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Documento
de trabalho última actualização em Dezembro 2000 |
Contacto para comentários e sugestões: Cruz, Mª Georgina |
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Nos
serviços de urgência cerca de 10% das cefaleias observadas são devidas
a causas secundárias que por vezes passam despercebidas, como é o caso
de um tumor ou hematoma intra cerebrais. 6
3 Para o diagnóstico diferencial há que atender ao início e evolução temporal das cefaleias subdividindo-as em agudas/sub-gudas por um lado, e crónicas/recorrentes por outro. Na história clínica importa ainda questionar o doente acerca da localização, carácter, horário, frequência e duração da dor, assim como acerca de possíveis factores precipitantes e agravantes e existência ou não de sintomas e sinais acompanhantes. Quando
estamos perante uma cefaleia de início recente, aguda ou sub-aguda
devemos pesquisar eventuais deficits neurológicos, febre, ou rigidez da
nuca que nos coloquem na pista de um quadro meníngeo. A cefaleia da hemorragia
subaracnoideia é aguda, generalizada, com sensação de explosão. Tem
intensidade máxima na área occipital, irradia ao longo do pescoço, e acompanha-se
em regra de náuseas, vómitos, obnubilação e posteriormente sinais meníngeos.
Os doentes referem-na como a pior cefaleia de sempre, e a sua agitação
deve-se habitualmente a ela. É obrigatória a realização de uma fundoscopia
nestes doentes, que revela muitas vezes uma hemorragia subhialoideia,
em chama de vela. Uma história de febre aguda associada a cefaleias na
região fronto-orbitária é sugestiva de sinusite aguda.É obrigatório
nestes casos a observação em busca de rinorreia purulenta e a percussão
dos seios peri-nasais que provocará uma exacerbação da dor. Num doente
idoso as cefaleias agudas de início recente devem fazer pensar em arterite
temporal. Esta hipótese obriga a investigar sintomatologia local:
dor e endurecimento da artéria temporal superficial, claudicação dos masséteres
e alterações visuais. A VS neste caso encontra-se francamente elevada
(>50 mm na 1ª hora). A biopsia da artéria temporal fornecerá o diagnóstico
definitivo. Dores oculares e visão enevoada levantam a hipótese de glaucoma
agudo. Neste caso, no exame objectivo, observa-se uma diminuição da transparência
da córnea devido ao edema e a pupila encontra-se moderadamente dilatada
e não reactiva à luz. É também importante na história que se questione
o doente sobre possíveis traumatismos cranianos que nos ponham na pista
de um hematoma epi ou subdural agudos. 7
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Nota: Os critérios da IHS requerem crises múltiplas para o diagnóstico porque o primeiro episódio nem sempre pode ser distinguido de uma cefaleia secundária. A evolução temporal da cefaleia pode ser particularmente reveladora: aumentos na gravidade e/ou frequência ao longo do tempo levantam a hipótese de uma lesão ocupando espaço, enquanto que um padrão de cefaleias que permanece constante ou ondulante é mais típico de cefaleias de tensão ou enxaqueca. Deve-se ter particular atenção aos sintomas acompanhantes: náuseas, vómitos, fotofobia e fonofobia são característicos de enxaqueca. Sintomas autonómicos tais como lacrimejo, sudação, rinorreia, edema palpebral e injecção conjuntival do mesmo lado de uma cefaleia de curta duração, orbitária, supraorbitária ou temporal são característicos de cefaleia em salvas, hemicrania paroxística crónica ou SUNCT (short-lasting unilateral neuralgiform headache with conjunctival injection and tearing). Os deficits neurológicos que constituem a aura da enxaqueca são reversíveis. Os deficits neurológicos irreversíveis, e os deficits de novo aumentam a probabilidade da existência de uma lesão estrutural como por exemplo um tumor ou um enfarte cerebral. A localização e o carácter da dor são por vezes úteis, apesar de poder existir uma sobreposição considerável entre os diversos tipos de cefaleias. Como exemplo (quadros III e IV) a cefaleia de tensão tem habitualmente uma localização bilateral e um carácter tipo pressão ou aperto, frequentemente à volta do crânio, no entanto, estas características podem também ser referidas por doentes com aumento da pressão intra-craniana. A localização unilateral e a pulsatilidade são características da enxaqueca, contudo, estas mesmas características podem também ser referidas por doentes com cefaleias de tensão. Na enxaqueca a unilateralidade da dor não é fixa, isto é, pode ocorrer de um lado ou outro do crânio. A constância da dor, sempre do mesmo lado, faz pensar numa lesão estrutural, como por exemplo um tumor. Neste caso será muito importante a realização duma fundoscopia para pesquisa de estase papilar. A ocorrência de dor que irradia a partir do pescoço faz pensar em radiculopatia cervical. Os factores precipitantes e agravantes devem ser pesquisados. As actividades físicas de rotina (como por exemplo subir escadas) normalmente não agravam a cefaleia de tensão (quadros III e IV) mas agravam a enxaqueca, sendo este aliás um dos melhores critérios clínicos para distinguir estes dois tipos de cefaleias. Cefaleias desencadeadas pela ingestão de certos alimentos (gorduras, chocolate, queijo, citrinos, álcool, peixe fumado) e situações de stress (ruídos, luzes e cheiros intensos, factores emocionais) são também típicas da enxaqueca. O álcool também pode desencadear uma crise de cefaleia em salvas durante um período de actividade da doença. Nos
antecedentes familiares tem especial importância a pesquisa de
quadros clínicos semelhantes, pelo carácter heredofamiliar de alguns tipos
de cefaleias, como é o caso da enxaqueca. Nos doentes que apresentam cefaleias de início agudo, referindo-as como “as cefaleias mais intensas alguma vez sentidas” deve-se fazer uma TAC de urgência. Perante uma história sugestiva de hemorragia subaracnoideia, e mesmo sendo a TAC normal, deverá ser realizada uma punção lombar, para detecção de sangue no licor. Se a história sugere uma possível sinusite aguda devem pedir-se radiografias dos seios perianais. Cefaleias “de novo”, num doente idoso, com endurecimento e dor à palpação da artéria temporal superficial deve conduzir a um pedido de VS e possível biopsia da artéria temporal, sobretudo se apoiado por outros dados da história clínica (deficits visuais, sintomas sistémicos). Cefaleia súbita, cervical, com início temporalmente relacionado com manipulação ou traumatismo cervical, associada a sopro cervical ou dor à palpação, justificam um pedido de «ecodoppler» da carótida ou de angioressonância para detecção da dissecção da carótida. Contudo, o padrão de ouro para confirmar este diagnóstico continua a ser a angiografia convencional com cateterismo. Perante
um doente com cefaleias crónicas ou recorrentes que não sugerem
doença intra-craniana e na presença de um exame objectivo e neurológico
normais, na maioria das vezes, é desnecessária a realização de exames
complementares. As excepções a este princípio compreendem cefaleias com
menos de 6 meses de evolução que não se enquadram num padrão conhecido
de cefaleias primárias (ex.: cefaleia de tipo tensão, enxaqueca, cefaleia
em salvas) ou secundárias (quadro II), cefaleias de agravamento progressivo,
com perda de consciência ou com alteração persistente da personalidade.
Também a alteração das características de um padrão até então habitual
numa cefaleia merece mais investigação. Dodick D. Cefaleias como sintoma de doença grave. Quais são os sinais de alarme? Postgraduat Medicine 1998; 9: 14-23. Headache Classification Comittee of the Internatinal Headache Society. Classification and diagnostic criteria for headache disorders, neuralgias and facial pain. Cephalalgia 1988; 8 Suppl 7: 9-96. Lance JW, Goadsby PJ. Mechanism and Management of Headache. th ed. Oxford: Butterworth Heinemann; 1998. Machado MG, Colaço MJ. Cefaleias de interesse para o Clínico Geral. Revista Portuguesa de Clínica Geral 1989; 6: 45-50. Perkins AT. Quando pode uma cefaleia ser preocupante? Postgraduate Medicine 1996; 6: 66-75. Pruitt AA. Abordagem do doente com cefaleia. In: Goroll AH, May LA, Mulley AG, editors. Cuidados Primários em Medicina. 3ª edição. Lisboa: McGraw-Hill; 1997: 831-40. Rasmussen BK, Jensen R, Olesen J. A population based-analysis of the diagnostic criteria of the International Headache Society. Cephalalgia 1991; 11: 129-34. Schoenen J, Wang W. Tension-Type Headache. In: Goadsby PJ, Sielberstein SD, Editors. Headache, Blue Books of Practical Neurology. Boston: Butterworth-Heinemann; 1997; 17: 177-200. Trachtenbarg DE. Cefaleias de tensão: aliviar a dor sem criar dependência. Postgraduate Medicine 1995; 3: 58-64. |