1
Introdução
Durante vários milénios, o combate das doenças infecciosas
limitou-se a algumas práticas, herdadas de tempos imemoriais e
ditadas pelos usos e costumes de cada povo.
Em algumas décadas, desde os anos 30 até aos anos 60, a
descoberta e introdução no arsenal terapêutico de
drogas como as sulfonamidas e a penicilina, veio permitir que o panorama
da mortalidade se alterasse radicalmente, fazendo com que dezenas de doenças
infecciosas deixassem de ser causa habitual de morte.
Com a aplicação destes e de outros fármacos, difundiu-se
assim o uso da classe terapêutica dos antibióticos, inicialmente
assim designados por serem entendidos como «substâncias contra
a vida», conceito este modificado posteriormente, dum modo mais
rigoroso, para «toda a substância química, de natureza
animal, vegetal ou sintética, que seja antagonista do desenvolvimento
de microorganismos» devendo por isso ser designados, com maior rigor,
por anti-bacterianos.
Hoje em dia conhecem-se mais de 5000 antibióticos, tendo sido cerca
de 1000 cuidadosamente investigados, dos quais, todavia, apenas cerca
de 100 são correntemente utilizados para tratamento de infecções.
Todavia, nos últimos anos, a emergência de novas doenças
infecciosas, como a Doença de Lyme (Borrellia burgdorferi), o sindroma
do choque tóxico (uso de tampões associado a toxinas produzidas
por estirpes de Staphylococcus aureus), a Doença dos Legionários
(Legionella), a febre hemorrágica do Ebola, a Hepatite C e a infecção
por HIV-SIDA, entre muitas outras, fizeram esbater o brilho dos sucessos
do passado.
Paralelamente, o aparecimento de estirpes de bactérias resistentes
a um número cada vez maior de antibióticos, como as estirpes
de Staphylococcus aureus meticilino-resistentes, resistentes mesmo
à vancomicina, e as estirpes de Enterococcus faecalis ou de Mycobacterium
tuberculosis praticamente resistentes a todos os antibióticos,
vêm recolocar a questão do seu uso adequado.
A selecção menos apropriada dos antibióticos, a utilização
de doses ineficazes ou uma insuficiente duração do tratamento,
por vezes associada a automedicação ou toma de antibióticos
sem vigilância médica, têm sido apontados como responsáveis
pelo aparecimento crescente destas resistências.
Também o uso generalizado de antibióticos na criação
de animais, para promover o seu crescimento, e também na agricultura,
sob a forma de aerossóis aplicados em vastas áreas de cultivo,
nomeadamente de pomares, têm também promovido a selecção
de estirpes cada vez mais resistentes aos antibióticos.
Todos estes factos determinam uma necessidade de assegurar uma formação
permanente e actualizada do médico, permitindo que ele permaneça
informado quer sobre as novas características dos agentes patogénicos,
quer sobre o aparecimento de novas drogas e os critérios de utilização
dos antibióticos na sua prática diária.
2
Classificação
e características dos principais antibacterianos
São várias as classificações possíveis
dos antibióticos, podendo ser classificados pelo seu mecanismo
de acção (Fig.1), pelo seu efeito bactericida ou bacteriostático
(Quadro I) ou então pela sua estrutura química.
Por facilidade metodológica iremos utilizar esta última
classificação.
No quadro II incluímos os principais grupos farmacológicos,
indicando para cada um, os principais antibacterianos que os constituem
e as suas características básicas.
5
Figura
1
Classificação dos antibióticos por tipo de acção
(adaptado de SteinJ. Internal Medicine. Mosby. St. Louis. 199412)
6
Quadro I
Classificação
dos antibióticos pelo seu efeito sobre a bactéria
|
Bacteriostáticos |
Bactericidas |
Cloranfenicol
Lincosaminas
Macrólidos
Sulfonamidas
Tetraciclinas
|
Aminoglicosidos
Beta-lactâmicos
Fosfomicina
Nitrofurantoína
Polipéptidos
Quinolonas
Rifampicina
Vancomicina |
7
Quadro II
Classificação
dos Antibióticos
|
Grupo
Farmacológico |
Antimicrobiano |
Principais
características |
Penicilinas |
Penicilina
G (Procaínica, benzatínica) e Penicilina V (feno-ximetilpenicilina)
|
Activos
contra gram-positivos e alguns gram-negativos
Susceptíveis à hidrólise por beta-lactamases. |
Aminopenicilinas
(ampicilina, amoxicilina),
|
Espectro
alargado a mais gram-negativos, mas menos activas contra os gram-positivos.
Também susceptíveis às beta-lactamases |
Penicilinas
resistentes às penicilinases (Dicloxacilina e flucloxacilina)
|
Usadas
nas infecções estafilocócicas |
Penicilinas
combinadas com inibidores das beta-lactamases (Ac. Clavulânico
ou sulbactam) |
Resistentes
à maioria das penicilinases (espectro mais alargado) |
Cefalosporinas |
1ª
Geração:
Cefalotina, cefapirina, cefazolina, cefradina*, cefalexina*, cefadroxil* |
Boa
actividade contra os gram-positivos e muitos dos gram-negativos prevalentes
na comunidade. Activas contra estreptococos e estafilococos aureus,
mas não activas contra os enterococos ou estafilococos meticilino-resistentes. |
2ª
Geração:
Cefamandole, cefonicide, ceforanide, cefotetan, cefprozil*,
Cefaclor*, cefoxitina, cefuroxime, cefuroxime axetil*, cefoxitina
|
Grupo
heterogéneo, com diferenças marcadas na actividade,
farmacocinética e toxicidade. Espectro genericamente semelhante
às de 1ª geração com cobertura alargada
nos gram-negativos, incluindo a Escherichia, Klebsiela
os Proteus ou a Moraxella e as estirpes de H Influenzae
resistentes às beta-lactamases.
Menos activas contra os gram-positivos. |
3ª
Geração:
Cefodizima, cefixime*, cefotaxima, ceftazidima, ceftriaxona, ceftizoxima,
cefatrizina, cefoperazona, moxalactam, cefpodoxime proxetil*, ceftibuteno* |
Menor
actividade contra os gram-positivos do que as de 1ª e 2ª
gerações, mas mais activas contra gram-negativos do
que as anteriores. |
4ª
Geração:
Cefepime |
Espectro
comparável às de 3ª geração, mas
mais resistentes a algumas beta-lactamases. |
*
Drogas disponíveis para administração oral |
Macrólidos
e azalidos |
Eritromicina
Espiramicina
Roxitromicina
Claritromicina
Azitromicina |
Espectro
de acção semelhante ao da penicilina, sendo também
activos nos géneros Chlamydiae, Mycoplasma, Legionella e Campilobacter.
Os azalidos são mais ácido-estáveis e têm
uma semi-vida maior |
Tetraciclinas |
Oxitetraciclina
Doxiciclina
Minociclina
|
Drogas
recomendadas para tratamento de infecções por Chlamidiae,
Ricketsiae, Vibrio e algumas infecções por espiroquetas
A minociclina
pode ser usada para a erradicação da Neisseria meningitidis
nos portadores que não podem fazer rifampicina
|
Sulfonamidas |
Sulfonilamida,
Trimetoprim
Trimetoprim + sulfametoxazol |
Indicados
na terapêutica das infecções urinárias,
na pneumonia por Pneumocistis carinii e nalgumas infecções
por parasitas, como a toxoplasmose e a malária, assim como
no tratamento da lepra |
Anti-sépticos
urinários e
Quinolonas
|
Ácido
nalidíxico
Ácido oxolínico
Ácido pipemídico
Fosfomicina
|
Menor
actividade contra gram-positivos do que contra os gram-negativos.
As primeiras foram usadas como anti-sépticos urinários. |
Ciprofloxacina
Lomefloxacina
Norfloxacina
Ofloxacina
Rosoxacina |
Estes
novos derivados têm potente acção bactericida;
alguma toxicidade e alto custo, bem como possibilidade de resistência
desenvolvida pelos estafilococos e pseudomonas |
Levofloxacina
Esparfloxacina |
Têm
uma actividade melhorada contra os estreptococos, incluindo pneumococos
resistentes às penicilinas. |
Clinafloxacina
Trovafloxacina |
Drogas
ainda em fase de investigação, oferecendo actividade
melhorada contra anaeróbios |
Aminoglicosidos |
Gentamicina,
netilmicina, amicacina, tobramicina, estreptomicina e canamicina |
Eficazes
contra enterobacteriáceas gram-negativas e contra as micobacterias.
Potencialmente neuro, nefro e ototóxicas |
Estreptograminas |
Pristinamicina
e Sinercide (Quinupristina + dalfopristina) |
Drogas
ainda em investigação, estruturalmente semelhantes aos
macrólidos, com largo espectro de acção contra
estreptococos e estafilococos, incluindo algumas estirpes meticilino-resistentes,
usadas principalmente nas infecções por enterococos
vancomicino-resistentes. |
3
Algumas regras práticas a seguir na utilização
de antibióticos
Como podemos verificar, é grande a diversidade de grupos de antibacterianos
e são múltiplas as situações em que há
necessidade de os utilizar. Para que a sua prescrição seja
o mais correcta possível, devemos ter em atenção
algumas regras práticas.
A regra de ouro para a utilização de um antibiótico,
seria proceder à sua utilização apenas depois de
identificado o agente etiológico no produto orgânico afectado.
Em condições ideais, sempre que isso for possível,
deve proceder-se à colheita do produto orgânico para análise
bacteriológica e eventual teste de sensibilidade aos antibióticos
(TSA) antes de iniciar qualquer terapêutica. Uma vez conhecido o
resultado, deve considerar-se se é necessário modificar
a atitude inicial. Se, por exemplo, for isolado um microorganismo em produto
biológico que habitualmente não está ocupado por
flora bacteriana ou exposto ao ambiente externo, como o líquor
ou o sangue, o resultado deverá ser tido em conta na avaliação
da necessidade de modificar a terapêutica já iniciada. Se,
pelo contrário, o isolamento de agentes inesperados for proveniente
do aparelho respiratório, orofaringe ou superfícies corporais,
a decisão de alterar a terapêutica só deverá
ser tomada se a resposta clínica não estiver a ser favorável.
Deve, no entanto, ter-se em consideração que a eventual
má resposta à terapêutica poderá estar relacionada
com outras situações, como:
1. selecção inapropriada da droga, da dose ou via de administração;
2. retenção de corpo estranho ou pus no local da infecção;
3. fraco poder de penetração ou má difusão
da droga no local da infecção;
4. superinfecção secundária, no decurso de terapêutica
antibiótica prolongada;
5. emergência de infecção por estirpe resistente;
6. participação de dois ou mais microorganismos no processo
infeccioso;
7. presença de doença subjacente com diminuição
dos mecanismos de defesa.
Todavia, em Medicina Geral e Familiar somos muitas vezes chamados a tomar
decisões terapêuticas com base apenas em elementos clínicos,
sem ser possível, no momento, fazer um diagnóstico etiológico
preciso.
Desse modo, somos muitas vezes confrontados com a necessidade de tomar
uma decisão terapêutica com base num diagnóstico de
presunção, sendo sempre difícil saber até
que ponto tomamos a atitude mais correcta.
Se, por um lado, o tratamento precoce pode favorecer o prognóstico,
há que considerar sempre se o curso da doença poderá,
de facto, ser modificado favoravelmente pela antibioterapia e se não
correremos o risco de tomarmos atitudes potencialmente prejudiciais, seja
pela ocorrência de reacções adversas (por hipersensibilidade,
por toxicidade directa ou por interacção com outros fármacos),
seja por facilitar o desenvolvimento de resistências aos antibióticos.
Também é sabido que a mesma situação clínica,
mesmo observada por clínicos experimentados, dá origem a
diferentes atitudes terapêuticas, o que prova que não é
fácil decidir com base apenas em dados clínicos. Vários
são os dados que apontam para o abuso de antibióticos em
situações que não justificariam a sua utilização,
como por exemplo as infecções respiratórias superiores
ou a bronquite aguda em doentes anteriormente saudáveis.
Além disso, doenças aparentemente semelhantes podem originar
quadros clínicos muito diversos, o que se relaciona com a interacção
entre os agentes biológicos patogénicos e os seus hospedeiros,
havendo factores como o sexo, a idade, a presença de situações
fisiológicas ou patológicas particulares (gravidez, aleitamento,
perturbações enzimáticas ou metabólicas, diminuição
das funções hepática ou renal, deficiências
imunitárias, alergia a fármacos) que podem condicionar o
uso de antibacterianos.
Todos estes factos levam a uma permanente necessidade de actualização,
de modo a conhecer qual a melhor prática no momento, em função
dos conhecimentos científicos existentes e que se traduz, frequentemente,
em protocolos de actuação que poderemos conhecer em pormenor
para as situações mais frequentes em Medicina Geral e Familiar
nos capítulos correspondentes deste manual.
Como regras práticas genéricas, poderemos dizer que os médicos
devem ser criteriosos no uso de antibióticos e, de acordo com os
Centers for Disease Control (CDC), seguir as seguintes regras:
1. Não prescrever antibióticos nas «constipações».
Qualquer quadro de infecção do tracto respiratório
superior que curse com sintomatologia que envolva múltiplos órgãos,
muito provavelmente terá etiologia viral, pelo que não se
justifica o uso de antibiótico.
2. Não prescrever antibióticos como primeira medida terapêutica
na bronquite aguda não complicada, a não ser que a tosse
persista por mais de 10-14 dias, pois não está provado que
o seu uso altere o curso do quadro clínico.
3. Nas infecções da orofaringe, limitar o uso de antibióticos
apenas nos casos documentados de infecção estreptocócica.
4. Na otite média aguda, tratá-la com antibiótico
se os sintomas (otalgia, febre, hiperémia e abaulamento do tímpano)
forem muito intensos ou se persistirem por mais de 24-48 horas.
5. Não tratar com antibiótico a otite serosa ou a otorreia
residual a uma otite aguda (é normal que persista por vezes até
6 semanas após o episódio inicial).
6. Na sinusite aguda, não prescrever antibiótico a não
ser que a dor e a febre sejam severas ou os sintomas (tosse e/ou obstrução
nasal) persistam por mais de 2 semanas.
7. Manter-se actualizado sobre as resistências dos patogénicos
mais comuns na comunidade e modificar a sua actuação em
função desse conhecimento.
4
Alguns problemas particulares relacionados com a terapêutica
antibiótica
Reacções
adversas
Um dos problemas mais frequentemente relacionados com o uso de antibióticos
é o aparecimento de reacções adversas. Quase todos
podem originá-las, podendo as mais comuns serem originadas por
reacções de hipersensibilidade (por exemplo, febre, rash
cutâneo, anafilaxia) ou por toxicidade directa (por exemplo, diarreia,
vómitos, alteração da função renal
e hepática, neurotoxicidade). A maioria dessas reacções
é previsível e frequentemente dose-dependentes, podendo,
nesse caso, ser evitadas com ajustamentos posológicos. Para reconhecer
um efeito acessório, deveremos verificar se a medicação
prescrita está a ser efectivamente administrada, se o início
do efeito surgiu depois de ter sido iniciado o medicamento e que tipo
de resposta surge quando se suspende a sua toma. Tendo isso em conta,
devemos procurar na literatura a descrição de casos semelhantes.
As situações mais frequentes estão exemplificadas
nos Quadros III e IV.
8
Quadro III
Reacções
adversas comuns induzidas pelos antibióticos
|
Droga |
Reacção |
Aminoglicosidos |
Nefrotoxicidade,
ototoxicidade |
Cefalosporinas |
Diarreia
ou colite
Reacções de hipersensibilidade |
Clindamicina |
Diarreia
ou colite
Erupção cutânea morbidiforme |
Eritromicina |
Hepatite
colestática |
Fluorquinolonas |
Intolerância
gastro-intestinal
Anomalias do sistema nervoso central |
Gentamicina |
Nefrotoxicidade |
Macrólidos
e azalidos |
Intolerância
gastro-intestinal |
Metronidazol |
Intolerância
gastro-intestinal, toxicidade neurológica |
Minociclina |
Vertigens,
ataxia |
Penicilinas |
Reacções
de hipersensibilidade |
Tetraciclinas |
Intolerância
gastro-intestinal
Candidíase vaginal
Vertigens, ataxia |
Trimetoprim-sulfametoxazol |
Intolerância
gastro-intestinal
Reacções de hipersensibilidade |
Vancomicina |
Reacções
de hipersensibilidade
(sindrome do pescoço vermelho) |
9
Quadro IV
Reacções
adversas relacionadas com antibióticos beta-lactâmicos
|
Droga |
Reacção |
Penicilinas |
Amoxicilina
isolada ou associada a inibidores das becta-lactamases |
Diarreia |
Ampicilina,
metacilina sódica |
Nefrite
intersticial aguda |
Carbenicilina,
ticarcilina |
Sobrecarga
de sódio ou de fluidos
Hipocaliémia, aumento da agregação plaquetar
e manifestações hemorrágicas |
Oxacilina
sódica |
Hepatotoxicidade |
Cefalosporinas |
Cefaclor |
Reacção
tipo "doença-do-soro" |
Cefixime |
Diarreia |
Cefoperazona,
cefotetan |
Reacções
tipo disulfirame |
Imipenem |
Tremores |
Interacções com os antibióticos
Também
frequente é a interacção de grande parte dos antibióticos
com diversos fármacos, surgindo efeitos acessórios indesejados
e perturbando a biodisponibilidade e o metabolismo de um ou outro ou de
ambos. No Quadro V apresenta-se uma listagem das interacções
medicamentosas mais frequentes.
10
Quadro V
Potenciais
interacções com antibióticos
|
Antibiótico |
Droga
com que interage |
Efeito
da associação |
Aminoglicosidos |
Anfotericina
B, ciclosporina, cisplatinio
AINES, vancomicina
Penicilinas (em doentes com insuficiência renal)
Ácido etacrínico, furosemida |
Nefrotoxicidade
aumentada
Eficácia diminuida dos aminoglicosidos parentéricos
Potencial aumentado de otoxicidade
|
Amoxicilina
e ampicilina |
Alopurinol
Betabloqueantes orais |
Frequência
aumentada de rash cutâneo
Absorção diminuida dos betabloqueantes |
Macrólidos
(eritromicina, claritromicina) |
Carbamazepina
Corticosteroides
Teofilina
Varfarina sódica
Digoxina
Alcalóides da ergotamina Antihistamínicos não-sedativos
(terfenadina, astemizol)
|
Aumento
da toxicidade da carbama-zepina
Aumento dos efeitos acessórios dos corticóides
Aumento da toxicidade da teofilina
Aumento do risco de hemorragia
Toxicidade dos digitálicos
Toxicidade dos derivados da cravagem
Arritmias ventriculares |
Todas
Enoxacina
Norfloxacina
Ciprofloxacina
|
Cimetidina,
alumínio, cálcio, ferro, magnésio, zinco, antiácidos,
sucralfate |
Aumento
dos níveis das quinolonas
Redução da absorção das quinolonas
Redução dos níveis das quinolonas |
Fenbufeno, teofilina |
Convulsões,
aumento dos níveis de teofilina |
Teofilina |
Aumento
dos níveis da teofilina |
Teofilina |
Aumento
dos níveis da teofilina |
Nitrofurantoína |
Antiácidos
com magnésio |
Redução
da absorção da nitrofurantoína |
Metronidazol |
Varfarina
Álcool |
Aumento
do risco de hemorragia
Reacções tipo disulfirame |
Sulfonamidas |
Anticoagulantes
orais
Ciclosporina
Metotrexato
Fenitoína
Sulfonilureias |
Prolongamento
do tempo de protrombina
Redução dos níveis de ciclosporina
Toxicidade do metotrexato
Toxicidade da fenitoína
Aumento do risco de hipoglicemia
|
Tetraciclinas |
Alumínio,
bismuto, ferro
Barbitúricos, carbamazepina, fenitoína
Digoxina |
Redução
da absorção da tetraciclina
Redução do efeito da tetraciclina
Aumento
da toxicidade da digoxina
|
Trimetoprim-sulfametoxazol |
Anticoagulantes
orais
Ciclosporina
Fenitoína
Glipizida
Metotrexato |
Aumento
do efeito anticoagulante
Nefrotoxicidade
Toxicidade da fenitoína
Aumento do risco de hipoglicemia
Supressão medular |
Superinfecção
secundária
O uso de alguns antibióticos de largo espectro de acção
pode levar a alterações da flora bacteriana saprófita,
podendo, por esse motivo, ocorrer superinfecções secundárias.
Entre esses fármacos contam-se as tetraciclinas e as sulfonamidas
e muitas cefalosporinas de última geração, por serem
menos activas contra os gram-positivos, particularmente os estafilococos
e os enterococos.
Antibióticos
e gravidez, lactação e contracepção hormonal
A gravidez e a lactação são situações
que aumentam o risco de reacções adversas a alguns agentes
antimicrobianos. Por outro lado, as dificuldades de natureza ética
em desenvolver ensaios com antibióticos em grávidas levam
a que as recomendações existentes neste contexto sejam,
na sua grande maioria, derivadas de resultados de estudos em animais e
da experiência médica acumulada com a sua utilização.
No quadro 385.VI é apresentada a classificação proposta
pela «Food and Drug Administration» (FDA), sendo de
salientar que nenhum antibiótico consta da classe A (ausência
de risco para o feto com base em estudos clínicos em humanos).
Relativamente ao uso de antibióticos concomitantemente com a anticoncepção
oral, tem sido descrito que a rifampicina, a ampicilina, a amoxicilina
e as tetraciclinas, podem diminuir a eficácia dos anticoncepcionais
orais por acelerarem o seu metabolismo hepático, devendo, por isso,
ser considerada a necessidade de uso de outros métodos anticoncepcionais
adicionais durante o período de toma desses fármacos.
11
Quadro VI
Classificação
dos antibióticos de acordo com o grau de risco na gravidez
(FDA)
|
Categoria |
Descrição |
Exemplos |
A |
Sem
risco fetal humano |
|
B |
Sem
evidência de risco fetal humano; possível evidência
de toxicidade fetal animal |
Becta-lactâmicos
e inibidores beta-lactâmicos, cefalos-porinas, monobactans,
eritromicina, azitromicina, acido nalidixico, clindamicina, metronidazol,
sulfonamidas, anfotericina B |
C |
Risco
fetal humano desconhecido ou evidência definitiva de toxicidade
fetal animal |
Carbapenems,
gentamicina, claritromicina, fluorquinolonas, trimetoprim, vancomicina |
D |
Risco
fetal verificado; benefícios potenciais justificam o uso
quando não há alternativa disponível mais segura |
Aminoglicosidos,
tetraciclinas, estreptomicina |
X |
O
risco fetal humano sobrepõe-se aos potenciais benefícios
Contraindicado para uso na gravidez |
|
Antibióticos
e os alimentos
A presença de alimentos não influencia significativamente
a biodisponibilidade da maior parte dos antibióticos administrados
por via oral.
São excepção as quinolonas, as tetraciclinas e a
roxitromicina, que podem originar reacções quelantes com
metais pesados, presentes em muitos alimentos, pelo que devem ser tomadas
fora das refeições.
O
custo dos antibióticos
Devido ao seu uso generalizado, os antibióticos podem originar
elevados custos, tanto para os indivíduos, como para os sistemas
de saúde que os suportam.
Se bem que não deva ser o único factor a ter em conta, é
também função do médico considerar o custo
na escolha de um antibiótico, devendo dar-se prioridade ao medicamento
mais barato, perante igual eficácia e toxicidade.
No quadro 385.VII apresenta-se o custo diário médio, em
dólares, de alguns dos mais frequentes antibióticos utilizados
em ambulatório.
12
Quadro VII
Custos
diários com a terapêutica antimicrobiana
|
Agente
antimicrobiano |
Custo
diário médio em USD |
Cefuroxime |
7.52 |
Cefaclor |
6.81 |
Amoxicilina/Ácido
clavulânico |
5.10 |
Ciprofloxacina |
4.99 |
Claritromicina |
4.04 |
Amoxicilina |
0.56 |
Eritromicina |
0.36 |
Doxiciclina |
0.19 |
Penicilina
V |
0.16 |
Trimetoprim/Sulfametoxazol |
0.13 |
13
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