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Parte IV – Problemas clínicos
4.12. Abordagem do paciente com doenças transmissíveis

385. Utilização racional dos antibióticos - princípios gerais e regras práticas
José Mendonça Costa

Documento de trabalho
última actualização em Dezembro 2000

Contacto para comentários e sugestões: Simões, José Augusto

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Introdução

Durante vários milénios, o combate das doenças infecciosas limitou-se a algumas práticas, herdadas de tempos imemoriais e ditadas pelos usos e costumes de cada povo.
Em algumas décadas, desde os anos 30 até aos anos 60, a descoberta e introdução no arsenal terapêutico de drogas como as sulfonamidas e a penicilina, veio permitir que o panorama da mortalidade se alterasse radicalmente, fazendo com que dezenas de doenças infecciosas deixassem de ser causa habitual de morte.
Com a aplicação destes e de outros fármacos, difundiu-se assim o uso da classe terapêutica dos antibióticos, inicialmente assim designados por serem entendidos como «substâncias contra a vida», conceito este modificado posteriormente, dum modo mais rigoroso, para «toda a substância química, de natureza animal, vegetal ou sintética, que seja antagonista do desenvolvimento de microorganismos» devendo por isso ser designados, com maior rigor, por anti-bacterianos.
Hoje em dia conhecem-se mais de 5000 antibióticos, tendo sido cerca de 1000 cuidadosamente investigados, dos quais, todavia, apenas cerca de 100 são correntemente utilizados para tratamento de infecções.
Todavia, nos últimos anos, a emergência de novas doenças infecciosas, como a Doença de Lyme (Borrellia burgdorferi), o sindroma do choque tóxico (uso de tampões associado a toxinas produzidas por estirpes de Staphylococcus aureus), a Doença dos Legionários (Legionella), a febre hemorrágica do Ebola, a Hepatite C e a infecção por HIV-SIDA, entre muitas outras, fizeram esbater o brilho dos sucessos do passado.
Paralelamente, o aparecimento de estirpes de bactérias resistentes a um número cada vez maior de antibióticos, como as estirpes de Staphylococcus aureus meticilino-resistentes, resistentes mesmo à vancomicina, e as estirpes de Enterococcus faecalis ou de Mycobacterium tuberculosis praticamente resistentes a todos os antibióticos, vêm recolocar a questão do seu uso adequado.
A selecção menos apropriada dos antibióticos, a utilização de doses ineficazes ou uma insuficiente duração do tratamento, por vezes associada a automedicação ou toma de antibióticos sem vigilância médica, têm sido apontados como responsáveis pelo aparecimento crescente destas resistências.
Também o uso generalizado de antibióticos na criação de animais, para promover o seu crescimento, e também na agricultura, sob a forma de aerossóis aplicados em vastas áreas de cultivo, nomeadamente de pomares, têm também promovido a selecção de estirpes cada vez mais resistentes aos antibióticos.
Todos estes factos determinam uma necessidade de assegurar uma formação permanente e actualizada do médico, permitindo que ele permaneça informado quer sobre as novas características dos agentes patogénicos, quer sobre o aparecimento de novas drogas e os critérios de utilização dos antibióticos na sua prática diária.
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Classificação e características dos principais antibacterianos
São várias as classificações possíveis dos antibióticos, podendo ser classificados pelo seu mecanismo de acção (Fig.1), pelo seu efeito bactericida ou bacteriostático (Quadro I) ou então pela sua estrutura química.
Por facilidade metodológica iremos utilizar esta última classificação.
No quadro II incluímos os principais grupos farmacológicos, indicando para cada um, os principais antibacterianos que os constituem e as suas características básicas.
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Figura 1
Classificação dos antibióticos por tipo de acção
(adaptado de SteinJ. Internal Medicine. Mosby. St. Louis. 199412)

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Quadro I

Classificação dos antibióticos pelo seu efeito sobre a bactéria
Bacteriostáticos Bactericidas
Cloranfenicol
Lincosaminas
Macrólidos
Sulfonamidas
Tetraciclinas
Aminoglicosidos
Beta-lactâmicos
Fosfomicina
Nitrofurantoína
Polipéptidos
Quinolonas
Rifampicina
Vancomicina


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Quadro II

Classificação dos Antibióticos
Grupo Farmacológico Antimicrobiano Principais características
Penicilinas

Penicilina G (Procaínica, benzatínica) e Penicilina V (feno-ximetilpenicilina)

Activos contra gram-positivos e alguns gram-negativos
Susceptíveis à hidrólise por beta-lactamases.

Aminopenicilinas (ampicilina, amoxicilina),

Espectro alargado a mais gram-negativos, mas menos activas contra os gram-positivos. Também susceptíveis às beta-lactamases

Penicilinas resistentes às penicilinases (Dicloxacilina e flucloxacilina)

Usadas nas infecções estafilocócicas
Penicilinas combinadas com inibidores das beta-lactamases (Ac. Clavulânico ou sulbactam) Resistentes à maioria das penicilinases (espectro mais alargado)
Cefalosporinas 1ª Geração:
Cefalotina, cefapirina, cefazolina, cefradina*, cefalexina*, cefadroxil*
Boa actividade contra os gram-positivos e muitos dos gram-negativos prevalentes na comunidade. Activas contra estreptococos e estafilococos aureus, mas não activas contra os enterococos ou estafilococos meticilino-resistentes.

2ª Geração:
Cefamandole, cefonicide, ceforanide, cefotetan, cefprozil*,
Cefaclor*, cefoxitina, cefuroxime, cefuroxime axetil*, cefoxitina

Grupo heterogéneo, com diferenças marcadas na actividade, farmacocinética e toxicidade. Espectro genericamente semelhante às de 1ª geração com cobertura alargada nos gram-negativos, incluindo a Escherichia, Klebsiela os Proteus ou a Moraxella e as estirpes de H Influenzae resistentes às beta-lactamases.
Menos activas contra os gram-positivos.
3ª Geração:
Cefodizima, cefixime*, cefotaxima, ceftazidima, ceftriaxona, ceftizoxima, cefatrizina, cefoperazona, moxalactam, cefpodoxime proxetil*, ceftibuteno*
Menor actividade contra os gram-positivos do que as de 1ª e 2ª gerações, mas mais activas contra gram-negativos do que as anteriores.
4ª Geração:
Cefepime
Espectro comparável às de 3ª geração, mas mais resistentes a algumas beta-lactamases.
* Drogas disponíveis para administração oral
Macrólidos e azalidos Eritromicina
Espiramicina
Roxitromicina
Claritromicina
Azitromicina
Espectro de acção semelhante ao da penicilina, sendo também activos nos géneros Chlamydiae, Mycoplasma, Legionella e Campilobacter.
Os azalidos são mais ácido-estáveis e têm uma semi-vida maior
Tetraciclinas

Oxitetraciclina

Doxiciclina

Minociclina

Drogas recomendadas para tratamento de infecções por Chlamidiae, Ricketsiae, Vibrio e algumas infecções por espiroquetas

A minociclina pode ser usada para a erradicação da Neisseria meningitidis nos portadores que não podem fazer rifampicina

Sulfonamidas Sulfonilamida, Trimetoprim
Trimetoprim + sulfametoxazol
Indicados na terapêutica das infecções urinárias, na pneumonia por Pneumocistis carinii e nalgumas infecções por parasitas, como a toxoplasmose e a malária, assim como no tratamento da lepra

Anti-sépticos urinários e

Quinolonas

Ácido nalidíxico
Ácido oxolínico
Ácido pipemídico
Fosfomicina
Menor actividade contra gram-positivos do que contra os gram-negativos. As primeiras foram usadas como anti-sépticos urinários.
Ciprofloxacina
Lomefloxacina
Norfloxacina
Ofloxacina
Rosoxacina
Estes novos derivados têm potente acção bactericida; alguma toxicidade e alto custo, bem como possibilidade de resistência desenvolvida pelos estafilococos e pseudomonas
Levofloxacina
Esparfloxacina
Têm uma actividade melhorada contra os estreptococos, incluindo pneumococos resistentes às penicilinas.
Clinafloxacina
Trovafloxacina
Drogas ainda em fase de investigação, oferecendo actividade melhorada contra anaeróbios
Aminoglicosidos Gentamicina, netilmicina, amicacina, tobramicina, estreptomicina e canamicina Eficazes contra enterobacteriáceas gram-negativas e contra as micobacterias. Potencialmente neuro, nefro e ototóxicas
Estreptograminas Pristinamicina e Sinercide (Quinupristina + dalfopristina) Drogas ainda em investigação, estruturalmente semelhantes aos macrólidos, com largo espectro de acção contra estreptococos e estafilococos, incluindo algumas estirpes meticilino-resistentes, usadas principalmente nas infecções por enterococos vancomicino-resistentes.

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Algumas regras práticas a seguir na utilização de antibióticos
Como podemos verificar, é grande a diversidade de grupos de antibacterianos e são múltiplas as situações em que há necessidade de os utilizar. Para que a sua prescrição seja o mais correcta possível, devemos ter em atenção algumas regras práticas.
A regra de ouro para a utilização de um antibiótico, seria proceder à sua utilização apenas depois de identificado o agente etiológico no produto orgânico afectado.
Em condições ideais, sempre que isso for possível, deve proceder-se à colheita do produto orgânico para análise bacteriológica e eventual teste de sensibilidade aos antibióticos (TSA) antes de iniciar qualquer terapêutica. Uma vez conhecido o resultado, deve considerar-se se é necessário modificar a atitude inicial. Se, por exemplo, for isolado um microorganismo em produto biológico que habitualmente não está ocupado por flora bacteriana ou exposto ao ambiente externo, como o líquor ou o sangue, o resultado deverá ser tido em conta na avaliação da necessidade de modificar a terapêutica já iniciada. Se, pelo contrário, o isolamento de agentes inesperados for proveniente do aparelho respiratório, orofaringe ou superfícies corporais, a decisão de alterar a terapêutica só deverá ser tomada se a resposta clínica não estiver a ser favorável.

Deve, no entanto, ter-se em consideração que a eventual má resposta à terapêutica poderá estar relacionada com outras situações, como:
1. selecção inapropriada da droga, da dose ou via de administração;
2. retenção de corpo estranho ou pus no local da infecção;
3. fraco poder de penetração ou má difusão da droga no local da infecção;
4. superinfecção secundária, no decurso de terapêutica antibiótica prolongada;
5. emergência de infecção por estirpe resistente;
6. participação de dois ou mais microorganismos no processo infeccioso;
7. presença de doença subjacente com diminuição dos mecanismos de defesa.

Todavia, em Medicina Geral e Familiar somos muitas vezes chamados a tomar decisões terapêuticas com base apenas em elementos clínicos, sem ser possível, no momento, fazer um diagnóstico etiológico preciso.
Desse modo, somos muitas vezes confrontados com a necessidade de tomar uma decisão terapêutica com base num diagnóstico de presunção, sendo sempre difícil saber até que ponto tomamos a atitude mais correcta.
Se, por um lado, o tratamento precoce pode favorecer o prognóstico, há que considerar sempre se o curso da doença poderá, de facto, ser modificado favoravelmente pela antibioterapia e se não correremos o risco de tomarmos atitudes potencialmente prejudiciais, seja pela ocorrência de reacções adversas (por hipersensibilidade, por toxicidade directa ou por interacção com outros fármacos), seja por facilitar o desenvolvimento de resistências aos antibióticos.
Também é sabido que a mesma situação clínica, mesmo observada por clínicos experimentados, dá origem a diferentes atitudes terapêuticas, o que prova que não é fácil decidir com base apenas em dados clínicos. Vários são os dados que apontam para o abuso de antibióticos em situações que não justificariam a sua utilização, como por exemplo as infecções respiratórias superiores ou a bronquite aguda em doentes anteriormente saudáveis.
Além disso, doenças aparentemente semelhantes podem originar quadros clínicos muito diversos, o que se relaciona com a interacção entre os agentes biológicos patogénicos e os seus hospedeiros, havendo factores como o sexo, a idade, a presença de situações fisiológicas ou patológicas particulares (gravidez, aleitamento, perturbações enzimáticas ou metabólicas, diminuição das funções hepática ou renal, deficiências imunitárias, alergia a fármacos) que podem condicionar o uso de antibacterianos.
Todos estes factos levam a uma permanente necessidade de actualização, de modo a conhecer qual a melhor prática no momento, em função dos conhecimentos científicos existentes e que se traduz, frequentemente, em protocolos de actuação que poderemos conhecer em pormenor para as situações mais frequentes em Medicina Geral e Familiar nos capítulos correspondentes deste manual.
Como regras práticas genéricas, poderemos dizer que os médicos devem ser criteriosos no uso de antibióticos e, de acordo com os Centers for Disease Control (CDC), seguir as seguintes regras:

1. Não prescrever antibióticos nas «constipações». Qualquer quadro de infecção do tracto respiratório superior que curse com sintomatologia que envolva múltiplos órgãos, muito provavelmente terá etiologia viral, pelo que não se justifica o uso de antibiótico.

2. Não prescrever antibióticos como primeira medida terapêutica na bronquite aguda não complicada, a não ser que a tosse persista por mais de 10-14 dias, pois não está provado que o seu uso altere o curso do quadro clínico.

3. Nas infecções da orofaringe, limitar o uso de antibióticos apenas nos casos documentados de infecção estreptocócica.

4. Na otite média aguda, tratá-la com antibiótico se os sintomas (otalgia, febre, hiperémia e abaulamento do tímpano) forem muito intensos ou se persistirem por mais de 24-48 horas.

5. Não tratar com antibiótico a otite serosa ou a otorreia residual a uma otite aguda (é normal que persista por vezes até 6 semanas após o episódio inicial).

6. Na sinusite aguda, não prescrever antibiótico a não ser que a dor e a febre sejam severas ou os sintomas (tosse e/ou obstrução nasal) persistam por mais de 2 semanas.

7. Manter-se actualizado sobre as resistências dos patogénicos mais comuns na comunidade e modificar a sua actuação em função desse conhecimento.
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Alguns problemas particulares relacionados com a terapêutica antibiótica

Reacções adversas
Um dos problemas mais frequentemente relacionados com o uso de antibióticos é o aparecimento de reacções adversas. Quase todos podem originá-las, podendo as mais comuns serem originadas por reacções de hipersensibilidade (por exemplo, febre, rash cutâneo, anafilaxia) ou por toxicidade directa (por exemplo, diarreia, vómitos, alteração da função renal e hepática, neurotoxicidade). A maioria dessas reacções é previsível e frequentemente dose-dependentes, podendo, nesse caso, ser evitadas com ajustamentos posológicos. Para reconhecer um efeito acessório, deveremos verificar se a medicação prescrita está a ser efectivamente administrada, se o início do efeito surgiu depois de ter sido iniciado o medicamento e que tipo de resposta surge quando se suspende a sua toma. Tendo isso em conta, devemos procurar na literatura a descrição de casos semelhantes. As situações mais frequentes estão exemplificadas nos Quadros III e IV.

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Quadro III

Reacções adversas comuns induzidas pelos antibióticos
Droga Reacção
Aminoglicosidos Nefrotoxicidade, ototoxicidade
Cefalosporinas Diarreia ou colite
Reacções de hipersensibilidade
Clindamicina Diarreia ou colite
Erupção cutânea morbidiforme
Eritromicina Hepatite colestática
Fluorquinolonas Intolerância gastro-intestinal
Anomalias do sistema nervoso central
Gentamicina Nefrotoxicidade
Macrólidos e azalidos Intolerância gastro-intestinal
Metronidazol Intolerância gastro-intestinal, toxicidade neurológica
Minociclina Vertigens, ataxia
Penicilinas Reacções de hipersensibilidade
Tetraciclinas Intolerância gastro-intestinal
Candidíase vaginal
Vertigens, ataxia
Trimetoprim-sulfametoxazol Intolerância gastro-intestinal
Reacções de hipersensibilidade
Vancomicina Reacções de hipersensibilidade
(sindrome do pescoço vermelho)


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Quadro IV

Reacções adversas relacionadas com antibióticos beta-lactâmicos
Droga Reacção
Penicilinas
Amoxicilina isolada ou associada a inibidores das becta-lactamases Diarreia
Ampicilina, metacilina sódica Nefrite intersticial aguda
Carbenicilina, ticarcilina Sobrecarga de sódio ou de fluidos
Hipocaliémia, aumento da agregação plaquetar e manifestações hemorrágicas
Oxacilina sódica Hepatotoxicidade
Cefalosporinas
Cefaclor Reacção tipo "doença-do-soro"
Cefixime Diarreia
Cefoperazona, cefotetan Reacções tipo disulfirame
Imipenem Tremores


Interacções com os antibióticos
Também frequente é a interacção de grande parte dos antibióticos com diversos fármacos, surgindo efeitos acessórios indesejados e perturbando a biodisponibilidade e o metabolismo de um ou outro ou de ambos. No Quadro V apresenta-se uma listagem das interacções medicamentosas mais frequentes.

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Quadro V
Potenciais interacções com antibióticos
Antibiótico Droga com que interage Efeito da associação
Aminoglicosidos Anfotericina B, ciclosporina, cisplatinio
AINES, vancomicina
Penicilinas (em doentes com insuficiência renal)
Ácido etacrínico, furosemida
Nefrotoxicidade aumentada

Eficácia diminuida dos aminoglicosidos parentéricos
Potencial aumentado de otoxicidade
Amoxicilina e ampicilina Alopurinol
Betabloqueantes orais
Frequência aumentada de rash cutâneo
Absorção diminuida dos betabloqueantes
Macrólidos (eritromicina, claritromicina)
Carbamazepina

Corticosteroides

Teofilina
Varfarina sódica
Digoxina
Alcalóides da ergotamina Antihistamínicos não-sedativos
(terfenadina, astemizol)

Aumento da toxicidade da carbama-zepina
Aumento dos efeitos acessórios dos corticóides
Aumento da toxicidade da teofilina
Aumento do risco de hemorragia
Toxicidade dos digitálicos
Toxicidade dos derivados da cravagem
Arritmias ventriculares
Fluorquinolonas

Todas

Enoxacina

Norfloxacina
Ciprofloxacina

Cimetidina, alumínio, cálcio, ferro, magnésio, zinco, antiácidos, sucralfate Aumento dos níveis das quinolonas
Redução da absorção das quinolonas
Redução dos níveis das quinolonas
Fenbufeno, teofilina Convulsões, aumento dos níveis de teofilina
Teofilina Aumento dos níveis da teofilina
Teofilina Aumento dos níveis da teofilina
Nitrofurantoína Antiácidos com magnésio Redução da absorção da nitrofurantoína
Metronidazol Varfarina
Álcool
Aumento do risco de hemorragia
Reacções tipo disulfirame
Sulfonamidas Anticoagulantes orais
Ciclosporina
Metotrexato
Fenitoína
Sulfonilureias
Prolongamento do tempo de protrombina
Redução dos níveis de ciclosporina
Toxicidade do metotrexato
Toxicidade da fenitoína
Aumento do risco de hipoglicemia
Tetraciclinas Alumínio, bismuto, ferro
Barbitúricos, carbamazepina, fenitoína
Digoxina
Redução da absorção da tetraciclina
Redução do efeito da tetraciclina
Aumento da toxicidade da digoxina
Trimetoprim-sulfametoxazol Anticoagulantes orais
Ciclosporina
Fenitoína
Glipizida
Metotrexato
Aumento do efeito anticoagulante
Nefrotoxicidade
Toxicidade da fenitoína
Aumento do risco de hipoglicemia
Supressão medular

Superinfecção secundária
O uso de alguns antibióticos de largo espectro de acção pode levar a alterações da flora bacteriana saprófita, podendo, por esse motivo, ocorrer superinfecções secundárias. Entre esses fármacos contam-se as tetraciclinas e as sulfonamidas e muitas cefalosporinas de última geração, por serem menos activas contra os gram-positivos, particularmente os estafilococos e os enterococos.

Antibióticos e gravidez, lactação e contracepção hormonal
A gravidez e a lactação são situações que aumentam o risco de reacções adversas a alguns agentes antimicrobianos. Por outro lado, as dificuldades de natureza ética em desenvolver ensaios com antibióticos em grávidas levam a que as recomendações existentes neste contexto sejam, na sua grande maioria, derivadas de resultados de estudos em animais e da experiência médica acumulada com a sua utilização.
No quadro 385.VI é apresentada a classificação proposta pela «Food and Drug Administration» (FDA), sendo de salientar que nenhum antibiótico consta da classe A (ausência de risco para o feto com base em estudos clínicos em humanos).
Relativamente ao uso de antibióticos concomitantemente com a anticoncepção oral, tem sido descrito que a rifampicina, a ampicilina, a amoxicilina e as tetraciclinas, podem diminuir a eficácia dos anticoncepcionais orais por acelerarem o seu metabolismo hepático, devendo, por isso, ser considerada a necessidade de uso de outros métodos anticoncepcionais adicionais durante o período de toma desses fármacos.

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Quadro VI
Classificação dos antibióticos de acordo com o grau de risco na gravidez (FDA)
Categoria Descrição Exemplos
A Sem risco fetal humano  
B Sem evidência de risco fetal humano; possível evidência de toxicidade fetal animal Becta-lactâmicos e inibidores beta-lactâmicos, cefalos-porinas, monobactans, eritromicina, azitromicina, acido nalidixico, clindamicina, metronidazol, sulfonamidas, anfotericina B
C Risco fetal humano desconhecido ou evidência definitiva de toxicidade fetal animal Carbapenems, gentamicina, claritromicina, fluorquinolonas, trimetoprim, vancomicina
D Risco fetal verificado; benefícios potenciais justificam o uso quando não há alternativa disponível mais segura Aminoglicosidos, tetraciclinas, estreptomicina
X O risco fetal humano sobrepõe-se aos potenciais benefícios
Contraindicado para uso na gravidez
 


Antibióticos e os alimentos
A presença de alimentos não influencia significativamente a biodisponibilidade da maior parte dos antibióticos administrados por via oral.
São excepção as quinolonas, as tetraciclinas e a roxitromicina, que podem originar reacções quelantes com metais pesados, presentes em muitos alimentos, pelo que devem ser tomadas fora das refeições.

O custo dos antibióticos
Devido ao seu uso generalizado, os antibióticos podem originar elevados custos, tanto para os indivíduos, como para os sistemas de saúde que os suportam.
Se bem que não deva ser o único factor a ter em conta, é também função do médico considerar o custo na escolha de um antibiótico, devendo dar-se prioridade ao medicamento mais barato, perante igual eficácia e toxicidade.
No quadro 385.VII apresenta-se o custo diário médio, em dólares, de alguns dos mais frequentes antibióticos utilizados em ambulatório.

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Quadro VII
Custos diários com a terapêutica antimicrobiana
Agente antimicrobiano Custo diário médio em USD
Cefuroxime 7.52
Cefaclor 6.81
Amoxicilina/Ácido clavulânico 5.10
Ciprofloxacina 4.99
Claritromicina 4.04
Amoxicilina 0.56
Eritromicina 0.36
Doxiciclina 0.19
Penicilina V 0.16
Trimetoprim/Sulfametoxazol 0.13


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