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Parte III - Saúde e ambientes
3.2. Ambiente escolar
114. Violência escolar
João Batalheiro
Documento de trabalho
última actualização em Dezembro 2000

Contacto para comentários e sugestões: Reis, Isabel


Os pais são o primeiro suporte pedagógico dos filhos.
São a referência que permite aos filhos aprenderem a relacionar-se consigo próprios e com os outros. Da forma como se dão a conhecer e aprendem a conhecer os filhos estabelecendo laços emocionais e afectivos, resultam crianças e jovens equilibrados ou não.
Vivemos uma época de mudanças rápidas e sucessivas que questionam diariamente os valores sociais estabelecidos. As pessoas têm de se adaptar à acessibilidade dos meios de comunicação e aprenderem a seleccionar toda a informação disponível.
O papel do adulto na educação de qualquer criança consiste em promover-lhe a auto-estima, a confiança e a capacidade de desenvolver as suas potencialidades.
A maior parte das crianças «problema», com comportamentos agressivos ou violentos são o resultado da incapacidade e falta de senso pedagógicos dos adultos que a educaram, Pais e, ou Professores. São crianças inseguras, sentem-se desqualificadas e expressam-no através da agressão verbal ou física. Estão sozinhas, angustiadas no seu crescimento interior e social, sem um suporte básico dos Pais nem complementar dos Professores. A dor que transportam é aliviada quando provocam dor nos outros… mas esse alívio é fugaz. Estas crianças ou jovens não têm referências estruturantes ou de contenção de um adulto. Geralmente sofreram ou assistiram a actos de violência familiar ou residencial.
A violência é a expressão primária e não elaborada da agressividade. Assim o comportamento é a utilização da força para resolver conflitos ou a adopção de atitudes agressivas ou anti-sociais dentro e for a da escola, traduzindo a incapacidade de comunicar através do diálogo. Estes comportamentos são reprimidos provocando um ciclo vicioso no qual o agressor é também o agredido. A melhor forma de prevenir ou tratar um comportamento agressivo é compreender as causas dolorosas e o significado desse comportamento. São basicamente três:
1. Experiências violentas, as crianças experimentaram ou presenciaram a actos de violência nos seus lares ou vivem abandonadas todo o dia sem o apoio securizante de um adulto.
2. Ausência de modelos não violentos dos pais para a resolução de conflitos, alguns pais não acompanham a aprendizagem dos filhos porque ou desvalorizam a Escola como padrão de desenvolvimento de competências ou não têm tempo para estar com os filhos. Outros não ensinam limites nem regras para o comportamento dos filhos, situação que se mantém na idade escolar.
3. Ambiente social, algumas destas crianças ou jovens vivem em meios onde o uso da violência é a forma habitualmente utilizada e, representas, para a comunidade onde vivem, um estatuto social que aceitam como modelo.
Estas crianças têm dificuldade em pensar, aprender e reter os conhecimentos necessários para o seu desenvolvimento escolar. A repressão do seu comportamento nas Escolas que frequentam levam-nas a integrarem-se em grupos onde predomina a violência como forma de comunicação, são os 'gangs' da escola e da rua.
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Qual o papel do médico de família?
O papel fundamental do médico de família é quebrar o ciclo vicioso criado (agressor/agredido). Ele tem de compreender a criança, o contexto familiar, comunitário e escolar onde ela se move diariamente. Deve ouvir a criança, os pais e os professores e propor alternativas.
Em relação à criança deve promover-lhe a confiança e a auto-estima, ser tolerante, explicar-lhe regras sob a forma de jogos ou sob a forma de «trabalhos de casa» que ela terá de executar.
Com os pais de ouvi-los e diagnosticar problemas de relação inter-pessoal, horários de trabalho, tempo disponível para os filhos. Explicar-lhes que eles fazem parte imprescindível do programa terapêutico para a resolução do problema.
Com os professores deve procurar alternativas de apoio individual ou em grupo da criança.
O trabalho só poderá realizar-se com o consentimento de todos e a disponibilidade dos profissionais. Quando existem equipas de saúde médico-enfermeiro-psicólogo que desempenhem funções de saúde escolar, a avaliação, o acompanhamento e a referência para psicologia ou pedopsiquiatria tornam-se mais fáceis.
Perante um, a criança negligenciada ou maltratada, o médico de família deve contactar imediatamente a Comissão de Protecção de Menores ou o Tribunal de Menores, porque estes possuem uma estrutura que avaliará a situação e promoverá a sua resolução através de lares de acolhimento ou famílias de adopção.
Sempre que possível este casos devem ter um acompanhamento em equipa.
Basicamente utilizamos a bordagem destas crianças com a metodologia já referida assim:

1º- Entrevista da criança para conhecê-la, reconhecer o problema e, estabelecendo uma relação com ela, fazê-la sentir que deixou de estar sozinha.
2º- Entrevista com os pais e com a criança reconhecendo em conjunto o problema e estabelecendo um programa de actuação onde todos participam activamente.
A equipa disponilizar-se-á para ser contactada sempre que necessário, mas deve ficar combinado que as entrevistas devem ser marcadas de acordo com a disponibilidade horária de todos, para evitar malentendidos no futuro.
3º- Em relação à escola explicar-se-à que a ela compete actuar como contentora da violência ao invés de uma atitude punitiva deve entender a criança violenta como uma criança em sofrimento. O médico de família procurará estabelecer um interlocutor da escola que acompanhe a evolução da criança. Devem definir-se as competências de cada elemento da equipa com o envolvimento imprescindível dos pais.
Estas situações serão avaliadas periodicamente.
4º- Referenciar para pedopsiquiatria ou para psicologia todas as situações que:
- não evoluam positivamente após a intervenção
- suspeita de patologia mental associada, depressões, psicoses, perturbações da personalidade---ver capítulo de saúde mental.

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Bibliografia
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Rosenberg Mark L. and al. Applying Science to violence prevention. JAMA 1997; 277(20):1641-2

Schwartz Richard H., Little D'Anna L. Let's party tonight: Drinking patterns and breath alcohol values at high school parties. Family Medicine 1997;29(5):326-31

Veiga Feliciano H. Indisciplina e violência na escola. Livraria Almedina Coimbra 1999