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Parte IV – Problemas clínicos
4.8. Abordagem do paciente com problemas musculo-esqueléticos

290. Outras algias do membro superior
Anabela Bitoque

Documento de trabalho
última actualização em Dezembro 2000

Contacto para comentários e sugestões: Nogueira, R;
Silva, Eugénia


Vários problemas dolorosos do membro superior podem originar incapacidade ao doente, pelo que um diagnóstico rápido pode permitir um alívio sintomático atempado e evitar a referenciação desnecessária.
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Dor no cotovelo
Dor na região externa do cotovelo, exacerbada pela palpação do epicôndilo e reproduzida pela extensão contrariada do cotovelo, com o antebraço em pronação e o punho em flexão palmar – Epicondilite («cotovelo do tenista»).

Dor na epitróclea, reproduzida pela extensão contrariada do cotovelo, com o antebraço em supinação e o punho em dorsiflexão – Epitrocleíte («cotovelo do golfista»).

Estas situações apresentam radiografias normais e o diagnóstico é clínico.
A terapêutica da epicondilite e da epitrocleíte tem como principais objectivos:
1. supressão da dor
2. prevenção de recorrências
Indica-se repouso, evitando a actividade dolorosa, gelo e se os sintomas persistem poderá optar-se pela toma de anti-inflamatórios não esteróides (AINE).
Nos casos refractários pode injectar-se a área de hiperestesia com 1 ml de lidocaína a 2% (xilocaína) e injectar 20 mg de dexametasona.
Nos casos sub-agudos e crónicos, pode recorrer-se à utilização de agentes físicos, ultra sons, exercício e massagem para fortalecimento muscular e recuperação funcional. Pode justificar-se a modificação de actividades laborais, ou desportivas, que constituam factores precipitantes. 

Dor na região posterior do cotovelo, que apresenta aumento do volume, translúcido à luz – Bursite olecraniana. 
As radiografias são normais e o diagnóstico é clínico.
A terapêutica da bursite olecraniana implica o uso de antibioterapia, sendo o Estafilococo aureus o agente etiológico mais frequente, seguido do Estreptococo. Usam-se anti-inflamatórios não esteróides (AINE) e aconselha-se a elevação do antebraço.

Dor e edema do cotovelo Periartrite Calcificante (Pseudogota)
O diagnóstico é radiológico, observando-se imagens radiopacas junto à articulação. A terapêutica consiste em anti-inflamatórios não esteróides (AINE).

Dor no cotovelo, abaixo da epitróclea e no antebraço, associada a parestesias nos IV e V dedos, secundária à compressão do nervo cubital - Síndrome do canal de Guyon. Pode aliviar-se apoiando o cotovelo numa almofada, mas exige referenciação cirúrgica quando há atrofia dos músculos interósseos.

Dor com carácter mecânico e deformação do cotovelo, em doente com antecedentes de fractura, ou luxações sugere Artrose do cotovelo.
O diagnóstico é radiológico. A terapêutica utiliza anti-inflamatórios não esteróides (AINE).

Dor no cotovelo, com edema e eritema de instalação súbita, associado a sintomas sistémicos levantam a suspeita de Artrite séptica.
Habitualmente tem origem hematogénea e é uma urgência reumatológica, que exige internamento para artrocentese, com exame bacteriológico directo e cultural do líquido sinovial e antibioterapia parentérica.
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Dor na mão e punho
Dor e deformação das articulações interfalângicas proximais – nódulos Bouchard e das articulações interfalângicas distais – nódulos de Heberden – Osteoartrose nodular dos dedos.
A radiografia revela estreitamento da entrelinha articular, esclerose e osteofitose exuberante das referidas articulações. Podem surgir erosões que conduzem a sub luxação. Podem associar-se divertículos de líquido sinovial – Quistos Mucosos
A terapêutica da osteoartrose nodular dos dedos utiliza anti-inflamatórios não esteróides (AINE).

Dor e deformação em adução fixa da articulação metacarpo-falângica do polegarRizartrose
A radiografia diagnostica esta patologia.
A terapêutica utiliza anti-inflamatórios não esteróides (AINE), imobilização temporária com talas e em casos graves artrodese, ou artroplastia.

Dor localizada na articulação trapézio-metacárpica do polegar, com diminuição da força de preensão e da destreza e crepitação à palpação – Artrose trapézio-metacárpica do polegar.
A radiografia revela diminuição da entrelinha articular, osteófitos e fragmentos livres na cavidade articular.
A terapêutica utiliza anti-inflamatórios não esteróides (AINE) e uma tala durante 4 a 6h por dia.

Dor ao nível da apófise estiloideia do rádio, provocada pela inflamação dos tendões dos extensores da mão e do punho, agravada pela extensão e abdução do polegar -Tenossinovite de De Quervain.
A terapêutica consiste na utilização de uma tala para imobilização temporária, durante cerca de duas semanas, suportando o punho e o primeiro dedo, em ligeira dorsiflexão e desvio radial e na infiltração com 1 a 2 ml de xilocaína e 0,5 a 1 ml de dexametasona no primeiro compartimento dos tendões extensores da mão e do punho. Podem associar-se anti-inflamatórios não esteróides (AINE) e em casos resistentes pode referenciar-se para terapêutica cirúrgica.

Deformação em flexão dum dedo, por espessamento nodular do tendão flexor dum dedo (tenossinovite) que é palpável, ao nível das articulações metacarpo-falângicas, na palma da mão, que impede o deslizamento sob a bainha do tendão, pelo que ocorre um estalido do dedo e o bloqueio da extensão da interfalângica proximal - Dedo em Gatilho.
A terapêutica consiste na utilização duma tala, que imobiliza o dedo em extensão durante um semana e infiltração peritendinosa com corticosteróides, ou na intervenção cirúrgica.

Dor e parestesia da região palmar e dos I, II, III dedos da mão, irradiada ao antebraço, resultante da compressão do nervo mediano no canal cárpico – Síndrome do Canal Cárpico.
A terapêutica consiste no controlo das doenças sistémicas subjacentes e no uso de talas para repouso nocturno, evitando a hiperextensão ou hiperflexão do punho, mais frequente durante o sono. Pode fazer-se infiltração com 1 a 2 ml de xilocaína e 0,5 a 1 ml de dexametasona no canal cárpico, duas ou três vezes, com várias semanas de intervalo. Se os sintomas persistem mais de três meses, ou se existe atrofia da eminência hipotenar, ou quando o electromiograma mostra compromisso sensorial e motor grave, há indicação cirúrgica para recessão da aponevrose.

Inflamação dolorosa dos tendões, ou articulações do punho, ou da mão, que pode associar-se a deposição de cristais de hidroxiapatite de cálcio – Tendinite Calcificante.
A terapêutica usa anti-inflamatórios não esteróides (AINE) e uma tala, mas nos casos resistentes mais de duas semanas, podem utilizar-se corticosteróides injectáveis.

Tumefacções nodulares da mão ou do punho, compressíveis, de volume variável, recorrentes, por vezes dolorosos, ou inestéticos, que correspondem a divertículos da sinovial da cápsula articular do punho – Quistos sinoviais.
A terapêutica consiste na aspiração com uma agulha de grande calibre, mas as recorrências são frequentes, pelo que não se justifica terapêutica, na maior parte dos casos.

Dor e rigidez matinal articular e peri-articular, durante pelo menos uma hora, edema de três ou mais articulações: interfalângicas proximais, metacarpo-falângicas, ou articulações do punho, persistentes durante pelo menos seis semanas, são critérios de suspeição de Artrite Reumatóide.
Com o evoluir da doença as deformações das mãos e punhos são características – Mão reumatóide.
dedos em pescoço de cisne – por:
flexão das metacarpo-falângicas
hiperextensão das interfalângicas proximais
flexão das interfalângicas distais

dedos em botoeira – por:
flexão irredutível das interfalângicas proximais
hiperextensão das interfalângicas distais

mão em rajada de vento – por:
desvio cubital dos dedos

mão em dorso de camelo – por:
sub-luxação das articulações metacarpo-falângicas e da cabeça do cúbito, com tendência para a flexão palmar, por vezes associada a tenossinovites, ou a roturas dos tendões extensores dos dedos.

Estas lesões típicas, mas tardias na evolução da artrite reumatóide, podem ser evitadas, através dum diagnóstico precoce e duma terapêutica adequada. (Ver texto 298)

Dor e infecção em redor das unhas Paroníquias.
O diagnóstico é clínico. Tratam-se com antibioterapia e banhos mornos.

Dor, eritema e edema da polpa da extremidade digitalPulpite.
A terapêutica exige referência cirúrgica precoce, para incisão, drenagem e antibioterapia de forma a evitar o compromisso arterial e subsequente necrose.
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Bibliografia

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