1
Introdução
O Acne Vulgar é uma doença inflamatória crónica das unidades pilosebáceas.
Caracteriza-se pela formação de comedões, pápulas, pústulas e, menos
frequentemente, de nódulos e quistos. As cicatrizes podem ser uma sequela
do acne, particularmente das forma mais graves.
Na patogénese da acne estão envolvidos quatro factores major:
1. Produção de sebo (gordura) aumentada
O sebo é produzido pelas glândulas sebáceas. A severidade da acne é
provavelmente proporcional à quantidade de sebo produzida. Este é
fundamental para o desenvolvimento bacteriano da Propionibacterium Acnes
(P. Acnes) e é dependente do efeito periférico dos androgénios e estrógenos
produzidos pelas supra-renais e gónadas.
2.
Hiperqueratinização do canal pilosebáceo
Há formação dum tampão queratínico, que impede a excreção do sebo e
provoca um aumento progressivo do volume das glândulas (comedogénese).
Surgem então as lesões típicas não inflamatórias da acne,
clinicamente visíveis, os comedões. Estes podem ser abertos (pontos
negros) ou fechados (pontos brancos).
3.
Alteração da flora microbiana da pele
A acne não é uma doença infecciosa, no entanto foram identificadas
alterações na flora microbiana. Foram isolados diversos microrganismos
na pele e folículos dos indivíduos com acne. O mais importante, a P.
Acnes, é um difteróide anaeróbico da flora cutânea normal que coloniza
o comedão. Dado este ser muito rico em lípidos, favorece a proliferação
bacteriana.
4. Inflamação
Os factores que induzem a inflamação nas lesões da acne não são
totalmente conhecidos. Provavelmente a P. Acnes produz mediadores
biologicamente activos, isto é, enzimas com propriedades inflamatórias e
comedogénicas, que provocam lesão e ruptura do folículo, o que origina
as lesões inflamatórias da acne: pápulas, pústulas, nódulos e
quistos.
Cada um destes factores é um potencial alvo para o tratamento.
2
O
problema na prática clínica
O Acne Vulgar é a doença cutânea mais frequente. É autolimitada e
afecta 85% a 90% dos adolescentes. Inicia-se mais precocemente no sexo
feminino do que no masculino. O pico de incidência e de severidade ocorre
entre os 14 e os 17 anos na rapariga e os 16 e os 19 anos no rapaz. A
evolução pode ser de curta ou longa duração. Os homens têm tendência
a sofrer de acne mais severa mas de menor duração e as mulheres o
oposto. A acne melhora progressivamente, mas pode persistir até aos 35-40
anos em 1% dos homens e em 5% das mulheres. Vários estudos demonstram que
factores genéticos influenciam a susceptibilidade à acne. Existe em
todas as raças, mas é menos frequente nos japoneses e negros do que nos
caucasianos. A importância da acne não deve ser subestimada atendendo às
importantes consequências psicossociais nos indivíduos afectados,
incluindo diminuição da auto-estima, isolamento e depressão. A terapêutica
adequada e eficaz melhora o aspecto físico e o estado psicológico.
3
Avaliação
diagnóstica
O Acne Vulgar pode apresentar uma variedade infinita de formas clínicas.
Embora uma possa ser predominante, frequentemente coincidem vários tipos
de lesões. Em função do tipo de lesões encontradas, pode-se
classificar o acne em:
1. não inflamatório (leve)
comedões abertos ou fechados;
2.
inflamatório
superficial (moderado):
comedões, pápulas e pústulas;
profundo (severo), localizado ou generalizado:
comedões, pápulas, pústulas, nódulos e quistos. Estas lesões podem
evoluir para cicatrizes hipo ou hiper-pigmentadas, atróficas (em
sacabocado) ou hipertróficas, ou mesmo quelóide.
Se numa mulher, com períodos menstruais regulares ou irregulares,
coexistir acne com outros sinais de hiperandrogenia (seborreia, hirsutismo
ou alopecia androgénica), deverá ser realizada uma avaliação hormonal
para despiste de hipersecreção de androgénios.
4
Possibilidades
de intervenção em medicina geral e familiar
Existem duas razões fortes para que o médico de Medicina Geral e
Familiar (MGF) dê particular atenção ao Acne Vulgar:
1. É uma patologia muito frequente na população em geral.
2. Atinge preferencialmente os adolescentes, cuja auto imagem é
frequentemente afectada pelas alterações cutâneas inerentes à acne.
É fundamental que a atitude terapêutica não seja padronizada mas sim
orientada em função de alguns critérios:
1. Caracterização e extensão do acne.
2. Idade.
3. Personalidade / Estado emocional / Importância da doença para o
doente.
4. Tipo de sensibilidade cutânea.
5. Hábitos de higiene e de medicação.
6. Resposta a terapêuticas anteriores.
A maior
parte dos doentes com acne apresenta uma boa resposta ao tratamento
apropriado. Contudo, uma pequena percentagem que não excede 10-15% não
responde satisfatoriamente. A principal razão do insucesso do tratamento
é a pobre adesão do paciente. Para melhorar esta adesão, a estratégia
para o tratamento da acne deve ser cuidadosamente planeada e incluir os
seguintes passos:
A. Diálogo
antes do tratamento:
O médico deve ter disponibilidade para ouvir, aconselhar e esclarecer o
doente. Deve utilizar frases curtas e termos simples.
B. Dar
instruções claras quanto a contra-indicações, administração e duração
do tratamento. Alguns exemplos:
Não se deve ingerir alimentos lácteos com a tetraciclina e eritromicina.
O tratamento tópico não é só para as lesões, mas sim para toda a área
de pele acneica.
O tratamento deve ser continuado por um certo período de tempo:
a) Antibioterapia tópica - período variável de tempo, de acordo com a
evolução;
b) Antibioterapia oral - 6 semanas a 6 meses;
c) Acetato de ciproterona -1 ano;
d) Isotretionina - 4 a 6 meses
C. Explicar
a evolução clínica esperada.
É importante informar o paciente acerca do tempo previsto da melhoria. A
acne é uma doença com uma resposta lenta e que muitas vezes pode
agravar-se nas primeiras semanas de tratamento. Contudo, com tratamento
adequado 30-40% dos doentes sentem melhorias após 2 meses, 60% após 4
meses e 80% ou mais passados 6 meses.
D. Explicar
o papel dos cosméticos:
Devem ser prescritos produtos que cuidam da pele, pois são necessários
para complementar a acção dos medicamentos ou para minimizar o efeito de
secura da pela provocada por algumas medicações (tretionina, peróxido
de benzoilo). Não devem ser comedogénicos nem oleosos.
E. Explicar
o efeito benéfico mas transitório da exposição ao sol na maioria dos
doentes, especialmente quando a acne está localizado no tronco (região
dorsal e peitoral).
F. Explicar
os efeitos secundários esperados.
Quando o doente é informado previamente e se concorda com o que foi
explicado, as possibilidades de manifestar queixas ou mesmo desistir do
tratamento são mínimas.
5
Medidas
gerais de higiene no tratamento do Acne Vulgar:
1. Usar regularmente sabonetes suaves (pH entre 5 e 7)
2. A face deve ser lavada com água morna e secada suavemente antes da
aplicação do medicamento tópico (2 vezes ao dia).
3. Não esfregar a face.
4. Não agredir as lesões acneicas com as mãos ou com qualquer
instrumento, pois há o perigo de alastrar a inflamação e produzir
cicatrizes.
6
Tratamento
tópico
1. Escolha do veículo
É determinada predominantemente pelo tipo de pele e pelas preferências
do doente.
A. Gel: não gorduroso, seca a pele. Indicado para peles oleosas;
B. Cremes: preparações hidratantes cosmeticamente agradáveis e aceites
pelos doentes;
C. Loções: secam a pele. Úteis em áreas cutâneas extensas e pilosas.
2. Etapas
do tratamento tópico
1) Actuação activa e intensiva.
2) Período de manutenção e prevenção de novas lesões.
3) Medidas cosméticas e tratamento das cicatrizes.
7
Tratamento
oral
1. É reservado para os casos em que a terapêutica tópica é
insuficiente.
2. Na medida em que tanto as tetraciclinas como a isotretionina oral podem
causar pseudotumor cerebral (hipertensão intracraneana benigna), estes
medicamentos nunca devem ser usados em simultâneo.
3. A isotretinina oral está absolutamente contra-indicada durante a
gravidez. Deve-se assegurar uma contracepção eficaz durante todo o
tratamento e durante os dois meses que se seguem à sua suspensão.
11
Quadro
I
Resumo
dos medicamentos anti-acneicos no mercado nacional
|
Tópicos |
Designação
farmacológica |
Designação
comercial e forma galénica |
Peróxido
benzoilo (PB) |
Benoxigel
5 e 10%, Benacne creme e gel a 5%, Benzac loção 5 e 10%, Eclaran 5
gel, Panoxyl Wash loção |
Retinóides
- tretionina
- isotretionina
- adapaleno |
Locacid,
creme 0,05% e loção 0,01%; Vitacid creme 0,025-0,05-0,1%
Isotrex gel
Differin gel |
Ác.
Azelaico |
Skinoren
creme |
Antibióticos
- eritromicina
- eritromicina + acetato de Zinco
- clindamicina |
Eryfluid
loção 4%, Clinac loção 2%, Akne-mycin creme 2%
Zineryt loção 4%
Dalacin T loção 1% |
Orais |
Isotretionina |
Roacuttan |
Antibióticos
- tetraciclinas: monohidrato de doxiciclina, minociclina
- eritromicina |
Actidox
50 e 100 mg
Minocin, Minotrex
Eritrina, ESE 500 e 1000 mg |
Acetato
de ciproterona |
Androcur
10 e 50 mg |
Acetato
de ciproterona + etinilestradiol |
Diane
35 - 2 mg + 0,035 mg |
12
Quadro II
Resumo
das características dos medicamentos anti-acneicos
Tópicos
|
Fármaco |
Peróxido
de Benzoilo (PB) |
Tretionina
|
Tipo
e mecanismo de acção |
Agente
altamente anti-bacteriano no P. Acnes
Anti-inflamatório fraco
Pouco comedolítico
Não é sebo-supressor |
Comedolítico
Anti-bacteriano
Não é anti-inflamatório |
Indicações
Clínicas |
Início
e base da maior parte das terapêuticas da acne ligeiro e moderado
(em associação) |
Usar
somente na acne ligeira ou, em associação com o PB, na acne
moderada |
Contra-indicações |
Hipersensibilidade
Eczema |
Gravidez/
lactação
Hipersensibilidade
Eczema |
Utilização
e dosegem |
Começar
com 5% diariamente por 2 h, aumentar ao longo de 2ª-3ª semana até
10% |
Aplicar
1 ou 2 x /dia em toda a face. Continuar tratamento no mínimo 8
semanas
Aumentar concentração consoante a tolerância |
Principais
efeitos secundários |
Irritação
(comum mas leve): rubor, secura, descamação
Descoloração do cabelo e roupa
Dermatite de contacto (1/5000) |
Secura
e irritação local
Fotosensibilidade (necessário uso de protector solar)
Nas primeiras semanas pode haver aumento aparente dos focos inflamatórios |
Fármaco |
Isotretionina
tópica |
Adapaleno
|
Tipo
e mecanismo de acção |
Semelhante
à tretionina mas menos irritante na pele.
Anti-inflamatório
Não afecta produção de sebo |
Comedolítico
Anti-inflamatório |
Indicações
Clínicas |
Acne
ligeiro e formas leves do acne moderado (peles sensíveis) |
Acne
leve a moderado
Pele oleosa (semelhante à isotretionina) |
Contra-indicações |
Gravidez
/ lactação
Crianças
Hipersensibilidade |
Gravidez
/ lactação
Hipersensibilidade |
Utilização
e dosegem |
Pode-se
usar 2x /dia durante 6 meses |
1
x /dia (à noite) |
Principais
efeitos secundários |
Eritema,
descamação, secura.
Sem efeitos sistémicos da Isotretionina oral |
Irritação
dérmica menos intensa do que a da Tretionina |
Fármaco |
Ác.
azelaico
(ác. descarboxílico) |
Clindamicina
tópica
(fosfato de clindamicina) |
Eritromicina
|
Tipo
e mecanismo de acção |
Anti-bacteriano
Comedolítico
Aclara a hiperpigmentação pós-inflamatória |
Anti-bacteriano
e anti-inflamatório.
Eficaz como BP |
Anti-bacteriano
e anti-inflamatório |
Indicações
Clínicas |
Acne
leve a moderado |
Acne
moderado |
Acne
moderado.
Pode-se combinar com Tretionina ou Isotretionina (efeito sinérgico,
sem aumento de efeitos secundários) |
Contra-indicações |
|
Hipersensibilidade |
Hipersensibilidade |
Utilização
e dosegem |
Começar
com 1 x /dia e aumentar para 2-3 x /dia |
Aplicar
2 x /dia na área afectada
Terapêutica deve ser limitada (4-6 semanas) |
Aplicar
2x /dia na área afectada.
Maior eficácia quando em associação com acetato de Zinco |
Principais
efeitos secundários |
Boa
tolerância |
Risco
mínimo de colite pseudo-membranosa. Suspender se surgir diarreia.
Resistência cruzada rara |
Resistência
pode exceder 50% e pode ser múltipla e cruzada |
14
Quadro III
Resumo
das características dos medicamentos anti-acneicos
Orais
|
Fármaco |
Minociclina |
Doxiciclina
|
Tipo
e mecanismo de acção |
Anti-bacteriano
(bacteriostático) |
Anti-bacteriano
(bacteriostático) |
Indicações
Clínicas |
Acne
moderado.
Quando a terapêutica tópica falha ou não é tolerada
Quando atinge ombros e regiões dorsal e peitoral (dificuldade em
aplicar o tratamento local)
Acne leve a moderado com tendência a cicatrização ou alterações
da pigmentação |
(ver
minociclina) |
Contra-indicações |
Gravidez
/ lactação
Crianças
Evitar administração concomitante de anti-ácidos com alumínio, cálcio
ou magnésio (reduz a absorção) |
Gravidez
/ lactação
Crianças |
Utilização
e dosegem |
A
tetraciclina mais lipossolúvel.
Podem-se ingerir com alimentos lácteos.
Eficácia semelhante à doxiciclina e tetraciclina.
50 mg 2 x/dia (mín 3 meses).
100-200 mg/dia.
+ cara ? |
Pode
ser tomada com alimentos lácteos (ingerir 30 minutos antes dos
alimentos).
Mais lipossolúvel.
50-100 mg/dia (mín 3 meses) |
Principais
efeitos secundários |
Intolerância
gástrica (vómitos, diarreia)
Fotosensibilidade
HT intracraneana benigna (reversível)
Distúrbios vestibulares reversíveis (tonturas, vertigens, ataxia).
Coloração dentária permanente
Hipoplasia do esmalte
Hepatite (rara)
Lúpus (raro) |
«Rash»
fototóxico
HT intracraneana benigna |
Fármaco |
Eritromicina |
Acetato
de ciproterona
|
Tipo
e mecanismo de acção |
Anti-bacteriano
(bacteriostático) |
Redução
da produção de sebo |
Indicações
Clínicas |
Mulheres
em via de engravidar.
Coadjuvante terapêutico no início de tratamento de formas graves
de acne
Crianças |
Acne
moderado e grave ou quando acompanhado de hirsutismo moderado |
Contra-indicações |
Hipersensibilidade.
Grande probabilidade de resistência bacteriana |
Gravidez
/ lactação
Hepatopatias.
Processos tromboembólicos |
Utilização
e dosegem |
1g/dia |
Usa-se
durante períodos longos (mínimo 2 anos) |
Principais
efeitos secundários |
Perturbações
GI.
Erupções cutâneas alérgicas.
Interacções: digoxina, varfarina, teofilinas, carbamazepina |
Interacção
com anti-ácidos.
Risco raro de hipertensão intracraneana benigna.
Aumento de peso.
Cansaço.
Diminuição da capacidade de concentração. |
Fármaco |
Isotretionina
oral |
Tipo
e mecanismo de acção |
Suprime
a produção de sebo.
Comedolítico.
Anti-inflamatório |
Indicações
Clínicas |
Reservado
a Dermatologista
Acne severo
Acne moderada que não responde a terapêutica tópica e sistémica
com antibióticos
Cicatrizes (fundamental tratamento precoce)
Doentes com taxa de secreção de sebo
depressão severa ou dismorfofobia
Variantes raras (acne fulminante, foliculite Gram-, pioderma facial)
Acnes escoriados |
Contra-indicações |
Gravidez |
Utilização
e dosegem |
Medicamento
com grande interesse custo/benefício.
Grande % de remissão.
Caro.
0,5-2 mg/kg/dia. Começar com doses baixas e gradualmente se
tolerada, até ao nível mais elevado.
Tratamento eficaz, produzindo remissões prolongadas na maioria dos
doentes (sobretudo se doses cumulativas ³ 120 mg/kg).
15% dos doentes recaem.
Um ciclo geralmente tem resultado satisfatório. Contudo, alguns
doentes podem necessitar de ciclos múltiplos.
MCG: receituário e vigilância dos efeitos secundários
Remissão em 15-20 semanas.
80% - remissão 4 meses
10% - remissão 6 meses
3% - remissão 10 meses |
Principais
efeitos secundários |
Cutâneos:
queilite; pele seca - 90%; descamação - 90%; fotosensibilidade;
prurido; exacerbação das lesões do acne possível na fase inicial
do tratamento.
Mucosas:
irritação/secura ocular; conjuntivite; secura de mucosas (oral,
faríngea, GI).
Músculo-esqueléticos:
osso/articulações e dor muscular ou rigidez.
Neurológico:
cefaleias; HT intracraneana benigna.
Gastrointestinais (raros):
náuseas/vómitos; pancreatite aguda (devida à hipertrigliceridemia
e obrigando a interromper tratamento).
Psiquiátricos:
depressão.
Teratogenicidade (+ importante):
malformações craniofaciais, cardiovasculares e SNC.
Laboratoriais:
hipertrigliceridemia leve a moderada (25%); descida de HDL; Subida
de colesterol; alteração da função hepática (15%) leve a
moderada;
diminuição de GB e GV (raro mas importante). |
8
Referenciação
Quando referenciar é muitas vezes uma decisão que põe grandes dúvidas
ao médico. Para a tomar é fundamental a elaboração de protocolos («guidelines),
em que se uniformizem critérios de referenciação.
A) Grau leve: não referenciar, salvo dúvidas diagnósticas. O
tratamento será da responsabilidade do médico de MGF.
B) Grau moderado: referenciar após a não resposta com 3 meses de
tratamento.
C) Grau grave: referenciar sempre. Esta atitude é obrigatória
quando é necessário avaliar tratamentos com isotretionina, de exclusiva
prescrição do dermatologista.
9
Erros e
limitações
1. Dado que o tratamento do Acne Vulgar é muitas vezes longo e difícil,
é preciso muita paciência e perseverança. Não se deve desistir!
2. É importante valorizar os factores psicológicos na evolução da doença.
É actualmente aceite que o stress agrava a acne e frequentemente os
factores psicológicos são subestimados.
3. Devem usar-se criteriosamente os antibióticos orais. Algumas indicações:
A. Não prescrever antibióticos orais se os tópicos são suficientes.
B. Não continuar tratamentos prolongados se não necessários.
C. Em tratamentos futuros é aconselhável utilizar o mesmo antibiótico.
Ciclos curtos de peróxido de benzoilo podem ajudar a eliminar a resistência
ao P. Acnes.
D. Evitar tratamento tópico e oral com antibióticos de grupos
diferentes, para reduzir o risco de resistências (desenvolvida por ambos
ou cruzada).
4. É difícil erradicar os mitos. Embora agora seja possível um
tratamento eficaz para reduzir ou eliminar as lesões da acne, os velhos e
erróneos conceitos continuam a causar confusão. Há no entanto uma regra
fundamental, que é mais que nunca importante para os doentes: consultar o
médico!
Alguns
mitos:
A. A acne está relacionada com a alimentação;
B. Não existe tratamento médico para a acne. Só o passar do tempo
alivia a doença;
C. A acne é contagiosa;
D. A acne é causada pela falta de higiene;
E. Os cabelos compridos favorecem a acne;
F. Uma vez que desapareceu, a acne não volta a aparecer;
5. Erros
frequentes no tratamento do acne:
A. Informação insuficiente;
B. Pouco interesse e falta de motivação do clínico;
C. Esquema terapêutico demasiado complexo;
D. Uso inapropriado de restrições dietéticas vacinas, estrógenos e
tratamentos com Mx;
E. Não dar tempo suficiente para que os doentes exponham as suas dúvidas;
F. Não valorizar o custo dos tratamentos;
G. Não programar à priori um esquema de tratamento. Sempre que possível,
o doente deve participar na opção terapêutica, tendo em consideração
os seus possíveis efeitos secundários. O esquema terapêutico deverá
ser explicado por escrito, para que o doente o execute correctamente.
10
Pontos
práticos a reter
1. O Acne Vulgar é a doença cutânea mais frequente. Cerca de 80% dos
indivíduos desenvolvem lesões de acne.
2. Na patogénese da acne estão envolvidos quatro factores major:
- produção de sebo aumentada;
- hiperqueratinização do canal pilosebáceo;
- alteração da flora microbiana da pele (P. Acnes);
- inflamação.
3. A lesão típica da acne é o comedão (acne não inflamatório).
Frequentemente associam-se a pápulas, pústulas e, por vezes, a nódulos,
quistos e cicatrizes (acne inflamatório).
4. Existem duas razões fortes para que o MGF tenha particular atenção
ao Acne Vulgar:
- é uma patologia muito frequente na população em geral;
- atinge preferencialmente os adolescentes, cuja auto-imagem é
frequentemente afectada pelas alterações cutâneas inerentes à acne.
5. A atitude terapêutica não deve ser padronizada mas sim orientada em
função de alguns critérios.
6. O cumprimento das medidas gerais de tratamento é fundamental para se
atingir o sucesso terapêutico.
7. Deve-se iniciar o tratamento sempre com medicamentos tópicos. O
tratamento oral é reservado para os casos em que a medicação tópica
seja insuficiente. É frequente a associação de diferentes tópicos,
pois aumenta a eficácia de tratamento e reduz a intensidade de efeitos
secundários.
8. É importante conhecer os medicamentos existentes no mercado e saber o
tipo e mecanismos de acção, respectivas indicações clínicas,
contra-indicações, forma galénica, utilização, dosagem e principais
efeitos secundários.
9. Modelo de referenciação no Acne Vulgar em MGF:
- acne leve = da responsabilidade do médico MGF;
- acne moderada = referenciar após 3 meses de tratamento, não eficaz?
total/ parcial;
- acne grave = referenciar sempre.
10. É fundamental conhecer sempre os erros que mais frequente se cometem
no tratamento da acne, assim como as suas limitações. É importante
conhecer a história natural da doença e não menosprezar a importância
dos factores psicológicos. Os antibióticos devem ser criteriosamente
utilizados. Finalmente, devem-se conhecer os mitos, para os podermos
erradicar.
13
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