É aceite na generalidade que 15-20% das gravidezes resultam em aborto
espontâneo. Muitos são os factores desencadeantes, nomeadamente a
idade materna – ocorre em 12% das grávidas com menos de 20 anos e em
26% das que têm mais de 40 anos. Aborto espontâneo é uma situação
em que há expulsão prematura e natural do útero do produto da concepção
(antes das 22 semanas de gestação).
Não há consenso acerca do número de abortos espontâneos para
diagnosticar o aborto recorrente que no entanto se define como três
abortos espontâneos antes das 20 semanas de gestação ou a expulsão
de fetos de peso inferior a 500 g Uma mulher com dois ou mais abortos
deve ser encaminhada para estudo.
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Quadro I
Etiologia do aborto espontâneo:
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1. Anomalias genéticas
a. Anomalias cromossómicas – As trissomias englobam mais de 50%
destas anomalias; as mais comuns são por ordem decrescente de incidência
as 13, 16, 18, 21 e 22. A anomalia simples mais frequente é o 45X
correspondente a 25% das anomalias cromossómicas.
b. Anomalias cromossómicas parentais – Estão na origem de 5% dos
abortamentos de repetição.
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2. Anomalias anatómicas
a. Problemas congénitos – Anomalias uterinas (Útero unicórnio, bicórneo,
didélfico, entre outras). Estudos apontam para anomalias uterinas entre
15 – 25% das mulheres.
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3. Anomalias anatómicas adquiridas – Fibrose, sinéquias
intra-uterinas, incompetência cervical.
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4. Anomalias endócrinas
a. Síndrome antifosfolipídico (trombocitopenia, tromboses venosas e
arteriais recorrentes). A etiologia é desconhecida e a sua presença
leva à implantação embrionária deficiente com consequente trombose
dos vasos placentários.
b. Obesidade – O excesso de peso leva a alterações menstruais,
infertilidade,
c. diabetes mellitus, mau desenvolvimento fetal e aborto.
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5. Anomalias imunológicas
a. Alteração ao nível do ovário e de hipófise que interferem com a
adaptação fisiológica do sistema imune na gravidez, quando a mulher
se encontra exposta a metais pesado, químicos foto activos, solventes
ácidos e gases tóxicos.
b. Lúpus eritematoso disseminado e sua actividade – Se a mulher se
encontra numa fase quiescente de doença consegue levar a gravidez até
ao fim, mas se estiver em fase activa tem uma alta probabilidade de
aborto espontâneo.
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6. Anomalias infecciosas – os agentes infecciosos mais frequentes na génese
do aborto espontâneo são: Vírus, Ureaplasma uraliticum, Mycoplasma
hominis, listeria, e Chlamydia.
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7. Ambientais – Entre outras causas ambientais destaca-se: o tabaco,
álcool, radiações, gases anestésicos, metais pesados e algumas
preparações dermatológicas especialmente as que contêm vitamina A.
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8. Causa desconhecidas – Em 50 a 60% das mulheres com abortamento
espontâneo não foi identificada a sua etiologia.
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Diagnóstico
Os procedimentos diagnósticos na abordagem do aborto espontâneo
iniciam-se por uma detalhada história pessoal, familiar e ocupacional.
Os exames auxiliares de diagnóstico incluem culturas para Chlamydia,
gonorreia, Mycoplasma, e Ureaplasma, testes sanguíneos (estudo da função
tiroideia, metabolismo glicídico, anticorpos antifosfolipídicos,
anticorpos anticardiolipina, anticoagulante lúpico, testes de coagulação
sanguínea, contagem plaquetária) estudos citogenéticos,
histerosalpingografia, biopsia endometrial, ultrassonografia, entre
outros.
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Abordagem terapêutica
Foi mencionado que em 50% das mulheres a causa do abortamento é
desconhecida, nestas as medidas de suporte são as mais adequadas. Nas
outras situações a terapêutica é sobretudo pré-concepcional:
As causas anatómicas incluem a maior parte das vezes intervenção cirúrgica.
As outras situações incluem por exemplo o tratamento com aspirina
heparina e antiácidos nos defeitos de coagulação e síndrome
antifosfolipídico redução de peso na obesidade, controle da glicemia
na diabetes, tratamento antibiótico no caso das infecções, evicção
tabágica e da ingestão de bebidas alcoólicas, afastamento temporário
nas profissões de risco.
No pós aborto incompleto e espontâneo promover o tratamento médico
(antibiótico e transfusional) em detrimento do tratamento cirúrgico
para evitar sinéquias, perfurações e infecções uterinas.
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