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Parte IV – Problemas clínicos
4.9. Abordagem do paciente com problemas renais e urinários
326. Imagiologia
Ana Maria Pisco
Francisco Rita
Documento de trabalho
última actualização em Dezembro 2000

Contacto para comentários e sugestões: Santos, Isabel


As doenças renais podem manifestar-se com sinais e sintomas relacionados directamente com o aparelho urinário (alterações da micção, coloração da urina), ou referir-se a outros órgãos / sistemas (lombalgia, náuseas e vómitos).
As lesões primárias renais podem produzir sinais / sintomas a distância (fractura óssea por metastização de tumores renais).
Os sintomas de doenças renais estão geralmente relacionados com:
-dor ou desconforto lombar
-alterações miccionais
-alterações de urina

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Quadro I

Técnicas de imagem do aparelho urinário
1. Radiografia simples
2. Urografia intravenosa com / sem nefrotomografia
3. Pielografia retrógrada /anterógrada
4. Cistografia
5. Uretrocistografia retrógrada
6. Ultrassonografia
7. Tomografia computadorizada
8. Ressonância magnética
9. Angiografia
10. Isótopos

1
Abdómen simples
Primeiro exame perante suspeita de patologia urinária. Detecta calcificações, massas, corpos estranhos, e lesões ósseas (metástases).
2
Urografia intravenosa
A utilização deste exame tem os inconvenientes e complicações resultantes do uso de contraste iodado. Os riscos variam: urticária, náuseas, vómitos, hipotensão, edema da glote, broncospasmo, choque anafilático e cardiorespiratório. Requer a administração prévia de laxantes de efeito rápido. Pode agravar a função renal e tem radiação ionizante várias vezes superior a um rx simples.
Está contra-indicada em caso de cirurgia abdominal recente ou evidência de aneurisma da aorta abdominal ( compressão do abdómen).
É o meio de eleição, juntamente com a ecografia para o estudo do aparelho urinário.
Após a injecção do produto de contraste, nos dois primeiros minutos (fase nefrográfica) visualizamos alterações do glomérulo (massas hipocaptantes - quísticas, ou lesões sólidas, que captam o contraste de maneira variada consoante a vascularização) aos três minutos de contraste os tubos colectores, cálices, infundibulos e bacinetes, aos cinco os ureteres e posteriormente a bexiga. A diferenciação das lesões parenquimatosas são muito difíceis de efectuar (falsos resultados).

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Quadro II

Indicações da urografia intravenosa
1. Doença litiásica
2. Estudo pré-operatório a litotrícia
3. Dor abdominal aguda com suspeita de obstrução da via urinária
4. Hematúria com suspeita de lesão do aparelho excretor
5. Infecções complicadas (tuberculose)
6. Suspeita de carcinoma transicional do aparelho urinário
7. Qualquer alteração suspeita por ecografia ou radioisotopo

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Pielografia
- retrograda
Consiste na introdução de contraste por cateter no ureter. Tem o risco de infecção e extravasamento do produto de contraste por rotura do ureter.
- anterógrada
A introdução do produto de contraste é feita por punção percutânea da pélvis renal.
Está indicada:
- rim não funcionante
- casos de obstrução (pré nefrectomia).
4
Cistografia
A bexiga pode ser visualizada na urografia intravenosa (15 minutos) ou por introdução de contraste por sonda vesical. Permite a detecção de refluxo vesico-ureteral, fístulas, divertículos, tumores, avaliação de traumatismos e estudo da incontinência.
5
Uretrocistografia retrógrada
Indicada em casos de estenoses ureterais, falsos trajectos, fistulas ou controle pós cirúrgico.
6
Ecografia renal e vesical
Técnica de imagem de fácil acesso, realização rápida, não invasiva, requer a ingestão prévia de líquidos em abundância (1 a 3 horas antes). Permite diagnosticar com exactidão 95-98% das massas quísticas e 90% das massas sólidas renais.
Tem sensibilidade para detectar 95% dos tumores vesicais com mais de 0,5 cm 2.
Um fluxo normal sem resíduo vesical traduz a inexistência de patologia. A existência de um resíduo vesical marcado traduz uma obstrução grave a juzante.

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Quadro III

Indicações da ecografia aparelho urinário
Massas renais: Diferenciação de quisto e tumor
Extensão de tumor para a veia cava
Insuficiência renal: Tamanho renal
Normal - insuficiência renal aguda
Reduzido - insuficiência renal crónica
Obstrução: a excluir se se visualiza o sistema colector
Transplante renal: Obstrução
Linfocelo
Obstrução pós vesical: Resíduo pós miccional
Pode avaliar no mesmo tempo de exame se existe dilatação a montante quando há resíduo vesical
Intervenção radiológica: Citologia aspirativa
Aspiração de quisto
Litíase: Detecção de cálculos
Localização de cálculo para litotricia

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Tomografia computorizada
A TAC só deve ser utilizada quando a ecografia é inconclusiva, ( pólo superior do rim esquerdo difícil visualização; doente obeso). É importante no estadiamento tumoral , na exclusão de um tumor renal contra lateral e na avaliação dos tumores piélicos.
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Outras técnicas imagiológicas
Ressonância magnética - Avaliar o envolvimento pélvico dum carcinoma vesical e quando há invasão por contiguidade nos tumores renais.
Angiografia - Indicada nos casos dos tumores renais (embolização paliativa), hematúria (malformações arterio-venosas), em hipertensão (estenose renal) ou em casos de transplante.

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Quadro IV

Indicações da TAC aparelho urinário
Tumor renal: Diferenciação de quisto e tumor quando a ecografia é equivoca
Estadiamento do tumor
Exclusão de pequenos tumores em casos de hematúria
Patologia retroperitoneal: Fibrose retroperitoneal
Tumor retroperitoneal
Alterações do sistema pielocalicial Diferenciação de cálculos de acido úrico de tumores uroteliais
Traumatismo renal  
Tumores do tracto inferior: Estadiamento de tumores da bexiga, próstata ou testicular
«Follow-up» de cirurgia, radioterapia ou quimioterapia

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1- Obstrução urinária
É o problema urológico mais frequente. É importante o diagnóstico etiológico rápido (sequelas na filtração glomerular). O radiologista deve confirmar ou excluir o diagnóstico, local e nível de obstrução .
Causas de obstrução:
-estenose consequente a traumatismos, neoplasias ( ex: colo do útero, prostáta, vesical, cólon). ou tuberculose. 
-infecção
- fibrose retroperitoneal (bypass de aneurisma da aorta ou colagenoses).
- cirurgia anterior (junção uretero-pélvica).
Na obstrução urinária crónica ( hidronefrose ou rim pequeno), há redução do parênquima renal ( aspecto de “concha”).

1.1. Rx simples do abdómen
- identifica cálculos opacos (oxalato de cálcio),de aparência granulosa e densidade heterogénea (trifosfato). Os radiotransparentes (ácido úrico) não são identificados.

1.2. Urografia intravenosa
- obstrução aguda - produto de contraste com densidade elevada. 
- obstrução pós renal - a opacificação do sistema pielocalicial é tardia (24 horas ou mais).

1.3. Pielografia retrógrada
- ideal para estudar anomalias dos ureteres, da junção ureter-bexiga ou doentes com reacção anterior a produto de contraste.

1.4. Ecografia
Tem limitações pela sobreposição gasosa das ansas intestinais. Dá informações sobre a dilatação hidronefrótica e localização da obstrução. É a técnica de primeira linha neste tipo de patologia. 

1.5. T.A.C.
Avalia alterações dos tecidos moles peri-renais, os rins e a totalidade do ureter e bexiga. Detecta hidronefrose ou abcesso peri-renal e utilizando meio de contraste mostra lesões obstrutivas que incluam outras estruturas pélvicas (próstata, útero, bexiga), seu relacionamento e as estruturas linfáticas peri-pélvicos.

1.6. Renografia com radionuclideos
É uma prova funcional, sem interesse na avaliação morfológica. 
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2- Infecção do tracto urinário adulto
Um doente do sexo masculino com história de infecção urinária deve realizar uma ecografia renal, vesical e prostática como exame complementar imagiológico de primeira linha. Dividimos as infecções nos adulto em agudas e crónicas.

Pielonefrite /cistite /prostatite aguda
RX simples do abdómen - identifica a coexistência de cálculos radiopacos.
Urografia intravenosa - permite uma avaliação morfológica global dos rins ureteres e bexiga
Cistografia permiccional - indicado no caso de suspeita de refluxo vesico ureteral
Uretrocistografia retrógrada miccional- indicado na detecção de estenose da uretra.
Ecografia - dá informação sobre morfologia renal, vesical e próstata. Não visualiza os ureteres, nem informa sobre a função renal. Faz o diagnóstico em caso de cistite enfisematosa. A ecografia transrectal tem interesse na detecção de patologia prostática. 
TAC – dá uma excelente avaliação morfológica do aparelho urinário. Exige a administração de produto de contraste em dose mais elevada que a urografia. 
Arteriografia e Ressonância Magnética não tem interesse neste tipo de patologia.

Pielonefrite crónica - As alterações radiológicas podem ser segmentares e/ou unilaterais. Na lesão difusa os rins são pequenos irregulares e os cálices dilatados. Nas lesões localizadas o rim tem tamanho normal mas o parênquima está reduzido e o cálice dilatado. A ecografia permite-nos avaliar a espessura do parênquima e o TAC e urografia a dilatação calicial.
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Tuberculose
Urografia - permite demonstrar a existência de calcificações, atrasos na excreção dos produtos de contraste e hidronefrose. Permite a detecção precoce desta patologia ao mostrar alterações do aparelho excretor renal antes de qualquer outro exame.
Ecografia - não permite uma certeza diagnóstica se não existirem lesões extensas.
TAC - Só permite a suspeita deste diagnóstico se existirem calcificações do parênquima.
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3 - Massa renal
Uma massa do parênquima renal caracteriza-se pelo aspecto imagiológico de alteração no contorno renal, desvio da árvore pielocalicial ou distorção do parênquima.
Se o doente apresenta hematúria, dor no flanco e, eventualmente massa palpável, deve ser pedida em primeira abordagem uma ecografia seguida ou não de urografia. A TAC permite fazer a confirmação diagnóstica da natureza da lesão (sólida ou líquida) a determinação da extensão local e regional, bem como identificar invasão ganglionar. 
A Ressonância Magnética está indicada em casos de doentes alérgicos a produto de contraste ou com insuficiência renal.
A angiografia está indicada em caso de planeamento cirúrgico para nefrectomia ou excisão de tumor.
A cintigrafia permite fazer o diagnóstico diferencial com pseudo tumor.

3.1- Massas sólidas:
São bem detectados pela TAC e Ressonância Magnética

Expansivas
– (90 - 95% das massas sólidas)
-carcinoma de celulas renais
-adenoma
-angiomiolipoma
-metástases
-linfoma

O Rx simples dá-nos a existência ou não de calcificações.
A urografia de eliminação informa-nos sobre a extensão da lesão e compressão pielocalicial.
A ecografia (meio de diagnóstico primário) e a TAC permitem-nos distinguir entre massa sólida e líquida, local de origem e extensão. 
A ressonância magnética informa-nos sobre o crescimento e estádio da lesão. 

Infiltrantes – (5 – 10% das massas sólidas)
-linfoma
-metastases
-carcinoma de celulas transicionais invasivo
-não neoplásico (contusão, pielonefrite, infarto, trombose venosa)

3.2- Massas liquidas (quistos):
-quistos simples (um em cada 3 indivíduos de mais de 45 anos tem 1 ou mais quistos)
-doença renal poliquística (autossómica dominante, autossómica recessiva)
-rim esponjoso medular
-rim multiquístico displásico
-quistos múltiplos e neoplasias múltiplas (doença renal quística adquirida, doença de Von Hippel- Lindau, esclerose tuberosa)

A Ecografia, TAC ou Ressonância Magnética diagnosticam 100% dos casos, mesmo que existam septos e /ou calcificações. A urografia de eliminação é insuficiente para fazer o diagnóstico.
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4- Hematúria macro e microscópica
O 1º exame imagiológico a pedir será a ecografia e o Rx simples do abdómen. 
Se forem “negativos” deverá fazer-se uma cistoscopia e urografia intravenosa de eliminação.
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5- Hipertensão
Na hipertensão de um adulto jovem ou refractária a terapêutica deverá ser realizada uma ecografia renal para avaliar o tamanho relativo dos rins e seu padrão parenquimatoso. A urografia intravenosa não está indicada (diagnóstico de estenose da artéria renal). Nestes casos deve realizar-se uma Ressonância magnética ou renograma, complementado com arteriografia digital se se pretende realizar intervenção cirúrgica.
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6-Cólica renal
O 1º exame é o um Rx simples do abdómen (identificar a existência de cálculos radiopacos). A ecografia renal e vesical permitem visualizar os cálculos radiopacos ou nãoe determinar do sofrimento renal (dilatação da via excretora). A urografia intravenosa de eliminação está indicada se pretendemos avaliar a função renal ou se os exames anteriores forem inconclusivos.
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7- Retenção urinária
Deverá ser realizada ecografia para avaliação do sistema excretor e orientação etiologica.
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8- Tumores da suprarrenal
Os mais frequentes são os adenomas e quistos não funcionantes. Dos tumores funcionantes o feocromocitoma é o mais frequente. O diagnóstico é feito por provas bioquímicas. Os exames imagiológicos (TAC - sensibilidade de 92-100%) permitem localizar o tumor e sua remoção cirúrgica. Deve haver cuidado nos doentes hipertensos com a injecção de produto de contraste para complementar a TAC. Indicada nos tumores extraglandulares, recidivas tumorais e doença metastática.
A sensibilidade da Ressonância Magnética é da ordem dos 100% na caracterização de paraganglionomas.
O teste do I 131-MIBG é a técnica cintigráfica que usa um radiofármaco marcador adrenérgico . É altamente sensível e especifica, detectando um paraganglionoma em qualquer parte do corpo, sendo demorada (72 horas) e não fornecendo caracterização anatómica que permita a cirurgia.
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10- Carcinoma da suprarrenal
É um tumor raro, altamente maligno. A TAC tem importância no seu diagnóstico (massas volumosas, irregulares, heterogénea com áreas de hemorragia). A Ressonância Magnética é importante no estadiamento, avaliação do envolvimento venoso e da metastização hepática.

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Bibliografia
Alan J Davidson, MD, et al . Radiologic assessment of renal masses : implication for patient care. Radiology 1997;202:297-305

Armando Lacerda Noções fundamentais de imagiologia ed Lidel 1998 ;471-479

Boquet Espinás J, et al . Guia de Actuacion en atencion primaria Barcelona: SemFyc;1998

David S Hartman Noções fundamentais de imagiologia ed Lidel 1998 ;461-470

Erich K.Lang Noções fundamentais de imagiologia ed Lidel 1998 ;443-448

Harry G Zegel et al .Renal masses .1371-1389

Ian Kelsey Fry et al . Renal Parenchymal disease . 1351-1370

Jose Manuel S Coelho et al.Noções fundamentais de imagiologia ed Lidel 1998 ;449-459

Luís Abranches Monteiro et al –Noções fundamentais de imagiologia ed Lidel 1998 ;437-442

Michael J. Kellett Calculosis disease and urothelial lesions.1391-1405

Michael J. Kellett Methods of investigation .1327-1332

Bibliografia aconselhada para leitura 
Ronald J. Zagoria, MD .1997 The urologic clinics of North America W.B Saunders Company Philadelphia, number 3.