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Parte IV – Problemas clínicos
4.11. Abordagem do paciente com problemas no aparelho genital

352. Fimose e parafimose
Xisto Gonçalves
Gonçalves, G.

Documento de trabalho
última actualização em Dezembro 2000

Contacto para comentários e sugestões: Baleiras, Sebastião

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1. Fimose
Fimose é a redução do orifício prepucial que impede o normal deslizamento do prepúcio sob a glande.
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Epidemiologia
Constitui a patologia mais frequente do pénis e é importante distingui-la, na infância, das aderências balano-prepuciais, que são formadas cedo no desenvolvimento fetal e cuja separação decorre nos próximos anos, com grande variabilidade na sua resolução completa. Fazendo parte do desenvolvimento normal, é causa de apreensão de elevado número de consultas na infância.
Nas idades mais adultas, a verdadeira fimose aparece secundariamente a traumatismos repetidos e cicatrização em anel do prepúcio ou por liquén escleroatrófico.
Apresenta uma incidência de 80% até aos 3 meses, 10% até aos 3 anos e cerca de 1% em maiores de 17 anos.
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Etiologia
1. Congénita
2. Adquirida:
- Balanites - falta de higiene, D.S.T. e Diabetes mellitus;
- Fimose secundária ao cancro do pénis;
- Balanite escleroatrófica (liquén).
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Clínica
- História familiar de Diabetes mellitus;
- Hábitos de higiene;
- Antecedentes de doenças sexualmente transmitidas ou de balanites de repetição;
- Tempo de evolução;
- Exploração física genital detalhada para exclusão de processos inflamatórios, infecciosos, corrimentos ou neoplasia que podem ser causa da fimose.
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Complicações
- Fimoses puntiformes podem causar alteração da micção, infecções urinárias de repetição com uropatia obstrutiva;
- Balanites - a fimose actua como factor predisponente e a balanite agrava a fimose;
- Parafimose.
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Tratamento
O tratamento da fimose é cirúrgico, a circuncisão. Realiza-se em algumas culturas como ritual após o nascimento e nos Estados Unidos sistematicamente, em quase todos os recém-nascidos.
A circuncisão não se deve realizar antes dos 3 anos, salvo se a fimose causa uma verdadeira obstrução à micção e infecções urinárias de repetição.
Devem-se aconselhar medidas de higiene do prepúcio sem proceder a retracção forçada, por ser um procedimento muito doloroso e poder ser causa iatrogénica de fimose, por separação forçada das aderências sub-prepuciais.
A circuncisão deve ser considerada a partir dos 8-10 anos, antes da puberdade, não devendo ser banalizada, por não ser isenta de complicações.
Antes desta idade, após os 5 anos, estão indicados para a sua resolução os métodos conservadores, como a aplicação de corticosteróides (por ex. betametasona, 2x dia) ou a cinesiterapia de alargamento do anel fimótico.
Indicações para a circuncisão:
- Fimose que não responde ao tratamento conservador;
- Balanites de repetição;
- Parafimose;
- Anormalidade do tracto urinário, válvulas uretrais posteriores e refluxo vesico-ureteral-
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2. Parafimose
Parafimose é uma situação aguda, que se desenvolve quando o prepúcio é totalmente retraído e sem possibilidade de voltar à sua posição habitual. Causa a constrição do pénis, impede o retorno venoso com aparecimento de edema e desconforto. Provoca isquemia da glande e mais tarde necrose destes tecidos.
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Causas
A causa mais comum é a preexistência de fimose.
Pode aparecer em doentes não circuncidados após prolongada retracção do prepúcio, em especial em doentes cateterizados, com alteração da sensibilidade ou do estado de consciência.
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Tratamento
Verdadeira urgência urológica, que requer paciência e analgesia adequada. Deve tentar-se reduzir aplicando pressão suave e mantida da glande para reduzir o edema e permitir o movimento do prepúcio. Pode ser necessária sedação, anestesia local do pénis com lidocaína a 1% sem epinefrina.
Outras técnicas:
- Anestesia local com creme de lidocaína a 5% ( cerca de 1,25 gr, 6 cm de creme ) e ligadura do pénis com ligadura elástica de 4x4, exercendo maior pressão distalmente. Cerca de 5 a 10 minutos depois resolve-se o edema e é possível reduzir a parafimose;
- Sob anestesia local punciona-se várias vezes o prepúcio com agulha, aplica-se depois pressão suave e mantida que remove o edema e torna possível a redução da parafimose. (técnica semelhante usa a infiltração de hialuronidase, na remoção do edema).
A não resolução, obriga à referenciação para a urgência, para descompressão cirúrgica do edema ou circuncisão.
É invulgar a recorrência da parafimose e um só episódio não é indicação para a circuncisão.
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Educação e Aconselhamento
- Educação dos pais sobre a fimose e a existência das aderências balano-prepuciais fisiológicas até cerca dos 3 anos, prevenindo-se as tentativas de retracção forçada para a realização da higiene;
- Educação dos pais e da criança para a higiene apropriada, que previne e impede o agravamento da fimose, em especial se associado existe a Diabetes Mellitus;
- Elucidação de todos os trabalhadores de saúde para o risco do desenvolvimento de parafimose associada com a cateterização da bexiga, se o prepúcio não for reposto na sua posição habitual.
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Seguimento
- Se a fimose causa obstrução urinária deve ser indicada a circuncisão.
- Deixar a fimose congénita evoluir por si própria.
- Higiene usual sem forçar o prepúcio.
- Indicação de higiene apropriada nas crianças e adultos com fimose até à sua resolução.