índice parcial
Parte II – Promoção e protecção da saúde nas diferentes fases de vida
2.7. Saúde do adulto
85. Adaptação ao declínio de capacidades
Gabriela Costa
Cândida Lopes
Francisco Cruz
Gaspar Ferreira
Documento de trabalho
última actualização em Dezembro 2000

Contacto para comentários e sugestões: Jordão, J Guilherme

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Introdução

‘As emoções da alma envolvem grandes alterações do corpo (…) e então o médico deve manter debaixo de atenção os movimentos da alma, estudá-los constantemente, e tentar mantê-los em equilíbrio tanto na saúde como na doença; nenhum outra tarefa deve preceder esta’.
Moisés Maimonides

A abordagem às capacidades de um indivíduo durante a idade adulta depende do conceito de desenvolvimento humano. Em 1965, Rene Spitz definiu-o como a «emergência de formas, de funções e de comportamentos que são o resultado das trocas entre o organismo, por um lado, e o ambiente externo e interno, por outro».
J. Pikunas define desenvolvimento como uma «função da estimulação genética e ambiental que ocorre dentro de um lapso de tempo, produzindo mudanças tanto no organismo como no comportamento».
As capacidades da idade adulta não são passíveis de uma abordagem etária estacionária. Devemos considerar que elas evoluem e que o declínio de uma contem em si o potencial de eclosão de outra, mais apropriada ao momento actual do indivíduo.
Não existe um «declínio», existem declínios de capacidades. Não nos confrontamos com uma entidade única que seja aplicável universalmente ao curso do tempo ou a todos os indivíduos. Como o sugeriu Almerindo Lessa, esta não é uma entidade nosológica: «não há nenhuma doença chamada envelhecimento». Entenderemos melhor um conjunto de eventos multiformes que, ao longo das fases da vida, podem gerar proveito evolutivo ou prejuízo inevitável.
Richard Schulz e Jutta Heckhausen propõem uma teoria para a compreensão dos fenómenos do desenvolvimento da infância à velhice. A existência humana implica uma história passada e um futuro potencial que caracterizam um indivíduo, em dado momento. O curso de vida é constantemente marcado por forças biológicas e ambientais. Porque a frustração e os declínios são inevitáveis, é essencial ter meios para lidar com eles sem arriscar o desenvolvimento futuro e sem minar ganhos já atingidos. São necessários variados mecanismos de compensação para proteger o indivíduo da frustração e do declínio. Eles promovem a manutenção, a recuperação e o crescimento do funcionamento individual.
Neste capítulo o declínio de capacidades na idade de adulta será apresentado como um problema da prática clínica. Serão descritas as suas diferentes formas de apresentação. Sob uma perspectiva biopsicossocial, far-se-á a sistematização de possíveis perturbações de funções e de sistemas e das suas implicações clínicas. Abordar-se-ão os potenciais factores sociais e ambientais para a emergência do declínio de capacidades. Será feita uma descrição dos factores que contribuem para o aumento da morbimortalidade na idade adulta.
No processo de intervenção impor-se-á a necessidade de esclarecimento dos preconceitos do paciente e a descrição das alterações próprias da idade. O acompanhamento e atenção sobre os factores de risco serão valorizados. Através de um modelo de negociação terapêutica é proposto um programa de estratégias que o paciente dirigirá ao meio e a si mesmo.
Serão abordados os principais erros e limitações relacionados ao tema.
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O problema na prática clínica
Considerando como idade adulta a que é compreendida entre os 19 e os 64 anos, em 1997 esta representava 62% da população portuguesa, mais de 6 milhões de indivíduos.
Partindo do princípio que o maior declínio de capacidades neste grupo etário se fará sentir a partir da meia idade (40 anos), este problema continuará a ter uma visibilidade notável no dia a dia da Medicina Geral e Familiar, pela percentagem (cerca de 30%) que este grupo representa na população portuguesa.
Em Portugal, a falta de estudos de investigação nesta área impede-nos de conhecer a real magnitude do problema. Não são conhecidos os aspectos específicos socioculturais e laborais que o envolvem e influenciam, assim como o seu peso nos diferentes subgrupos da idade adulta, e se existe ou não diferença de apresentação nos dois sexos.
As múltiplas capacidades de um indivíduo implicam que a confrontação do médico com fenómenos que possam estar associados aos seus declínios não seja linear nem de imediata relação causa-efeito. O contacto do paciente com o médico pode constituir-se ou não num pedido de ajuda, directamente expresso ou apresentado de forma vaga ou mascarada. O problema pode, também, ser apresentado através de um familiar ou pessoa significante ou, simplesmente, não ser apresentado. Cabe ao médico abrir o diálogo e, assim, ajudar o paciente na explicitação do problema. O objectivo é a compreensão do conteúdo do pedido que deve ser partilhado com o médico. Revelar-se-ão algumas dificuldades, por vezes, com reacções de defesa. Os mecanismos de compensação, eficazes ou patológicos, estarão presentes desde o primeiro momento.
As perturbações ou declínios sentidos por uma pessoa derivam de causas psicológicas, biológicas ou sociais. 
Segundo Cohler, B. J. e Galatzer-Levy, R. M. (8) as pessoas entre os 45 e os 55 anos podem experimentar desarmonia, diminuição da auto-estima, preocupações aumentadas com a idade, ansiedade e depressão. As transformações da idade e a consciência da finitude da vida serão eventualmente acompanhadas de angústia. Os rearranjos necessários à compreensão da história passada, de modo a manter uma coerência pessoal, tornam-se mais importantes e requerem tempo e energia.
Algumas das principais modificações físicas do envelhecimento podem originar manifestações antes dos 65 anos de idade. No quadro apresentam-se as principais alterações do envelhecimento e suas implicações clínicas (9).

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Quadro I

Alterações biológicas associadas com a idade

Sistemas e funções Alterações  Implicações clínicas
Cardiovascular do tamanho do coração
do nº de miócitos
da velocidade de condução
da deposição de lípidos nas artérias
da função cardíaca
do risco de isquemia cardíaca e cerebral
Pulmonar  da capacidade vital
do VEMS
da PO2
alteração da ventilação-perfusão
Nervoso central e periférico perda e dano de neurónios
de reflexos e do tónus muscular
atrofia cerebral
do risco de quedas
Digestivo da função hepática
do fluxo sanguíneo para o intestino e fígado
atrofia da mucosa gástrica
do metabolismo hepático
alterações da digestão
da absorção de vitamina D
Músculo-esquelético da densidade óssea
da massa muscular
Osteoporose
do risco de fracturas
Imunitário da actividade das células T da imunidade
da resposta às infecções
Génito-urinário da taxa de filtração glomerular
atrofia da mucosa vaginal
da capacidade vesical
do volume da próstata
da excreção renal
dispareunia e vaginite
incontinência urinária
retenção urinária
Endócrino de estrogénios
de androgénios
da testosterona
da libido
da fertilidade
da função eréctil
Visão do tamanho da pupila
modificações do cristalino
alteração do metabolismo da retina
da adaptação à luminosidade
da capacidade de focar objectos
presbiopia
Audição da percepção de altas-frequências presbiacusia
Tacto, paladar e olfacto atrofia das mucosas
perda de receptores e alterações nas vias neuronais
de acuidade e de sensibilidade específicas
Composição corporal e redistribuição da gordura
da água corporal
da biodisponibilidade de fármacos lipossolúveis
da susceptibilidade à desidratação
Sono das horas de sono
das horas da fase REM
da insónia


Através de entrevista telefónica, 2022 americanos com mais de 18 anos de idade classificaram, por ordem de importância, doze eventos de vida passíveis de gerar problemas ao longo da idade adulta e relacionados com: dinheiro, doença, amizade, casamento, stress, sentido de vida, sexo, atracção física, emprego, crianças, lazer e manutenção física. Para o adulto entre os 40 e 50 anos, os mais importantes foram as perturbações no casamento, o aumento do stress e a falta de tempo para o lazer. Acima dos 60 anos, a doença foi classificada como o evento mais importante.
É de primordial importância que o médico não desvalorize a hipótese de estar perante um caso de doença frequente neste grupo etário, sobretudo depois dos 40 anos. Um estudo sobre 1360 indivíduos, entre os 24 e os 81 anos de idade, classificou a morbilidade activa e total de acordo com o ICPC, através de testes neurocognitivos para a memória verbal, a velocidade sensorio-motora e a flexibilidade cognitiva. Os portadores de diabetes mellitus revelaram declínio para todos os testes; os casos de bronquite crónica estavam associados a diminuição da velocidade de desempenho (performance); a presbiacusia associava-se a perturbações da memória; a morbilidade cardiovascular simples ou agregada (incluindo HTA) não mostrou relação com os testes aplicados.
O desenvolvimento do homem é biopsicossocialmente diferente do da mulher. Daí que na idade adulta divirjam as dificuldades e atitudes de resposta. Esse fenómeno é notável até na procura de cuidados médicos, retardando a oportunidade de serem, no homem, trabalhadas as áreas da prevenção e detecção de problemas.
A partir da meia-idade os homens começam a manifestar menos interesse pela sua actividade profissional, tornando-se mais «passivos» e «tornando» à família, com maior envolvimento doméstico. As mulheres nesta idade, pelo contrário, tornam-se mais assertivas, menos interessadas em «carregar» as preocupações domésticas e familiares, aumentando o seu interesse por actividades comunitárias e sociais.
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Avaliação diagnóstica
Para recolocar o sujeito humano no centro – o ser humano que sofre, que se aflige, que luta – é necessário aprofundar a história clínica até que ela se transforme numa narrativa ou conto.
Oliver Sacks

Não é suficiente dominar bem as teorias do desenvolvimento humano e as modificações características da idade consideradas normais ao longo da vida. É necessário que o médico conheça bem o indivíduo, o seu passado, as suas aptidões e conhecimentos, a sua envolvente familiar, social e laboral e os seus valores. O objectivo é perceber até que ponto as alterações se devem à idade e são influenciadas por estes factores.
O sucesso da vida, a manutenção da saúde e a diminuição do declínio são assegurados desde a infância, com a diversidade de oportunidades que os pais dão aos filhos, possibilitando o desenvolvimento das suas potencialidades. Essa diversidade, conjugada com a selectividade das escolhas (enquanto jovens adultos), associada ao desenvolvimento da capacidade de conviver com as frustrações é fundamental desde a infância até à velhice.
É a falência dos mecanismos de compensação que leva o indivíduo a manifestar sofrimento ou desadaptação na sua relação consigo ou com os outros. De outra forma, pode-se dizer que a capacidade de ajustamento a fenómenos de hoje depende de uma maturidade desenvolvida ao longo do curso de vida. A luta contra a frustração e o declínio são desafios do desenvolvimento. A capacidade de optar entre diversos domínios da vida depende da experiência individual nos princípios da diversidade e da selectividade. A capacidade de escolha é da maior importância na idade adulta, quando devem ser regulados múltiplos domínios, sequencial e paralelamente.
A obtenção de informação relevante para uma avaliação diagnóstica correcta depende muito da participação do paciente nesse processo. O estatuto de confiança e a disponibilidade para apoio proporcionados pelo médico são indispensáveis a essa participação. A atitude a ser tomada não pode ser ostensivamente exploratória de uma vida carregada de eventos, alguns dos quais associados a sentimentos negativos. Sabendo ouvir, o médico deve interessar-se pelo que o seu doente sente sobre a sua vida nesse momento e qual o seu grau de satisfação. Não deve levantar problemas que não existem e estar atento aos valores e contexto socio-cultural do indivíduo. Será o doente a decidir quando e como serão abordados temas passados que possam estar relacionados com o momento presente.
A morbilidade e a longevidade são afectadas por factores genéticos, classe social, dieta alimentar, consumo de tabaco e álcool. Também dependem da morte de familiar, do divórcio, da mudança de residência ou de emprego, do desemprego e de problemas financeiros. O stress provoca a diminuição da imunidade celular e o aumento dos níveis séricos de colesterol. Uma especial atenção deve ser dada ao eventual consumo abusivo de medicamentos, estimulantes e drogas.
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Intervenção
Devem ser clarificadas as dúvidas, os falsos conceitos ou as preocupações infundadas colocadas pelo indivíduo acerca do declínio próprio da idade. O médico deve estabelecer, para si e para o paciente, a diferença entre o declínio normal e o patológico.
Durante o processo diagnóstico apresentam-se ao médico oportunidades para explicar alguns fenómenos do processo evolutivo. Impõe-se que seja dada ao paciente um perspectiva dinâmica do desenvolvimento para que ele compreenda que as suas queixas podem estar relacionadas com eventos de vida e atitudes de defesa que decorreram no passado.
Conforme a idade do doente, é vantajoso confrontá-lo com a inevitabilidade da diminuição de capacidades específicas. Ser-lhe-á assegurado que isso não o conduz a um estado existencial inferior, mas que ele próprio desenvolverá estratégias compensadoras que o levarão a superar os inevitáveis conflitos. O médico deve apresentar a vida como um processo contínuo e dinâmico, com princípio e fim, e abordar a inevitabilidade do envelhecimento.
Os comportamentos de risco do paciente que durante a avaliação diagnóstica foram considerados importantes devem ser tema constante da intervenção terapêutica. Deve-se proceder sistematicamente à revisão de terapêuticas eventualmente instituídas.
Nemiroff e Colarusso propõem um modelo de negociação terapêutica que, sendo dirigida à acção de psicoterapeutas, pode orientar, em termos gerais, a atitude que o médico de família deve seguir no atendimento de um paciente entre os 40 e os 60 anos de idade. O trabalho deve ser desenvolvido para o cumprimento das seguintes tarefas:
1. aceitação do envelhecimento do corpo;
2. consciência da finitude do tempo e da morte pessoal;
3. aceitação da morte ou doença dos pais, amigos e relativos;
4. aceitação de mudanças na actividade sexual;
5. aceitação das alterações nas relações com os pais, jovens e conjugue;
6. avaliação da carreira profissional e aceitação de fracassos em metas pessoais;
7. planeamento da reforma.
A vida deve ser programada segundo objectivos pessoais, realistas e adequados à idade e ao ciclo de vida familiar. Pode-se prevenir, remediar ou compensar o declínio de capacidades através de estratégias dirigidas ao próprio (parte I, quadro II) e ao seu meio (parte II, quadro II):

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Quadro II

I) Estratégias dirigidas ao próprio
- vigiar regularmente o estado geral de saúde,
- recorrer a terapias e actividades de relaxamento e interioridade,
- reavaliar objectivos pessoais (4),
- promover um sono saudável, biorregulador, considerando que com o avanço da idade as necessidades e características do sono variam em frequência e duração (12),
- promover a regularidade e simplicidade de vida (12),
- adoptar uma alimentação equilibrada, leve e de pequenas refeições repartidas (12),
- utilizar ajudas técnicas para compensação de declínio de funções biológicas, como a visão e a audição (4),
- "cultivar" a calma, com menos impetuosidade e competitividade (5) (12),
- ocupar os tempos livres de modo saudável (5),
- abster-se de estimulantes e sedativos (5),
- abster-se de tabaco e moderar o consumo de bebidas alcoólicas,
- manter uma actividade sexual satisfatória,
- gerir os momentos de repouso e de actividade,
- reafirmar os valores pessoais (culturais, sociais, morais e religiosos) (2),
- ponderar a terapêutica hormonal de substituição,
estabelecer um plano de actividade física com os seguintes objectivos:
- diminuição de atrofia muscular e da perda da massa óssea,
- aumento da elasticidade osteoarticular e tendinosa,
- manutenção das capacidades cardiorespiratórias,
- controlo ponderal,
- prevenção da hipertensão arterial e da diabetes,
- aumento da capacidade de concentração, rapidez e eficiência de decisão,
- aumento de resistência ao stress,
- manutenção de aparência física saudável e atraente,
- aumento da eficácia de trabalho.
II) Estratégias dirigidas ao meio:
- adequar o trabalho às capacidades próprias (13),
- ajudar os outros como forma de melhorar a auto-estima (2),
- aumentar a actividade e os momentos de lazer sociais (2),
- adaptar o lar a maior conforto e ambiente calmo (2),
- reforçar as ligações de amizade (2),
- reforçar as relações familiares (2) (12):
- orientando o desenvolvimento de crianças e adolescentes,
- acompanhando o fim da vida dos ascendentes,
- reforçando os laços da família alargada,
- desenvolvendo novas satisfações com o cônjuge, pela partilha de sentimentos, anseios e perdas.

O médico de clínica geral deve ponderar o seu nível de intervenção sobre os problemas apresentados pelos seus pacientes, ou os que são por si identificados. O médico deve sempre considerar a potencialidade dos recursos do indivíduo que o procura e, sobretudo, evitar que excessos interventivos possam impedir a eclosão desses recursos.
No processo de avaliação ou de intervenção sobre o declínio de capacidades, o médico irá certamente encontrar casos de perturbação ou de doença que necessitarão de ser referenciados. Nos respectivos capítulos encontrará os critérios estabelecidos para essa referenciação.
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Erros e limitações
Pergunto-me se os aspectos mais sombrios desta fase do desenvolvimento adulto, com a qual estamos comprometidos, têm um efeito assustador sobre nós e provoca uma tendência para a mudança de assunto. Mais, pergunto-me se haverá uma espécie de dissolução conceptual que toma lugar quando tentamos transportar a teoria do desenvolvimento do adulto para a prática.
R. Lowenstein 

Uma das atenções fundamentais ao abordar este problema é o cuidado a ter na distinção entre alterações patológicas e fisiológicas, próprias da idade. Uma interpretação perfeccionista das performances de um indivíduo dá uma falsa imagem do declínio associado à idade e pode causar-lhe falsas preocupações. As variações individuais devem ser consideradas. A hipervalorização de sintomas isolados pode levar a intervenções terapêuticas ou pesquisas diagnósticas necessárias. Por outro lado, pode haver detecção tardia no diagnóstico de doença, com limitação ou atraso na intervenção terapêutica, por atribuição das queixas a perturbação psicocomportamental.
Algumas limitações dificultam a identificação e acompanhamento de problemas associados ao declínio de capacidades. A baixa procura deste grupo etário para consultas de vigilância e prevenção pode ter várias causas: falta de disponibilidade, pouca atribuição à sua utilidade, falta de confiança nos serviços prestadores ou inibição na apresentação de alguns problemas, pela sua má aceitação social.
Características como acessibilidade, disponibilidade de tempo, continuidade, compreensão, integração, interacção e relação de confiança são fundamentais aos serviços e profissionais de saúde para uma adesão do indivíduo aos cuidados necessários para manutenção do seu estado de saúde e satisfação pessoal.
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Conclusões
A abordagem às capacidades de um indivíduo adulto depende do conceito de desenvolvimento humano. A idade adulta não é uma fase estacionária de limites precisos e independentes de outras fases do desenvolvimento. As capacidades de cada um evoluem e contêm em si o potencial de aparecimento de outras. Não existe «um declínio», mas declínios de capacidades, sem que se lhes possa atribuir a noção de entidade nosológica. A dinâmica do desenvolvimento pode gerar evolução ou prejuízo conforme o curso de vida foi marcado por forças biológicas e ambientais. A frustração e o declínio de capacidades são inevitáveis mas o indivíduo tem diversos mecanismos para a sua compensação.
O desenvolvimento do adulto torna complexa a confrontação do médico com os fenómenos associados aos seus declínios. Um ambiente de abertura e confiança apoiará o paciente na apresentação do seu problema. Devem ser consideradas as diferenças entre mulheres e homens, inclusive, na iniciativa e na oportunidade para a procura de cuidados médicos.
A intervenção terapêutica deve começar pelo esclarecimento de dúvidas, falsos conceitos e preocupações infundadas. Deve ser dada uma perspectiva dinâmica do desenvolvimento, para que o paciente compreenda que as suas queixas podem estar relacionadas com eventos de vida e atitudes de defesa que decorreram no passado. Assim, compreenderá que não está condenado a um estado existencial inferior, mas que as suas estratégias compensadoras superarão os conflitos em causa.
Os modelos de negociação psicoterapêutica podem apoiar e orientar o médico de família no acompanhamento de um paciente nesta fase da vida. O trabalho deve ser desenvolvido para o cumprimento de um grupo de tarefas negociadas na consulta.
A vida deve ser programada segundo objectivos pessoais e adequados à idade e ao ciclo de vida familiar, através de estratégias dirigidas ao próprio e ao seu meio. O médico deve evitar excessos interventivos que possam impedir a eclosão de recursos inerentes às capacidades do indivíduo.
Alguns casos de perturbação ou de doença podem necessitar de referenciação aos cuidados secundários.
É importante não descurar cuidado em alguns erros na abordagem e intervenção sobre os indivíduos adultos com problemas relacionados às suas capacidades. Algumas características da procura e acesso aos cuidados de saúde limitam o ideal atendimento destes indivíduos.
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