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Parte IV – Problemas clínicos
4.10. Abordagem da mulher com problemas da mama e aparelho genital

339. Síndromas perimenstruais e endometriose
Maria da Luz Rodrigues Loureiro Amorim
Rosa Paiva da Cunha Pires

Documento de trabalho
última actualização em Dezembro 2000

Contacto para comentários e sugestões: Pisco, Ana Maria

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Síndrome pré-menstrual
A Síndrome pré-menstrual é caracterizada por um grupo de manifestações físicas e emocionais, na segunda metade do ciclo menstrual (fase lútea). A etiologia é desconhecida, mas crê-se que tem envolvimento genético, hormonal, neurotransmissor e cerebral.
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Diagnóstico
O diagnóstico é clínico. Deve ser feito o diagnóstico diferencial com a diabetes, disfunção tiroideia, hipoglicemia primária ou secundária dismenorreia, quando predominam os sintomas mais graves comuns a estas doenças. 
Os sintomas incluem: enxaqueca, alterações do apetite (bulimia), labilidade afectiva marcada, fadiga ou perda de energia, sonolência ou insónia, alterações gastrointestinais e electrolíticas manifestadas em conjunto ou isoladamente. Na génese das alterações depressivas está a rápida flutuação das hormonas gonadotróficas comuns à pré-menstruação, ao pós-parto e ao climatério, daí também ser a mulher mais susceptível à depressão que o homem. A Síndrome disfórica pré-menstrual é uma alteração do humor que ciclicamente ocorre na maior parte dos ciclos menstruais. A alteração do apetite parece estar relacionada com uma baixa actividade da serotonina, em que a mulher fica vulnerável ao consumo exagerado de alimentos.
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Terapêutica
Um diagnóstico específico para a Síndrome pré-menstrual não existe, por isso, o tratamento é baseado nos sintomas. É recomendada uma dieta pobre em sal, gorduras, cafeína e açúcar, exercício aeróbico regular e modificações do estilo de vida para diminuir o stress. Os diuréticos, contraceptivos orais e antidepressivos são usados com sucesso no alívio dos sintomas. Os antidepressivos que actuam nos receptores da serotonina são os mais usados. Foram efectuados estudos com tratamento diário na fase aguda com baixas doses com bons resultados. Em mulheres com sintomas severos aconselha-se a utilização continua de doses pequenas de clomipramina, recaptadores serotoninérgicos e/ou hormona gonadotrófica. Importante também a terapia cognitiva para ajudar a paciente a lidar com obstáculos frustrações e o desconforto da vida diária. As deficiências vitamínicas são difíceis de provar mas o suplemento nutricional pode melhorar os sintomas.
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Endometriose
A Endometriose é uma doença ginecológica comum que se mantém pouco conhecida. Questões fundamentais como etiologia, patofisiologia, diagnóstico, história natural e tratamento estão ainda por responder na investigação sobre Endometriose. É uma situação benigna, que ocorre em cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva e em cerca de 50% das mulheres com infertilidade. É definida como a presença de células glandulares e células do estroma fora da sua localização normal no útero. Normalmente afecta áreas da cavidade abdominopélvica incluindo os ovários, os fundos de saco, peritoneu pélvico, intestinos e diafragma.
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Etiologia
Discute-se que a Endometriose tem origem imunológica. As células endometriais, que são resistentes à apoptose e à selecção imunomediada adquirem a capacidade para utilizar os produtos de um sistema imune activado para estabelecer um foco ectópico de doença. A estimulação cíclica das células imunoinflamatórias leva a implantação endometrial ectópica, levando a um desarranjo progressivo que caracteriza a doença. A adenomiose é uma situação semelhante à Endometriose excepto na localização uma vez que as células glandulares endometriais, situam-se em profundidade no endométrio.
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Clínica
A dor pélvica é o sintoma mais frequente, dispareunia, dismenorreia e ascite são sintomas e sinais que se associam.
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Diagnóstico
A dor crónica pélvica é um dos problemas mais complexos em ginecologia. Para se atribuir a dor crónica à Endometriose e com base em estudos clínicos deve verificar-se que a dor é cíclica porque a Endometriose é uma doença hormonal. Deve ser confirmada por biopsia efectuada durante a laparoscopia ou laparotomia ou por biopsia directa das lesões cervicais ou vaginais.
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Terapêutica
Tratamento definitivo na mulher sintomática é a histerectomia. As alternativas menos radicais são: terapêutica hormonal com agonistas dos libertadores das hormonas gonadotróficas mas que tem como efeitos laterais a supressão ovárica com instabilidade vasomotora, secura vaginal, cefaleias. O mifepristone, antagonista potente da progesterona, utilizado em terapêutica antineoplásica é utilizado na dor grave com 55% de regressão das lesões em doses de 50-100 mg/dia. A contracepção hormonal é utilizada nas formas de hemorragia uterina disfuncional e no tratamento da dor associada à Endometriose pélvica. Há ainda autores que advogam a cirurgia conservadora, ou seja, exérese apenas das formas tecidulares de Endometriose com tratamento com agonistas de hormonas gonadotróficas.
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