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Parte II – Promoção e protecção da saúde nas diferentes fases de vida
2.7. Saúde do adulto
83. Actividade física e desporto no adulto
Luís Francisco Afonso Santos Nunes
Documento de trabalho
última actualização em Dezembro 2000

Contacto para comentários e sugestões: Jordão, J Guilherme


A importância da actividade física regular e moderada em adultos saudáveis é hoje reconhecida.
Procura-se, nos vários estudos sobre este tema, responder a algumas das questões que mais comummente se nos deparam:

-Qual a quantidade de exercício?
-Quantas vezes?
-Quando iniciar a sua prática?

O adulto com o seu aparelho locomotor e os outros órgãos bem desenvolvidos está apetrechado para tolerar a actividade física.
É nestas idades (particularmente no adulto jovem) que o indivíduo se sujeita a esforços violentos, a cargas de treino não aconselhadas, mesmo a orientações de treino erradas. De um modo geral, o adulto jovem saudável tem uma reserva adequada em termos de tolerância ao esforço.
Não devemos esquecer, contudo, que por vezes esses exageros têm consequências no futuro, contribuindo para lesões crónicas, musculares, articulares, tendinosas e até para artroses.Com o alargamento da duração das carreiras desportivas têm surgido certas lesões típicas desse facto, como é o caso das tendinites.
O tendão sujeito a esforços embora moderados mas repetidos milhentas vezes ao longo de décadas, fragiliza-se e dá origem ás tendinites.
Contribuem também para as lesões crónicas, a infinidade de micro-traumatismos a que o praticante se expõe durante a sua carreira.
Depara-se-nos um outro tipo de problemas com os adultos de meia idade. Neste período da vida, antes da prescrição da actividade física, o praticante deve ser sujeito a um prévio exame médico e a um electrocardiograma de esforço.
1
A prescrição da actividade física
Quando um médico prescreve a actividade física a uma pessoa, deve fazer-lhe um exame médico e, caso seja necessário, pedir-lhe exames complementares de diagnóstico.
Este princípio é aplicável quer nos indivíduos que vão iniciar pela primeira vez a sua actividade, quer naqueles que já são antigos praticantes.
Parece-nos pertinente pôr esta questão: será necessário submeter todos os adultos saudáveis, os já praticantes e os que desejam começar a actividade física, a um teste de tolerância ao exercício?.
Pensamos que não será obrigatório em todos os casos. Os adultos jovens saudáveis, sem factores de risco conhecidos, que querem iniciar o exercício, devem fazer um exame médico prévio e eventualmente um electrocardiograma. Nos outros já praticantes, está indicado, pelo menos, um exame médico anual.
Os adultos em aparente saúde com 45 ou mais anos, pelo contrário, devem ser sujeitos a um electrocardiograma de esforço, antes de iniciarem um programa de actividade física, como recomenda o «American College of Sports Medicine».
Mesmo aqueles que já têm o hábito de se exercitarem fisicamente com regularidade devem, ao atingir os 45 anos, fazer também o teste de tolerância ao exercício, com o objectivo de avaliar a sua aptidão cardiovascular.
Sobretudo nestas idades o teste pode veicular informação sobre uma eventual doença coronária silenciosa. A ateroesclerose coronária numa fase de evolução ainda precoce é em muitos casos assintomática. Calcula-se que em cerca de 1/4 das mortes por cardiopatia isquémica, a morte súbita é precisamente o primeiro sintoma.
Convém salientar que embora a actividade física seja, como referimos, fundamental, ela por si só não invalida os efeitos negativos dos factores de risco que eventualmente existam e que deverão, tanto quanto possível, ser corrigidos.
A prescrição ajuda a pessoa a sentir-se segura de que está a proceder correctamente, contribui para a diminuição do risco de eventuais lesões e acidentes cardiovasculares, permitindo ficar com uma perspectiva sobre o programa físico que é necessário executar para se conseguirem os benefícios procurados. A prescrição deve, pois, ser agradável e prática para o indivíduo.
2
Tipo de actividade
O tipo de actividade que o adulto pode seguir, depende da sua motivação, da prática anterior e do seu estado de saúde.
Pode ir desde a marcha, o simples andar a pé nas pessoas não motivadas para o desporto, aos exercícios recreativos e à competição. Conseguem fazer, assim, qualquer tipo de actividade.
Sabemos, todavia, como a maior parte dos adultos jovens não está motivada para a actividade física; isso requer um certo trabalho pedagógico aproveitando-se os argumentos como o do movimento ser natural e biologicamente necessário, faz a prevenção das doenças crónico-degenerativas, podendo utilizar-se também nos homens mais narcisistas e nas mulheres preocupadas com o seu aspecto físico sendo a actividade física essencial para o emagrecimento e a aquisição de um corpo esbelto e robusto. Devem aproveitar-se, assim, as diferentes motivações das pessoas.
A marcha é uma actividade importante para muitos adultos e deve ser incentivada, particularmente nos casos daqueles que estão justamente a iniciar o exercício.
O andar pode ser feito em qualquer espaço, como as ruas, as estradas e não requer um equipamento especial.
O efeito benéfico da marcha faz-se sentir, se for realizada durante um certo tempo e com alguma intensidade.
Sugerimos, como exemplo, este programa de marcha que pode ser seguido por qualquer adulto saudável.

Semanas Distância Duração Frequência semanal
1 1 km 20 min. 5
2 1 km 19 min. 5
3 1,5 km 24 min. 5
4 1,5 km 23 min. 5
5 2 km 35 min. 5
6 2 km 33 min. 5
7 2,5 km 38 min. 5
8 2,5 km 37 min. 5
9 3 km 45 min. 5
10 3 km 45 min. 5

3
Frequência e duração
No adulto jovem saudável a frequência pode oscilar entre os 3 e os 6 treinos semanais. A duração é variável, dependendo da frequência, da intensidade e do nível competitivo, oscilando entre 1 e 2 horas por sessão.
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Intensidade
A intensidade pode mudar em função da quantidade de treino semanal e do objectivo de treino(manutenção, competição).
Para determinar a intensidade usam-se alguns métodos.

-Determinação da frequência cardíaca máxima.
-Métodos subjectivos de avaliação da intensidade. Escala de Borg.
-Determinação da capacidade funcional máxima.

A frequência cardíaca máxima (F.C.) pode obter-se quer por uma prova ergométrica máxima, aplicada em estudos rigorosos, ou de uma maneira menos precisa, mas com a vantagem de ser mais fácil a sua determinação, através da fórmula:

F.C.=220-idade (anos)+ ou - 20

De um modo geral, os adultos jovens saudáveis quando iniciam a sua actividade física devem fazê-lo com uma intensidade de 40 a 60% da F.C. máxima. A progressão é lenta, passando para 60-70% aos 3 meses, 80% aos 4-5 meses e entre 90-100% a partir dos 6 meses de prática regular.
De entre os métodos subjectivos de avaliação da intensidade o mais seguido é a escala de Borg. Estes critérios subjectivos são sobretudo auto-avaliações feitas pelo próprio praticante, obre o estado de fadiga a que está sujeito.
Assim, a pessoa deve:

-Ser capaz de conversar durante a actividade.
-Ter a sensação permanente de poder prolongar o exercício sem esforço.

A escala de Borg é uma das mais utilizadas. É uma escala subjectiva de auto-avaliação da intensidade que pode ser aplicada durante a realização do esforço.
É constituída por um conjunto de pontos e sintomas subjectivos; os pontos variam de 6 a 20 e os sintomas subjectivos de «muito, muito ligeiro» a «muito, muito intenso».
Como escala subjectiva que é, a pontuação não pode ser naturalmente precisa e exacta, apontando-se mais para áreas. Há autores que no sentido de objectivar mais esta classificação, sugerem a multiplicação do número escolhido por 10, devendo o resultado ser próximo da frequência cardíaca no momento.

Pontuação  Sintomas subjectivos
6
7
muito, muito ligeiro
8
9
10
muito ligeiro
11
12
relativamente ligeiro
13
14
algo intenso
15
16
intenso
17
18 
muito intenso
19
20
muito, muito intenso

Intensidade:critérios subjectivos-escala de Borg

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Capacidade funcional máxima
Neste método a unidade de medida é o MET.
O MET expressa a intensidade do metabolismo em repouso num dado momento e pode ser representado por multiplos do metabolismo em repouso. 1 MET corresponde ao metabolismo em repouso; 2 MET ao dobro do metabolismo em repouso e assim por diante.

1 MET-----------» 3,5ml/kg/min de VO 2 

Nos adultos jovens e saudáveis a intensidade do esforço pode variar entre os 40-50% da capacidade funcional máxima (3-4 MET), no início da prática desportiva, e os 90-100% (7-10 MET ou mais) nos já praticantes regulares, geralmente de nível competitivo.
Existem tabelas onde estão expressas em MET as intensidades das actividades desportivas mais correntes (2, 17, 20)

MET Actividade desportiva
2-3 -marcha em plano 3-4 km/h
-bicicleta em plano 8 km/h
-golf
3-4 -marcha de 5 km/h
-bicicleta em plano 10 km/h
-passeio a cavalo
-voleibol
4-5 -marcha 6 km/h
-bicicleta em plano 13 km/h 
-ténis
-ginástica de manutenção
5-6 -marcha 7 km/h 
-bicicleta em plano 16 km/h
-treino de natação
6-7 -marcha 8 km/h
-bicicleta em plano 18 km/h
-ténis 
-badminton(competição)
-dança desportiva
-ski de fundo
10 e mais -ciclismo( competição )
-ski de fundo (competição)
-squash (competição)
-corrida (competição)

Intensidades das actividades desportivas em MET

Os adultos na meia-idade são um grupo que pelas suas características tratamos à parte. A partir dos quarenta anos é necessário ser-se cauteloso. Deve ser feita uma avaliação cuidadosa dos aparelhos locomotor e cardiovascular.
Encontram-se muitas vezes nestas idades antigos praticantes de desporto, mesmo de competição, que por volta dos trinta anos abandonaram totalmente a actividade física. Mais tarde, cerca dos quarenta anos querem recomeçar, só que não o fazem lenta e gradualmente: pretendem atingir rapidamente a forma física dos vinte anos.
Esta é uma situação potencialmente perigosa, pois muitas coisas mudaram entre os vinte e os quarenta anos. O seu aparelho locomotor está menos resistente e começam a surgir as alterações cardiovasculares, de que a cardiopatia isquémica é uma das principais.
O tipo de actividade, como nos outros casos, deve respeitar, sempre que possível, a motivação dos praticantes.
Frequência, duração e intensidade: deve ser aconselhada a estas pessoas uma actividade física ligeira a moderada, progressiva, predominantemente aeróbica, como o andar a pé diariamente cerca de uma hora (ver programa de marcha exposto anteriormente), corrida lenta (footing), a ginástica de manutenção, a natação, o ciclo-turismo e o ténis.
Sublinhamos, todavia, que nesta idade não deve já entrar-se em competição, nem insistir-se demasiado nos exercícios isométricos (de força).
6
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