saúde, conhecimentos
sobre a doença de que padecem, dificilmente poderemos satisfazer
as necessidades dos pacientes que nos procuram.
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Convite
à reflexão.
A ética não pretende ser um manual de comportamento, mas
é um saber necessário e conveniente. A prudência,
a maturidade de espírito, a honestidade, uma sólida formação
humanística e uma atitude crítica e pensada perante os nossos
actos são imprescindíveis para uma medicina eticamente válida.
Com certeza não é preciso lembrar que para além de
qualquer outro interesse está a saúde e o bem-estar dos
nossos pacientes, que nos escolheram, e ao serviço dos quais escolhemos
livremente estar.
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