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Parte IV – Problemas clínicos
4.4. Abordagem do paciente com problemas digestivos
237. Marcadores tumorais
Maria José Reis
Catarina Marques da Silva
Documento de trabalho
última actualização em Dezembro 2000

Contacto para comentários e sugestões: Outeirinho, C;
Melo, Miguel


Na detecção de problemas do tubo digestivo não estão ainda disponíveis marcadores tumorais que permitam efectuar, precocemente, rastreios ou diagnósticos, em populações saudáveis. Os marcadores tumorais de que actualmente dispomos permitem monitorizar, avaliar atitudes terapêuticas, detectar recidivas em fase precoce ou, eventualmente, fundamentar um prognóstico. Os marcadores tumorais são substâncias doseáveis nos líquidos extra celulares e é recomendável que a sua utilização seja restrita a doentes com clínica sugestiva ou na população em risco. Na monitorização da doença neoplásica deve ser sempre utilizado o mesmo marcador (ou a mesma associação). A interpretação dum valor elevado para determinado marcador tumoral deve ser prudentemente associada a outros exames (clínicos, biológicos ou radiológicos), tendo igualmente em atenção a fiabilidade do laboratório. Embora pouco sensíveis (muitos falsos negativos) e específicos (muitos falsos positivos) os marcadores tumorais consituem hoje um importante instrumento auxiliar da clínica se a sua utilização for racional tendo em atenção a relação custo/benefício ao utilizarmos associações que permitem aumentar a sensibilidade com a utilização simultânea de vários marcadores para os mesmo tumor.
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Principais marcadores tumorais

a-Alfa fetoproteína (AFP)
É uma glicoproteina sintetizada pela membrana vitelina, tubo digestivo e fígado fetal. O seu nível sérico está substancialmente elevado nos hepatomas e nos tumores embrionários do testículo. Consideram-se níveis normais os inferiores a 20 ng/ml. Concomitantemente com o aumento dos níveis de fosfatase alcalina e 5 Nucleotidase e elevação acentuada de AFP (>500 ng/l) permite efectuar, em populações de risco, a detecção precoce do carcinoma hepatocelular. Convém, no entanto, recordar que a AFP se eleva igualmente na cirrose, D.Crohn, nas metastases hepáticas de tumores gástricos e do colon, embora com valores menos elevados, na gravidez e nos teratomas malignos. A
a-feto-proteína (AFP) pode permitir efectuar, em populações de risco, a detecção precoce de patologia tumoral - Carcinoma hepato-celular ou metástases hepáticas de adenocarcinoma do colon. A leitura de um valor elevado deste marcador deve ser interpretada como indicador de disfunção hepática, por exemplo após quimioterapia. 

Antigénio Carcioembrionário (CEA)
Tal como a AFP, o CEA é um Antigénio onco-fetal presente na mucosa cólica, fígado e pâncreas fetal. Níveis séricos de > 2,5 ng/ml são sugestivos de tumor. É particularmente importante na detecção precoce de recorrências dos tumores colo-rectais e no despiste de metástases hepáticas. É útil na detecção de recidivas, na avaliação do grau de disseminação do tumor e na monitorização pós cirurgia do Adenocarcinoma Gástrico e Pâncreas. 

Antigénio carbohidrato (CA 19.9)
Derivado dum anticorpo monoclonal, este marcador tumoral é igualmente uma proteína onco-fetal. Embora mais específico para a patologia tumoral do tubo digestivo, o CA 19.9 deve ser utilizado a par com o CEA na monitorização e controlo terapêutico. Parece haver uma relação entre as dimensões do tumor e a concentração sérica deste marcador, pelo que poderá ser útil na avaliação da extensão da doença e no prognóstico. Encontra-se elevado nos tumores do pâncreas, colon e vias biliares. Os valores normais deste marcador são <37 U/ml.
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Cenários de utilização dos principais marcadores na patologia tumoral do tubo digestivo

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Quadro I

utilização dos principais marcadores na patologia tumoral do tubo digestivo

Localização do Tumor Classificação Histológica Marcador Aplicação Clínica
      Rastreio  Estadio  Prog. Mon. Ter.
Colo Rectal Adenocarcinoma CEACA 19.9 -
-
++
+
+++
-
+++
+++
Gástrico Adenocarcinoma CA 19.9
CEA
-
-
++
-
-
-
+++
++
Pâncreas Adenocarcinoma CA 19.9
CEA
-
-
++
+
+
-
+++
++
Fígado Hepatocelular Metástase AFP
CEA
++
-
+++
++
++
+
+++
+++

Legenda: 
(-) sem utilidade
+ pouco importante
+ + importante
+ + + muito importante

Os marcadores do adenocarcinoma gástrico e colo rectal - CEA e CA 19.9, deverão ser pedidos antes da cirurgia, um mês após cirurgia, antes de cada exame do «follow-up» e antes de cada novo ciclo de quimioterapia.
3
Conclusões
1. Os marcadores tumorais, no estudo de pacientes com patologia tumoral do tubo digestivo, têm indicação: 
No diagnóstico precoce em doentes de risco de Carcinoma Hepatocelular.
Na avaliação complementar da resposta à terapêutica e estadiamento da doença.
Na detecção precoce de recidiva local ou na identificação de metástases.
Na investigação sobre a história natural da doença (discutível em medicina geral e familiar).
2. Os marcadores tumorais são geralmente pouco sensíveis e pouco específicos. A utilização conjunta de vários marcadores permite aumentar a sua sensibilidade.
3. A sua interpretação deve ser prudente, atendendo sempre ao resultado de outros exames (clínicos, laboratoriais e radiológicos).
4. Não tem qualquer justificação a utilização de marcadores tumorais no despiste de problemas gastro-intestinais em indivíduos saudáveis não incluídos em população de risco. Não há indicação para se requisitem na avaliação global da saúde de um adulto saudável.
5. Os marcadores tumorais com interesse no estudo de problemas gastrointestinais são:
AFP
CEA
Ca 19.9
5
Bibliografia
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De Vita V, Hellman S, Rosenberg S. Cancer Principles and Practice of Oncology. 3ª ed.; 1989; Philadelphia; J.B. Lipprincott Company

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