índice parcial
Parte II – Promoção e protecção da saúde nas diferentes fases de vida
2.3. Gravidez parto e puerpério
51. Aborto espontâneo
Rosa Paiva da Cunha Pires
Maria da Luz R. Loureiro Amorim
Documento de trabalho
última actualização em Dezembro 2000

Contacto para comentários e sugestões: Nogueira, Rui


É aceite na generalidade que 15-20% das gravidezes resultam em aborto espontâneo. Muitos são os factores desencadeantes, nomeadamente a idade materna – ocorre em 12% das grávidas com menos de 20 anos e em 26% das que têm mais de 40 anos. Aborto espontâneo é uma situação em que há expulsão prematura e natural do útero do produto da concepção (antes das 22 semanas de gestação).
Não há consenso acerca do número de abortos espontâneos para diagnosticar o aborto recorrente que no entanto se define como três abortos espontâneos antes das 20 semanas de gestação ou a expulsão de fetos de peso inferior a 500 g Uma mulher com dois ou mais abortos deve ser encaminhada para estudo.
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Quadro I

Etiologia do aborto espontâneo:

1. Anomalias genéticas
a. Anomalias cromossómicas – As trissomias englobam mais de 50% destas anomalias; as mais comuns são por ordem decrescente de incidência as 13, 16, 18, 21 e 22. A anomalia simples mais frequente é o 45X correspondente a 25% das anomalias cromossómicas.
b. Anomalias cromossómicas parentais – Estão na origem de 5% dos abortamentos de repetição.
2. Anomalias anatómicas
a. Problemas congénitos – Anomalias uterinas (Útero unicórnio, bicórneo, didélfico, entre outras). Estudos apontam para anomalias uterinas entre 15 – 25% das mulheres.
3. Anomalias anatómicas adquiridas – Fibrose, sinéquias intra-uterinas, incompetência cervical.
4. Anomalias endócrinas
a. Síndrome antifosfolipídico (trombocitopenia, tromboses venosas e arteriais recorrentes). A etiologia é desconhecida e a sua presença leva à implantação embrionária deficiente com consequente trombose dos vasos placentários.
b. Obesidade – O excesso de peso leva a alterações menstruais, infertilidade,
c. diabetes mellitus, mau desenvolvimento fetal e aborto.
5. Anomalias imunológicas
a. Alteração ao nível do ovário e de hipófise que interferem com a adaptação fisiológica do sistema imune na gravidez, quando a mulher se encontra exposta a metais pesado, químicos foto activos, solventes ácidos e gases tóxicos.
b. Lúpus eritematoso disseminado e sua actividade – Se a mulher se encontra numa fase quiescente de doença consegue levar a gravidez até ao fim, mas se estiver em fase activa tem uma alta probabilidade de aborto espontâneo.
6. Anomalias infecciosas – os agentes infecciosos mais frequentes na génese do aborto espontâneo são: Vírus, Ureaplasma uraliticum, Mycoplasma hominis, listeria, e Chlamydia.
7. Ambientais – Entre outras causas ambientais destaca-se: o tabaco, álcool, radiações, gases anestésicos, metais pesados e algumas preparações dermatológicas especialmente as que contêm vitamina A.
8. Causa desconhecidas – Em 50 a 60% das mulheres com abortamento espontâneo não foi identificada a sua etiologia.

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Diagnóstico
Os procedimentos diagnósticos na abordagem do aborto espontâneo iniciam-se por uma detalhada história pessoal, familiar e ocupacional. Os exames auxiliares de diagnóstico incluem culturas para Chlamydia, gonorreia, Mycoplasma, e Ureaplasma, testes sanguíneos (estudo da função tiroideia, metabolismo glicídico, anticorpos antifosfolipídicos, anticorpos anticardiolipina, anticoagulante lúpico, testes de coagulação sanguínea, contagem plaquetária) estudos citogenéticos, histerosalpingografia, biopsia endometrial, ultrassonografia, entre outros.
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Abordagem terapêutica
Foi mencionado que em 50% das mulheres a causa do abortamento é desconhecida, nestas as medidas de suporte são as mais adequadas. Nas outras situações a terapêutica é sobretudo pré-concepcional:
As causas anatómicas incluem a maior parte das vezes intervenção cirúrgica. As outras situações incluem por exemplo o tratamento com aspirina heparina e antiácidos nos defeitos de coagulação e síndrome antifosfolipídico redução de peso na obesidade, controle da glicemia na diabetes, tratamento antibiótico no caso das infecções, evicção tabágica e da ingestão de bebidas alcoólicas, afastamento temporário nas profissões de risco.
No pós aborto incompleto e espontâneo promover o tratamento médico (antibiótico e transfusional) em detrimento do tratamento cirúrgico para evitar sinéquias, perfurações e infecções uterinas.
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Bibliografia
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