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Parte IV – Problemas clínicos
4.13. Abordagem do paciente com problemas de saúde mental
394. Depressão nos extremos do ciclo da vida
Carlos Canhota
José Augusto Flores
Documento de trabalho
última actualização em Dezembro 2000

Contacto para comentários e sugestões: Silva, Pedro Ribeiro

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Depressão no Idoso
Introdução

A depressão major é uma doença relativamente rara entre a população idosa não institucionalizada. Estudos epidemiológicos apontam para uma prevalência inferior a 3%. No entanto, uma percentagem elevada de idosos (15%) apresentam sintomas significativos de depressão sem que o grau de severidade justifique a sua inclusão nos critérios de classificação da depressão major, como vêm definidos no Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders , quarta edição (DMS-IV). 
A depressão, independentemente da sua severidade, provoca um impacto negativo na actividade funcional diária do idoso e consequentemente na sua qualidade de vida. Ao médico de família (MF), conhecedor da personalidade do seu utente e desperto para os problemas psicológicos, caberá a responsabilidade de diagnosticar e interceder no sentido de minimizar o mais cedo possível o sofrimento humano, quer por iniciativa própria quer referenciando para centros especializados. O MF, trabalhando preferencialmente nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) atende anualmente uma percentagem muito elevada de idosos da comunidade. O acompanhamento de um idoso deprimido carece de uma intervenção multisectorial, como condição necessária para uma efectiva resolução do problema. Ora, o MF, utilizando uma estratégia de abordagem abrangente, isto é, bio-psico-social, está numa posição privilegiada para coordenar todo este apoio.
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O problema na prática clínica
A depressão é frequentemente apontada como uma das causas de sobreutilização das estruturas assistenciais de saúde. Num país em que os idosos já constituem, em muitas zonas, cerca de 20% da população, uma utilização excessiva e menos adequada destas estruturas implicará seguramente gastos financeiros adicionais. 
Embora os casos de depressão, nomeadamente a moderada e ligeira, sejam frequentes e na grande maioria observados pelos MF na área dos CSP, estudos revelam que cerca de metade dos casos não são diagnosticados e, mesmo quando o são, não é proporcionado ao doente um tratamento adequado.
Muitos são os obstáculos para um correcto diagnóstico de depressão no idoso pelo MF. O idoso, apresentando-se frequentemente com queixas múltiplas, propicia ao MF grandes dificuldades de diferenciação diagnóstica. Neste sentido, o quadro clínico em presença tanto pode ser imputado à doença física como à depressão. A depressão, podendo ser a consequência de uma doença física, pode, por sua vez, actuar também como um factor agravante da patologia de base, diminuindo ainda mais as condições físicas do idoso, com consequente deterioração das capacidades para as actividades funcionais diárias, tornando-o socialmente mais dependente. Considerar sintomas depressivos como condição “normal do idoso” é ainda opinião generalizada, da parte da família, do próprio doente e até do clínico, determinando frequentemente, um atraso no diagnóstico e perpetuando uma situação de sofrimento. A depressão está portanto definitivamente associada a um aumento da morbilidade e mortalidade do idoso. Por outro lado, o risco de uma depressão aumenta consideravelmente nos idosos com doenças crónicas e debilitantes, apresentando uma percentagem muito alta em alguns casos. São apresentadas no Quadro 1 algumas patologias mais frequentemente associadas à depressão.3

Quadro I
Prevalência de depressão em doentes com doenças crónicas e debilitantes
Sequelas de acidentes vasculares cerebrais 45%
Neoplasias  47%
Parkinsónicos  40%
Enfarte do miocárdio 30 a 48%
Diabetes mellitus 10 a 60%
Dor crónica 50%
Artrite reumatóide 42%


Limitações sensoriais, indevidamente valorizadas e por conseguinte não convenientemente atenuadas, favorecem também o desenvolvimento de uma depressão. Os factores sociais são também causas predisponentes da depressão no idoso. São condições a ter em conta, o facto de os idosos estarem na situação de reforma (perda de estatuto), estarem numa situação económica desfavorável, afastados do seu meio ambiente (por exemplo mudança domiciliária), numa situação de perda recente da pessoa amada ou simplesmente dos seus amigos e colegas, socialmente isolados, com défices sensoriais ou demência ou acometidos de doenças crónicas e debilitantes. Estas situações complexas e interactivas só serão apercebidas com a prática de uma medicina holística, incidindo na pessoa humana em todas as suas dimensões e não se limitando à medicação sintomatológica, sem qualquer incidência na essência do problema, corroborando a perpetuação da situação subjacente.
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Avaliação diagnóstica
É muitas vezes difícil ao médico conseguir uma história clínica detalhada quer por défice cognitivo do idoso quer por relutância deste em abordar problemas psicológicos com o seu médico. O clínico, por sua vez, tem tendência a focalizar a sua atenção nas queixas somáticas, não valorizando os estados afectivo/psicológico, comportamental ou cognitivo do idoso. Muitas vezes, o clínico considera todo o quadro depressivo como simplesmente fazendo parte de um processo normal do envelhecimento. Uma alteração relativamente rápida da personalidade, da esfera cognitiva ou funcional, ou simplesmente um aumento excessivo de pedido de consultas, deverá alertar o MF para a eventual presença de uma depressão. Estigmas relacionados com doenças mentais poderão impedir o idoso de compartilhar com o médico problemas do foro emocional. As queixas emocionais e/ou sentimentais, são muitas vezes entendidas como não relacionados com a área de intervenção médica e, por conseguinte, a sua explanação é considerada pelo idoso fora do contexto. Tendo em conta as múltiplas patologias do idoso, é importante excluir patologia física que possa colocar problemas de diagnóstico diferencial, nomeadamente avaliação da função tiroideia e situações de depressão precipitadas por acção medicamentosa ou drogas, pelo que é indispensável indagar com pormenor toda a medicação em curso (Quadro II). 5

Quadro II
Medicamentos e drogas que podem precipitar uma depressão
Anti-inflamatórios e analgésicos
Indometacina
Fenacetina
Fenilbutazona
Pentazocina
Antibióticos
Sulfamidas
Etambutol
Cicloserina
Antihipertensivos e cardiovasculares
Digitálicos
Clonidina
Guanetidina
Metildopa
Reserpina
Hidralazina
Propanolol
Indapamida
Prazosina
Sistema nervoso central
Amantidina
L-Dopa
Barbitúricos
Derivados da succinamida
Benzodiazepinas
Haloperidol
Fenotiazinas
Alcool
Anfetaminas
Hormonas
Corticosteroides
Estrogénios
Progesterona
Outros
Disulfiran
Fisostigmina
Agentes antineoplásicos
Pesticidas orgânicos

É também importante indagar sobre a existência, no passado, de episódios depressivos assim como de quaisquer acontecimentos marcantes na vida do idoso.
O humor depressivo (tristeza; melancolia) e uma assinalada diminuição de interesse e prazer para as actividades que normalmente lhes seriam agradáveis, constituem pedra angular no diagnóstico da depressão. Embora controverso, é classicamente referido que o idoso deprimido tende a não expressar sentimentos de tristeza ou remorso e, em vez disso, são mais frequentes queixas de redução do sono, especialmente o acordar muito cedo, anorexia e perda de peso, fadiga e quebra na actividade física e intelectual não explicada por qualquer outra patologia subjacente.
Para o diagnóstico de depressão major, é necessária a presença de cinco ou mais dos sintomas definidos no DSM-IV durante duas semanas consecutivas (Quadro III).
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Quadro III

Critérios de classificação da depressão major 
(Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders -DMS-IV)

A - Estão presentes cinco (ou mais) dos seguintes sintomas durante duas semanas e representam uma alteração do funcionamento prévio; pelo menos um dos sintomas é (1) humor depressivo ou (2) perda de prazer ou interesse.
Nota:não incluir os sintomas que são claramente provocados por um estado fisico geral ou ideias delirantes ou alucinações que são incongruentes com o humor.
(1) Humor depressivo durante a maior parte do dia, quase todos os dias, indicados ou pelo relato subjectivo (ex:sente-se triste ou vazio) ou pela observação de outros (ex:parece choroso);
Nota:Em crianças e adolescentes o humor pode ser irritável.
(2) Diminuição clara do interesse ou prazer em todas, ou quase todas, as actividades durante a maior parte do dia, quase todos os dias (indicado pelo relato subjectivo ou pela descrição de outros);
(3) Perda de peso, quando não está a fazer dieta, ou aumento de peso significativo (ex:uma alteração de mais de 5% do peso corporal num mês), ou diminuição ou aumento do apetite quase todos os dias;
Nota.Em crianças,deve-se considerar o não atingimento dos aumentos esperados de peso. 
(4) Insónia ou hipersónia quase todos os dias;
(5) Agitação ou inibição psicomotora quase todos os dias (observável por outros, e não meramente pelo relato subjectivo de se sentir agitado ou lento);
(6) Fadiga ou perda de energia quase todos os dias;
(7) Sentimentos de desvalorização ou culpa excessiva ou inapropriada (que pode ser delirante) quase todos os dias (não meramente autocensura ou sentimentos de culpa por estar doente);
(8) Diminuição da capacidade de pensamento ou concentração, ou indecisão, quase todos os dias (ou pelo relato ou pela observação de outros);
(9) pensamentos recorrentes acerca da morte (não somente acerca do medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico ou uma tentativa de suicidio ou um plano específico para cometer suicídio.
B - Os sintomas não preenchem os critérios para Episódio Misto
C - Os sintomas causam mal estar clinicamente significativo ou deficiência no funcionamento social ocupacional ou qualquer outra área importante.
D - Os sintomas não são provocados pelo efeito fisiológico directo de uma substância (ex:abuso de drogas,medicação) ou um estado fisico geral (ex:hipotiroidismo).
E - Os sintomas não são melhor explicados pelo luto, isto é, depois da perda de um ente querido, os sintomas persistem por mais de dois meses ou são caracterizados por uma marcada deficiência funcional, preocupação mórbida com sentimentos de desvalorização pessoal, ideação suicida, sintomas psicóticos ou inibição psicomotora.


O diagnóstico de distimia é posto quando o sintoma de tristeza persiste por dois anos ou mais, para além de dois ou mais dos seguintes sintomas: baixa de auto-estima, dificuldade de concentração, dificuldade em tomar decisões, sentimento de vida sem expectativas, falta de apetite ou ingestão alimentar em excesso, cansaço, insónia ou sonolência. A distimia, embora considerada uma forma menos grave de depressão, pode interferir de uma forma significativa na actividade funcional diária do idoso.
Entrevistas ou questionários estruturados como o Geriatric Depression Scale (GDS) (Quadro 4) e outros são genericamente aceites como podendo ser úteis para a orientação diagnóstica do clínico. Uma outra forma de avaliação seria interpelar directamente o idoso, utilizando perguntas tendo por base, por exemplo, os nove sintomas definidos como critérios da DSM-IV.
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Quadro IV

 Escala Geriátrica para a Depressão (GDS)

Escolha a resposta mais adequada tendo em conta o que sentiu na última semana.
Favor assinalar a resposta com um círculo.
1 Está basicamente satisfeito com a sua vida? Sim Não(1) 
2 Deixou de estar interessado e de fazer coisas que lhe eram agradáveis? Sim (1) Não 
3 Acha que a sua vida está num vazio? Sim (1) Não 
4 Fica muitas vezes aborrecido? Sim (1) Não 
5 Está na maior parte do tempo bem disposto? Sim Não(1) 
6 Está com medo de que algo de mau lhe irá acontecer? Sim (1) Não 
7 Sente-se na maior parte do tempo feliz? Sim Não(1) 
8 Sente-se desprotegido? Sim (1) Não 
9 Prefere ficar em casa em vez de sair e fazer coisas novas? Sim (1) Não 
10 Acha que tem menos memória do que a maior parte das pessoas da sua idade? Sim (1) Não 
11 Pensa que é maravilhoso estar ainda vivo? Sim Não(1) 
12 Como está agora sente-se desvalorizada? Sim (1) Não 
13 Sente-se com plena energia? Sim Não(1) 
14 Sente numa situação sem esperança? Sim (1) Não 
15 Pensa que a maior parte das pessoas está melhor que você? Sim (1) Não 
Pontuação: 0-5 – Normal; acima de 5 é sugestivo de depressão

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Possibilidades de intervenção em MGF
As condições adversas a que um idoso está muitas vezes sujeito, constituem um desafio ao MF na forma de gerir esta situação, obrigando-o a ponderar convenientemente todas as formas de intervenção. A barreira artificial corpo/mente deve ser abolida dando lugar a uma intervenção global física, psicológica e social baseada numa atitude centrada no doente. O MF, com uma postura de escuta atenta, proporciona uma mais fácil expressão de sentimentos e emoções, potencializando ao máximo o seu efeito placebo.
Os idosos com problemas socio-económicos tais como pobreza, alojamento inadequado, isolamento social, etc., detectados e tidos como eventuais causa/s desencadeante/s da depressão, devem ser encaminhados para os organismos ou instituições de assistência social.
Um melhor controlo/estabilização das doenças crónicas debilitantes, reduz a carga psicológica que normalmente acompanha estas patologias e previne um possível factor desencadeante de uma situação depressiva.
No momento da prescrição farmacológica, tratando-se de um grupo etário vulnerável, o MF deve ter em conta a idade, os efeitos colaterais e secundários, as interacções medicamentosas e adequar as doses prescritas. A monitorização apertada da eficácia do tratamento é fundamental para o êxito da intervenção.
Tratamento 
Quando abordamos o tratamento da depressão no idoso, devemos considerar os factores que contribuem para o desencadear da doença: biológicos, psicológicos e sociais. Assim, nas opções terapêuticas teremos de encarar as diversas vertentes, individualmente ou conjugando as várias formas de intervenção.
1. Os anti depressivos
No tratamento com estas drogas devemos estar alerta para as suas contra-indicações e para o desenvolvimento dos seus efeitos secundários, que são mais frequentes nos idosos debilitados. Outro aspecto a ter em conta são as interacções medicamentosas, atendendo a que, muito frequentemente os idosos estão sujeitos a uma poli medicamentação. 
Uma das falhas que mais frequentemente é imputada ao MF é a prescrição em doses não terapêuticas. 
Como regra orientadora, diremos que os anti depressivos devem ser iniciados em doses baixas que se aumentam progressivamente até à dose terapêutica, durante um período de cerca de quatro semanas. Quando a dose terapêutica é atingida poderá utilizar-se o esquema da toma única, que será ao deitar no caso da prescrição de medicamentos com componente sedativo. 
A terapêutica deverá ser continuada por um período de 6 a 12 meses, na dose terapêutica. A suspensão da medicação deve ser também gradual, durante um período de cerca de quatro semanas. Após o início do tratamento anti depressivo, decorre um período de cerca de 3 a 4 semanas, até que sua acção sobre o humor seja perceptível. 
Até recentemente os tratamentos «standard» para a depressão nos idosos eram os antidepressivos tricíclicos e os inibidores da monoaminooxidase (IMAO). Estes estão progressivamente a ser substituídos pelos inibidores selectivos da recaptação da serotonina (SSRI).
1. a) Tricíclicos 
Embora altamente eficazes nos idosos, a probabilidade de se verificarem interacções medicamentosas é maior, para além destes tolerarem com dificuldade os efeitos colaterais antimuscarínicos que incluem: o glaucoma, a retenção urinária, o delírium e a obstipação. 
A hipotensão postural pode ser um problema nos idosos pelas consequências das quedas que dela possam resultar. 
Tendo os idosos uma maior incidência de problemas cardíacos, nomeadamente doença isquémica crónica, o uso deste grupo de medicamentos deve ser devidamente ponderado e feito sob estreita vigilância médica. Alguns medicamentos deste grupo são apresentados no Quadro 5. 
A dose terapêutica é de 125-150mg/dia.
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Quadro V
 Alguns medicamentos do grupo Tricíclicos
Nome genérico Nome comercial Dosagem
Amitriptilina  Belpax  10, 25, 50 e 75 mg
  ADT  10, 25, 50 e 75 mg
  Tryptizol  10, 25 e 50 mg 
Clomipramina Anafranil  10, 25, 50 e 75 mg
Dotiepina  Protiadene  25 e 75 mg
Doxepina  Sinequan
Quitaxon
10 e 25 mg
50 e 100 mg
Imipramina  Tofranil  10 e 25 mg
Lofepramina  Deprimil  70 mg 
Maprotilina  Ludiomil  10, 25, 50 e 75 mg
  Maprotilina
ratiopharm
25,50 e 75 mg
Nortriptilina Norterol 25 e 50 mg
Trimipramina  Surmontil 25 e 100 mg


1.b) Inibidores da Mono-Amino-Oxidase (IMAO)
Os IMAO tradicionais estão hoje retirados do mercado em Portugal. A introdução da Moclobemida, (Aurorix, 150mg) inibidor reversível da monoamino-oxidase, com um perfil de efeitos secundários bastante melhorado, renovou o interesse por este grupo de drogas.
1.c) Inibidores Selectivos da Recaptação da Serotonina (SSRI)
Este grupo tem sido importante no tratamento da depressão do idoso. Um perfil melhorado de efeitos colaterais (sem efeitos cardíacos ou anticolinérgicos) e a possibilidade de uma dose única diária dá-lhes vantagem sobre os tricíclicos. Os principais problemas têm a ver com os efeitos colaterais gastrointestinais, podendo também causar agitação e inquietação. Uma complicação que pode ocorrer por hiperestimulação serotoninergica é o sindrome serotoninérgico. Geralmente é ligeiro resolvendo com a retirada da medicação. Contudo pode ser grave, com multipla falência de orgãos e morte. Os critérios de diagnostico de Sternbach envolvem pelo menos três dos seguintes sintomas: agitação/inquietação, sudorese, diarreia, febre, hipereflexia, descoordenação, alterações do estado mental (confusão, hipomania), mioclonia e tremores. Devem ser excluidas outras causas como por exemplo infecções, abuso ou abstinência de substâncias, ou causas metabolicas e não ter havido, antes da instalação dos sintomas alterações da dose de medicações antipsicoticas. Outros sintomas deste sindrome são nauseas, vómitos e taquicardia. Foram descritas também hipertensão, convulsões e morte. O inicio pode ocorrer algumas horas após mudanças de medicação ou de doses e geralmente resolve em 24 horas. Sintomas ligeiros recorrentes podem ocorrer semanas antes do aparecimento do sindrome.Tem sido descrito nos SSRI, IMAO, triciclicos e medicamentos relacionados, em associação ou tomas unicas. O tratamento faz-se pela interrupção da medicação serotoninérgica e apoio sintomatico. Os casos ligeiros podem ser resolvidos com a retirada do farmaco e benzodiazepinas. Os casos mais graves requerem medidas de suporte médico mais intensivas. Alguns medicamentos deste grupo são apresentados no Quadro VI.
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Quadro VI

Alguns medicamentos do grupo SSRI

Nome genérico Nome comercial  Dosagem  Dose terapêutica
Fluoxetina  Digassim  20 mg 20-80 mg
  Nodepe  20 mg   
  Prozac  20 mg e solução oral  
  Psipax  20 mg   
  Tuneluz  20 mg  
  Salipax  20mg   
  Fluoxetina Ratioph 20mg   
  Fluoxetina ITF 20mg   
Paroxetina  Seroxat 20 mg 20-40 mg
  Paxetil  20mg   
Fluvoxamina  Dumyrox 50 e 100 mg 100-200 mg
Sertralina  Zoloft  50 mg 50-200 mg

1.d) Outros Antidepressivos
Mianserina - Tolvon, 30 mg. Efeitos sedativos marcados, baixa cardiotoxicidade.
Mirtazepina - Remeron, 30 mg. Anti depressivo noradrenérgico e serotononérgico específico. Este medicamento tem efeitos anticolinérgicos e serotoninérgicos mínimos (náuseas, cefaleias e função sexual).
Trazodone - Trazone, 25, 50 e 100 mg; Triticum, 100 mg e solução oral e Triticum AC,150mg. Medicamentos de baixa toxicidade cardíaca e efeitos anticolinérgicos. Sedativo. Efeitos secundários: náuseas e sonolência.
Venlafaxina – Efexor, 37,5 mg e 75 mg e XR doseado a 75mg. É um novo anti depressivo inibidor da recaptação da serotonina e da noradrenalina(SSNRI) semelhante à amitriptilina mas com efeitos mínimos sobre os outros neurotransmissores ao contrário da mesma. Dos ensaios resultam dados de que este anti depressivo será eficaz na depressão major e terá um início de acção mais rápido. É referida também menor intensidade de efeitos secundários. Como doses óptimas são referidas 125-150 mg.

2. Outros medicamentos
Neurolépticos - Na presença de agitação ou ansiedade marcada, os neurolépticos podem ser adicionados ao regime terapêutico e gradualmente retirados à medida que se verifica uma melhoria. Para pessoas com sintomas psicóticos a associação de um neuroléptico à terapêutica é fundamental para a sua recuperação. Neste grupo referiremos o haloperidol,risperidona , cimemazina e tioridazina (Quadro VII).
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Quadro VII

Neuroléticos

Nome genérico Nome comercial e dosagem
Haloperidol  Haldol comp. 1 mg, 2 mg, 5 mg, 10 mg, 20 mg
Haldol solução oral 2 mg
Serenelfi comp. 1 mg e 5 mg
Serenelfi solução oral 2 mg
Serenelfi Fraco comp., e solução oral
Risperidona  Risperdal comp 1,2 e 3mg e solução oral
Cimemazina  Tercian comp. 100 mg e solução oral 40 mg
Tioridazina  Melleril comp. 10 mg, 25 mg, 100 mg;Retard 200mg ; solução oral 30 mg

Carbonato de Lítio (Priadel 400 mg) - É usado com frequência pelas suas características de estabilizador do humor. A prevalência aumentada de falência renal e o uso concorrente de diuréticos e anti-inflamatórios não esteróides limitam o seu uso e exigem uma monitorização apertada. A toxicidade pode ocorrer dentro de valores terapêuticos. 
Carbamazepina (Tegretol 200 e 400 mg; Tegretol CR 200 e 400 mg) - Pelas suas características estabilizadoras do humor, tem também sido usado com eficácia. Os principais problemas são as quedas por hipotensão ortostática e as discrasias sanguíneas. 
Valproato de sodio (Diplexil 200 e 500 mg )- Tem tambem sido usado com eficácia,pelas suas caracteristicas estabilizadoras do humor.Doses entre 750 e 1500 mg.Principais problemas são alterações cognitivas inespecificas,alterações motoras,sedação,nauseas, aumento do valor das transaminases,alterações menstruais.A associação Valproato de sódio com o ácido valproico tem sido usado devido a uma potenciação do efeito estabilizador do humor ( Diplexil R,doseados a 250 mg,Depakine-Chrono,doseados a 300 e 500 mg)
Clonazepam (Rivotril 0,5 e 2mg comp e solução oral a 2,5 mg/ml) É tambem um medicamento eficaz na estabilização do humor ( 0,5 a 1 mg efeito sedativo,e 1 a 6 mg efeito anti maniaco.Deve ser manuseado com cuidados nos idosos.Os principais problemas que podem ocorrer: ataxia,sonolência,salivação.Pode ser fatal quando em combinação com o alcool

3. Electroconvulsivoterapia (ECT)
A idade não é contra-indicação para o uso da ECT. Este continua a ser um tratamento altamente eficaz, mesmo na pessoa mais idosa. A contra-indicação major é ter tido um acidente vascular cerebral recente. As indicações para o uso da ECT no idoso são a depressão grave, a recusa alimentar, sintomas psicóticos associados, grave risco de suicídio e falência das terapêuticas medicamentosas. A frequência das complicações aumenta com a idade, sendo a mais óbvia a confusão.

4. Terapias Psicológicas
Durante muitos anos os psicoterapeutas tiveram pouco interesse na intervenção junto dos idosos. Mais recentemente tem havido um crescente interesse pelas intervenções psicológicas, que têm um papel importante no manejo terapêutico de qualquer pessoa sofrendo de depressão.

5. Intervenções Sociais
Como já foi referido há um número de factores sociais que contribuem para o desencadear de quadros depressivos nos idosos. Estratégias para aliviar a solidão e devolver ao idoso um papel com significado na sociedade, são elementos vitais para a recuperação da depressão.
Neste capítulo referimos as principais opções terapêuticas que se colocam quando nos propomos tratar um idoso sofrendo de depressão. A escolha entre as diversas opções ou mesmo a conjugação destas dependerá naturalmente da nosologia em causa e dos factores envolvidos no desencadear do quadro depressivo.
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Erros e limitações
- Avaliação funcional e socio-psicológica inadequada e, por consequência, maior probabilidade de falha no diagnóstico;
- Não prever situações favoráveis para o desenvolvimento de um estado depressivo;
- Não valorizar ou considerar sintomas depressivos como “normal para o idoso” ou causa de patologia/s físicas subjacentes;
- Informação inadequada sobre a medicação utilizada pelo idoso e as suas possíveis consequências iatrogénicas, nomeadamente como causa precipitante da depressão;
- Esperar pelo aparecimento de um humor depressivo para suspeição diagnóstica de depressão;
- Falta de conhecimentos e aptidão quer para o diagnóstico quer para o seguimento de idoso com problemas psicológicos;
- Inadequada prescrição de anti depressivos, principalmente no que se refere à posologia;
- Não referência a especialista nos casos major ou nos que envolvem alterações psicóticas e nas situações de alto risco de suicídio.
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Pontos práticos a reter
A depressão no idoso é frequente na prática clínica. O seu diagnóstico é muitas vezes difícil devido às múltiplas patologias do idoso e à relativa dificuldade de destrinçar se queixas psicológicas, somáticas ou cognitivas, mesmo quando devidamente detectadas, são consequência de doenças “físicas” ou causadas por uma depressão ou por ela agravadas. Por isso, uma entrevista clínica o mais abrangente possível é passo fundamental para a detecção de possíveis problemas que afligem o idoso para além daqueles mais óbvios e que motivaram a ida à consulta. 
Existem questionários estruturados para a detecção de situações de depressão que nos poderão ser úteis. 
Apesar de, em algumas das situações apontadas, ser necessário referenciar o idoso para cuidados psiquiátricos / geronto-psiquiátricos especializados, o médico de família é, potencialmente, o mais abalizado para coordenar um apoio que envolve mais que uma área de intervenção. No entanto para poder dar ao idoso um acompanhamento adequado, nomeadamente com uma prescrição médica ajustada, o MF deve ter conhecimentos e aptidões necessários e suficientes para poder enfrentar este tipo de intervenções.
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