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Parte IV – Problemas clínicos
4.15. Abordagem do paciente com problemas do ouvido e pertubações da audição

441. Presbiacusia
Maria Cristina Galvão

Documento de trabalho
última actualização em Dezembro 2000

Contacto para comentários e sugestões: Lourenço, Rui


Presbiacusia é a diminuição da acuidade auditiva no idoso e afecta sobretudo a audição de sons agudos. É a mais frequente das causas de surdez de percepção do adulto.
Pode começar a manifestar-se no final da 4ª década de vida, com agravamento progressivo nas décadas seguintes. A partir dos 70, mais de um terço dos idosos sofreu perdas que condicionam a necessidade de utilização de ajudas auditivas e acima dos oitenta anos a prevalência é superior a 60%.
Diversos factores etiológicos foram implicados nesta patologia, nomeadamente genéticos, ateroscleróticos, ruído, etc. Qualquer outra causa de surdez neurosensorial deverá ser despistada, antes de se fazer o diagnóstico de presbiacusia.
É com frequência uma situação sub detectada e sub tratada.
Porque a perda auditiva é, em geral, progressiva, o idoso tem por vezes dificuldade em se aperceber do problema. São com frequência os familiares que referem as dificuldades sentidas na comunicação com o idoso ou as alterações do comportamento deste a elas associadas.
Mesmo os idosos conscientes da sua perda auditiva dificilmente referem esse problema, por receio de serem estigmatizados, adoptando comportamentos de defesa que agravam o isolamento e dificultam a comunicação.
A presbiacusia (deficit auditivo do idoso) associa-se com frequência a depressão, isolamento social e ideação persecutória, podendo também condicionar, no idoso dependente, situações de abuso.
A perda da acuidade auditiva no idoso aparece num contexto de múltiplas outras perdas a nível pessoal (auto-imagem), social (status, casa), laboral (emprego), familiar (cônjuge, irmãos, filhos), com efeitos tanto mais graves quanto maior for a dificuldade na comunicação.
Com uma população progressivamente mais envelhecida, os problemas relacionados com a perda auditiva e as estratégias para lidar com ela, vão ser certamente um dos grandes desafios aos médicos de família nas próximas décadas.
1
Avaliação
Passa pela detecção e correcção de todas as causas potencialmente curáveis de hipoacúsia.
A avaliação por ORL e / ou Audiologia são mandatórias para a utilização de prótese auditiva adaptada caso a caso.
2
Terapêutica
Para além da utilização de próteses auditivas adaptadas, diversas medidas simples, ensinadas aos familiares, cuidadores e ao próprio idoso podem melhorar a capacidade de comunicação.
A Portugal-Telecom disponibiliza desde há vários anos, gratuitamente, amplificadores para telefone, com controle de volume de som, que podem ser utilizados em telefones fixos, móveis, públicos ou sem fios, são compatíveis com o uso simultâneo de prótese auditiva e bastando para o efeito apenas uma receita médica.

A utilização de despertadores vibratórios ou a substituição dos toques de campainhas de porta e telefone por luzes intermitentes, a colocação de carpetes e cortinados que evitem ecos e a disposição dos móveis junto às paredes, a fim de facilitar a propagação das ondas sonoras, podem melhorar a vida do idoso com presbiacusia.
Quando em ambiente de consulta, o profissional de saúde deve procurar sempre estabelecer comunicação com o idoso e integrá-lo na conversa e evitar falar apenas com o acompanhante. Sempre que necessário perguntar como se pode melhorar a comunicação e certificar-se que foi entendido.
A conversa em espaços com pouco ruído, feita face a face para facilitar a leitura labial e a percepção através da mímica facial, em voz clara e a ritmo moderado, a reformulação da mensagem quando não há compreensão do interlocutor ou a transmissão de mensagens por escrito, são técnicas simples que podem melhorar em muito a comunicação.