Hipoacúsia
consiste na diminuição da acuidade auditiva, enquanto cofose corresponde
à surdez total.
O problema pode ser uni ou bilateral, sendo frequente que o indivíduo que
tem deficit auditivo de um lado tenha também alguma perda do lado oposto.
Tem uma prevalência de 37% nos indivíduos de mais de 60 anos na Holanda
e igual ou superior a 60% (dependendo dos estudos) no Reino Unido. Em
Portugal diversos estudos apontam para taxas entre os 10 e 20%, com uma
forte prevalência entre a população mais idosa.
A perda auditiva pode ser referida pelo próprio ou por terceiros.
Pode ser congénita ou adquirida, neste caso de instalação progressiva
ou súbita, podendo haver sinais e sintomas acompanhantes (Quadro I).
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Quadro
I
Sinais
e sintomas de hipoacúsia
|
Sinais
e sintomas |
atraso
do desenvolvimento (crianças) |
isolamento |
irritabilidade |
acufenos |
vertigens |
otalgia |
otorreia |
A
hipoacúsia pode ser de condução, sensorioneural ou a combinação de
ambas.
A surdez sensorioneural resulta de doenças da cóclea, do nervo auditivo
ou de lesões centrais. A surdez de condução resulta de alterações na
transmissão das ondas sonoras no trajecto até ao aparelho sensorial.
Habitualmente o doente procura a consulta referindo explicitamente o
deficit de acuidade auditiva. Quando se trata de hipoacúsia em crianças,
são habitualmente os pais ou os professores a referir o problema e a
pedir a reavaliação clínica.
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Etiologia
São múltiplas as causas de hipoacúsia. Podemos localizá-las ao nível
do ouvido externo, do ouvido médio, do ouvido interno e a nível central
(Quadro II).
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Quadro II
Causas
de hipoacúsia
|
Ouvido
externo |
Ouvido
médio |
Ouvido
interno |
Centrais |
Malformações
do pavilhão auricular |
Infecções
agudas ou crónicas |
Infecções |
Infecções |
Traumatismo |
Tumores |
Tóxicos |
Traumatismos |
Corpos
estranhos |
Hemorragia |
Traumatismos |
Vasculares |
Rolhão
de cerúmen |
Perfuração
timpânica |
Vasculares |
Tumores |
Descamação
excessiva |
Otosclerose |
Mistas |
|
Otite
externa |
|
Tumores |
|
Furúnculos |
|
|
|
Tumores |
|
|
|
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Avaliação
A avaliação inicial de um doente com hipoacúsia passa, em primeiro
lugar, por uma história clínica cuidadosa: instalação e evolução da
perda auditiva, tempo de duração, sintomas acompanhantes, antecedentes
clínicos, ingestão e contacto com tóxicos e / ou fármacos (Quadro
III).
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Quadro III
Fármacos
Ototóxicos
|
Aminoglicosidos |
Furosemida |
Acido
acetilsalicilico |
Nortriptilina |
Bleomicina |
Quinino |
Cloroquina |
Ampicilina |
Eritromicina |
Cloranfenicol
|
A observação
dos pavilhões auriculares, canais auditivos e membranas timpânicas, deve
ser seguida pela observação do nariz, nasofaringe e orofaringe.
Nas crianças pequenas o deficit auditivo deve ser diagnosticado
precocemente, isto é, antes dos seis meses. Após essa idade, se o
deficit não foi detectado e corrigido, a criança pode vir a ter
problemas de aquisição de competências verbais (ao nível da linguagem
e compreensão).
A criança sem problemas auditivos deve:
- entre as 4 e as 6 semanas, ter capacidade para virar a cabeça para o
lado onde se ouve o som;
- aos 3 meses, localizar sons na horizontal, ao nível do ouvido;
- entre os 4 e os 6 meses, ter capacidade para ouvir o som a uma distância
de 45 cm do ouvido, na horizontal;
- aos 7-8 meses, conseguir localizar sons abaixo e acima do ouvido, a uma
distância de 45 cm, na diagonal;
- aos 9 meses, ser capaz de ouvir som acima e abaixo do ouvido, a 90 cm de
distância;
- aos 12 meses, localizar sons acima da cabeça.
Aos 4 anos a pesquisa de deficit auditivo pode ser feita na consulta de saúde
infantil utilizando testes de voz ciciada com palavras standard.
No adulto,
a utilização deste tipo de teste no contexto da clínica geral tem pouco
interesse.
Para diferenciar surdez de percepção de surdez de condução aplicam-se
habitualmente os testes de Weber e Rinne, realizados com diapasão de 256
Hz (atenção, este diapasão é diferente do utilizado para a pesquisa de
sensibilidade vibratória!).
No teste de Weber coloca-se o diapasão a vibrar na linha média do crânio
e pergunta-se ao doente se ouve o som em ambos os ouvidos ou mais de um
lado que do outro. Com deficit de condução unilateral o som é melhor
ouvido pelo ouvido doente; com deficit de percepção unilateral o som é
melhor ouvido no ouvido sem patologia (Quadro IV).
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Quadro IV
Testes
de diferenciação dos tipos de surdez
|
|
Teste
de Weber |
Teste
de Rinne |
|
Ouvido
normal |
Ouvido
doente |
Via aérea |
Via óssea |
Surdez
sensorioneural ou de percepção |
+
|
-
|
superior
|
inferior
|
Surdez
de condução ou de transmissão |
-
|
+
|
inferior
|
superior
|
O teste de
Rinne compara a capacidade de ouvir som transmitido através de condução
aérea ou óssea. O cabo do diapasão a vibrar é colocado sobre a apófise
mastoideia, enquanto o doente tapa o ouvido contralateral. Quando o doente
refere que deixou de ouvir o som o diapasão é colocado ainda a vibrar
junto do ouvido, devendo o doente referir se ainda ouve ou não som.
Diz-se que o teste é Rinne positivo se a condução aérea persiste mais
tempo, e negativo quando a condução óssea persiste por mais tempo.
Quando a hipoacúsia é preferencialmente de condução o teste é Rinne
negativo, quando é de percepção é Rinne positivo.
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Terapêutica
Muitas das situações de hipoacúsia de instalação súbita e recente
podem ser tratadas no âmbito da consulta de Medicina Familiar.
A surdez de condução por obstrução do canal auditivo por rolhões de
cerúmen, por edema devido a otite externa aguda ou furúnculo e a otite média
aguda são situações que podem ser facilmente resolvidas no âmbito da
consulta.
Os outros problemas implicam habitualmente referenciação para ORL,
Neurologia, Pediatria ou Audiologia, podendo em alguns casos necessitar de
encaminhamento urgente (traumatismos, crianças muito pequenas, suspeita
de colesteatoma ou tumores).
Na surdez de condução, porque a amplificação é mais simples, as próteses
auditivas são mais eficazes. Na surdez de transmissão, pela perda de
audição das frequências altas, a utilização de próteses é, por
vezes, menos gratificante.
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Prevenção
A terapêutica correcta, em tempo oportuno e por período adequado, da
maior parte das infecções do ouvido externo e médio pode evitar a
hipoacúsia uni ou bilateral.
Nas terapêuticas prolongadas com fármacos potencialmente ototóxicos, os
valores séricos devem ser cuidadosa e repetidamente avaliados e, em
doentes predispostos ou com patologia prévia, se possível substituídos
por outros.
A hipoacúsia por excesso de ruído pode ser evitada com a utilização de
protectores auriculares adaptados a cada situação. A implementação do
seu uso, embora seja da área da Medicina do Trabalho, pode no entanto ser
incentivada, de forma oportunista, quando o utente com profissão de risco
para surdez profissional procura a consulta de Medicina Familiar por
qualquer outro motivo.
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