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Documento
de trabalho última actualização em Dezembro 2000 |
Contacto para comentários e sugestões: Baleiras, Sebastião |
1 1. Hidrocelo Os hidrocelos são quistos benignos do conteúdo escrotal. Podem ser congénitos ou adquiridos. São muito frequentes e geralmente não necessitam de tratamento. Não são malignos nem se transformam em formações malignas. O seu diagnóstico/avaliação pode ser feito, com facilidade, em Medicina Geral e Familiar. 2 Hidrocelo congénito O hidrocelo congénito, primário ou comunicante, bem como a hérnia inguinal congénita, resultam da persistência do canal peritoneo-vaginal. Através deste canal e durante algum tempo, a cavidade peritoneal fica em comunicação com a membrana vaginal do testículo. Em condições normais, o canal peritoneo-vaginal encerra antes do nascimento. Quando não encerra e a abertura é grande, permitindo a entrada de intestino ou de outro órgão, resulta uma hérnia. Se a abertura é pequena apenas passa fluido peritoneal, resultando um hidrocelo. Os hidrocelos e as hérnias inguinais congénitas são muito comuns nas crianças do sexo masculino, particularmente em prematuros. 3 Diagnóstico / Avaliação O hidrocelo surge como um aumento difuso da dimensão do saco escrotal, em geral de um só lado. A persistência do canal peritoneo-vaginal faz com que a sua dimensão varie ao longo do dia, enchendo e esvaziando. Ao contrário das hérnias, os hidrocelos congénitos desaparecem quase sempre no primeiro ano de vida, com o encerramento espontâneo do canal peritoneo-vaginal. Quando o hidrocelo perde a comunicação peritoneal, o seu volume diminui gradualmente com a reabsorção do líquido. Recomenda-se avaliação periódica do hidrocelo congénito, sem evidência de hérnia indirecta associada, até ao final do primeiro ano de vida. 4 Referência Se ao fim do primeiro ano o hidrocelo persistir ou aumentar, referir para cirurgia pediátrica, antes do saco alargar e se transformar em hérnia. As hérnias inguinais congénitas, devido à elevada incidência de complicações (irreductibilidade, obstrução-encarceramento), devem ser sempre precocemente referidas. 5 Pontos práticos a reter - Cerca de 90% dos hidrocelos congénitos desaparecem espontaneamente até ao final do 1º ano de vida. Recomenda-se avaliação periódica. - Referenciar se o hidrocelo persistir para além do 1º ano ou aumentar. - Referenciar precocemente se existir suspeita ou evidência de hérnia inguinal congénita associada. 6 Hidrocelo secundário O hidrocelo secundário, adquirido ou não comunicante, resulta da desproporção entre a exsudação de fluido lubrificante pelo testículo e a sua reabsorção pela membrana vaginal. Em algumas circunstâncias, como traumatismo ou infecção, mas muitas vezes sem qualquer causa aparente, o saco seroso tem dificuldade em reabsorver o fluido. Como resultado, há acumulação progressiva do fluido no interior do saco, surgindo o hidrocelo. O hidrocelo secundário é típico do adolescente e do adulto, embora possa também aparecer na criança. 7 Diagnóstico / Avaliação Habitualmente são pequenos e unilaterais. Por vezes atingem grandes dimensões, com 20 ou mais centímetros de eixo maior. Podem ser pequenos de manhã, antes do doente se levantar, aumentarem ao longo do dia e estarem grandes e tensos no final do dia. Os hidrocelos, ao contrário das massas sólidas, transiluminam quando se aplica uma lâmpada no escroto. São quase sempre indolores. A sua dimensão pode dar uma desconfortável sensação de peso e de volume, apertado pela roupa que o cobre. Geralmente o diagnóstico requer apenas o exame físico. Contudo, quando o hidrocelo envolve completamente o testículo, este deixa de ser palpável, sendo necessário recorrer à realização de uma ecografia do escroto. A maioria dos hidrocelos secundários não necessita de tratamento, embora também não desapareça espontaneamente. Se não causar dor ou se não for muito grande, pode ser deixado sem tratamento e avaliado periodicamente. 8 Referência / Tratamento Critérios de referenciação para urologia para opinião sobre a remoção cirúrgica do hidrocelo: - dor, - desconforto inaceitável, - hidrocelo muito tenso (pode reduzir a circulação e levar a atrofia testicular), - “aspecto cosmético” mal aceite pelo doente. As complicações da cirurgia incluem dor, hemorragia e infecção. O risco de recorrência do hidrocelo após cirurgia é de cerca de 1 a 2%. A cirurgia não costuma afectar a produção hormonal e espermática do testículo. Outros tratamentos do hidrocelo secundário incluem: - Aspiração do líquido com seringa – técnica que actualmente não tem muitos defensores, pois é elevada a taxa de recidivas e existe risco de infecção; - Aspiração seguida de injecção de agentes esclerosantes na cavidade do hidrocelo – igualmente não tem muitos utilizadores, pelo perigo de infecção e pelo desconforto que costuma provocar, às vezes permanente. 9 Erros / Diagnósticos diferenciais Os hidrocelos confundem-se frequentemente com os espermatocelos, outras formações quísticas benignas e mais raras do conteúdo escrotal. Os espermatocelos são móveis, com localização póstero-superior em relação ao testículo, transiluminam com facilidade e o seu conteúdo é constituído por esperma morto. Muito raramente o hidrocelo secundário é causado por cancro ou por uma infecção grave do testículo. Num homem jovem com hidrocelo que surgiu recentemente, deve ser feita ecografia do escroto, dado que o cancro do testículo pode causar um hidrocelo reactivo que oculta a lesão. Um homem jovem com uma massa testicular indolor e sem transiluminação deve considerar-se como tendo um cancro do testículo até prova em contrário. 10 Pontos práticos a reter - Os hidrocelos transiluminam, as massas não. - Se o exame físico deixar dúvidas quanto ao diagnóstico deve ser feita uma ecografia do escroto. - A maioria dos hidrocelos secundários não necessita de tratamento. - Referenciar se houver dor, volume/tensão relevantes ou dúvida diagnóstica. - As complicações da cirurgia do hidrocelo são: dor, hemorragia e infecção.16 Quadro I
*1999 17
*1999 Davenport M. ABC of general paediatric surgery. Inguinal hernia, hydrocele, and the undescended testis. BMJ 1996; 312(7030): 564-7. Gottesman J, Baum N. Common urologic disorders-When to treat and when to refer. Postgraduate Medicine 1997; 102(2): 235-46. Junnila J, Lassen P. Testicular Masses. American Family Physician 1998; 57(4): 685-92. Laris EG, Evan JK. Diagnosis and Treatment of the Acute Scrotum. American Family Physician 1999; 59(4): 817-24. Lund L, Nielsen KT. Varicocele testis and testicular temperature. Br J Urol 1996; 78: 113-5. Pereira NM. Fimose, hidrocele e varicocele. Três patologias frequentes na criança e no adolescente do sexo masculino. Acta-Med-Port 1999; 12(1-3): 137-43. Sayfan J, Siplovich L, Koltun L, Benyamin N. Varicocele treatment in pubertal boys prevents testicular growth arrest. J Urol 1997; 157(4): 1456-7. Trum JW, Gubler FM, Laan R, Van-der-Veen F. The value of palpation, varicoscreen contact thermography and colour Doppler ultrasound in the diagnosis of varicocele. Hum Reprod 1996; 11(6): 1232-5. |