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Parte III - Saúde e ambientes
3.2. Ambiente escolar
115. Dificuldades de aprendizagem
Isabel Reis
Documento de trabalho
última actualização em Dezembro 2000

Contacto para comentários e sugestões: Reis, Isabel


O campo das dificuldades da aprendizagem (DA) agrupa uma variedade desorganizada de conceitos, critérios, teorias, modelos e hipóteses.
O quadro das DA é cada vez mais uma «esponja sociológica» que cresceu muito rapidamente porque tem sido utilizado para absorver uma diversidade de problemas educacionais.
Das inúmeras definições de DA já avançadas por ilustres investigadores e por relevantes associações científicas, a que reúne internacionalmente maior consenso é a definição do National Joint Committee of Learning Disabilities (1998): " Dificuldades da Aprendizagem (DA) é uma designação geral que se refere a um grupo heterogéneo de desordens manifestadas por dificuldades significativas na aquisição e na utilização da compreensão auditiva, da fala, da leitura, da escrita e do raciocínio matemático. Tais desordem, consideradas intrínsecas ao individuo e presumindo-se que sejam devidas a uma disfunção do sistema nervoso central podem ocorrer durante toda a vida. Problemas na auto-regulação do comportamento e na interacção social podem coexistir com as DA. Apesar das DA ocorrerem com outras deficiências (ex.: deficiência sensorial, deficiência mental perturbações sócio emocionais) ou com influências extrínsecas (ex.: diferenças culturais, insuficiente ou inapropriada instrução, etc.) elas não são o resultado dessas condições.
Entende-se por dificuldade da aprendizagem o rendimento escolar inferior ao esperado para a idade da criança.
As dificuldades da aprendizagem podem considerar-se um problema para a saúde por um lado pela sua alta frequência e, por outro lado pelas consequências familiares traduzindo-se por problemas psico-afectivos, baixa auto-estima, sentimentos de culpa e impotência que dão origem a um complexo ciclo vicioso.
As causas que as determinam são numerosas e, nem sempre bem conhecidas. Cabe ao médico de família enquadrar, encaminhar e, ou acompanhar as crianças e jovens que as apresentam sabendo que, as dificuldades escolares têm uma resolução complicada que quase sempre necessita de uma equipa pluridisciplinar.
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Papel do Médico de Família
O médico de família procurará, sem banalizar o problema:
1. desdramatizar e tranquilizar as famílias;
2. analisar com os vários intervenientes no processo educativo os factores que intervém na génese do problema;
3. encontrar com eles medidas que possam levar à diminuição do problema.
O desafio que se coloca na tentativa de resolver as dificuldades de aprendizagem é o de repensar um modelo geral de intervenção.
O modelo habitual é o da identificação, catalogação e reparação das deficiências e pontos fracos - Modelo psicopatológico - centrado nos problemas, deficiências e, ou doenças em que a solução dos problemas é revertido para os técnicos de quem se exige a capacidade de diagnosticar e encontrar os recursos. Isto implica grandes dificuldades e poucos resultados.
A modificação que nos parece urgente e necessária vai no sentido de modificar o modo de olhar a realidade, acreditando que todo o ser humano tem qualidades/ capacidades que lhe permite ultrapassar as condições adversas da vida. Assim, a intervenção será centrada no próprio e a ajuda será a descoberta do que cada um, individualmente, é capaz de fazer bem e quais as características e circunstâncias de vida que lhe foram permitindo sobreviver aos problemas - Modelo pedagógico ou do desenvolvimento das capacidades.
A intervenção do médico de família deverá centrar-se na criança e no jovem levando-a a reconhecer-se e a ser reconhecida como recurso (é o próprio que encontrará a solução para a sua dificuldade). A ajuda deverá ser orientada para a independência e autonomia.
O médico de família deve, junto da escola, diligenciar para que o grande objectivo curricular seja o desenvolvimento emocional e social, isto é, o desenvolvimento de competências e capacidades, nomeadamente:
1. resolução de problemas
2. participação social
3. empatia (colocar-se no lugar da criança ou do jovem)
4. coerência (actuar de acordo com o que se passa e sente sem prejudicar o outro). 
Parece-nos útil a criação de investigação a nível de métodos e estratégias de intervenção neste domínio e ainda a constituição de equipas multidisciplinares a nível local e, ou distrital bem como a formação e treino conjunta, nesta área, de pessoal médico, pedagógico e psicológico. A investigação necessita cruzar e integrar os limites dos vários campos científicos (psicologia, neuropsicologia, linguagem, pedagogia sociologia, etc.) isto é pôr em prática um contexto interdisciplinar de investigação muito maior e muito mais diversificado.