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Parte IV – Problemas clínicos
4.15. Abordagem do paciente com problemas do ouvido e pertubações da audição

442. Rolhões de cerúmen
Carlos, S
J C Patrício

Documento de trabalho
última actualização em Dezembro 2000

Contacto para comentários e sugestões: Lourenço, Rui


O canal auditivo externo (CAE) é revestido por folículos pilosos e glândulas que produzem cerúmen, que serve para protecção contra microorganismos e corpos estranhos.
O cerúmen vai sendo orientado para o orifício externo do CAE, sendo removido pela lavagem da higiene diária.
Nalgumas pessoas, há um aumento de produção de cera, que pode endurecer e secar no CAE, sendo umas das causas mais frequentes de hipoacúsia.
Frequentemente, o uso errado dos cotonetes pode levar ao empurramento do cerúmen para o fundo do CAE, levando à sua impactação.
Os rolhões de cerúmen são a 7ª causa de consulta do foro de ORL, segundo alguns estudos, e as queixas que podem corresponder à sua existência representam cerca de 1% do total dos sintomas referidos numa consulta de Clínica Geral, embora só 0,1% do total dos diagnósticos de clínica geral.
É habitual um aumento da incidência das queixas nos meses de Verão, relacionadas com a maior frequência de praias e piscinas e consequente entrada de água para os canais auditivos com aumento do volume e dureza do cerúmen, o que dificulta a sua remoção, facto este agravado pelo uso dos cotonetes.
1
Prevenção
1. Não limpar os ouvidos com objectos potencialmente perigosos;
2. Limpar o pavilhão auricular com toalha por cima do dedo.
2
Clínica e diagnóstico
- Hipoacúsia, por vezes progressiva;
- Acufenos;
- Sensação de ouvido cheio;
- Por vezes otalgia.
Além da sintomatologia, outro problema do cerúmen em excesso é o de dificultar a observação do CAE e tímpano, quando tal se justifica face à sintomatologia presente, o que é muito frequente na criança.
O diagnóstico faz-se por otoscopia / observação directa de cerúmen no CAE.
3
Tratamento
1. Gotas no ouvido: Otoceril®, óleo de amêndoas doces, glicerina líquida.
Pode demorar muito tempo a actuar, sendo muitas vezes necessária remoção por ORL. É o único método passível de aplicação pelos Médicos de Família. A posologia depende da quantidade de cerúmen e da sua dureza, podendo fazer-se aplicações de 2-3 gotas em cada ouvido até 4-5 vezes ao dia, durante 8 dias.
Todos os restantes métodos devem ser realizados por ORL ou por Médico de Família com treino e equipamento adequado.

2. Irrigação do CAE
com água morna (37º C), para evitar vertigens.
É um método que implica existência de meios e conhecimentos, sendo desaconselhado em tímpano perfurado, por poder provocar infecção.

3. Gancho de cerúmen. Usa-se quando o cerúmen é em pequena quantidade ou está seco e impactado no CAE. Deve-se parar a técnica da remoção quando começa a haver dor, edema visível do canal e otorragia.

4. Aspiração de cerúmen, de preferência sob controlo microscópico. Necessita de material e treino de ORL.
4
Prognóstico
Pode recorrer, pelo que muitas vezes se aconselha a manutenção do uso de gotas.
A hipoacúsia é normalmente temporária e recupera totalmente após a limpeza.
5
Complicações da remoção dos rolhões de cerúmen
- Otalgia;
- Perfuração do tímpano;
- Otite média aguda;
- Otite externa;
- Lipotímia vagal;
6
Prevenção das complicações
- Uso de material esterilizado;
- Uso de irrigadores suaves;
- Treino do executante.
7
Bibliografia
Grossan M. Cerúmen removal – Current challenges. Internet: http//www.medscape.com/medquest/ent/1998/v77.n07/ent7707.04.gros/ ent7707.04.gros-01.html

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