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Parte V - Situações de urgência ou de crise
5.1. Urgências e emergências médicas

511. Hipoglicemia
Rosa Gallego

Documento de trabalho
última actualização em Dezembro 2000

Contacto para comentários e sugestões: Robalo, J.

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Definição
É uma síndrome clínico ocasionada pela descida excessiva de glicemia. A hipoglicemia define-se por um conjunto de sintomas e sinais de natureza reactiva-vegetativa e/ou por carência de glicose na célula nervosa que melhora pela administração de glicose. Laboratorialmente define-se por glicemia inferior a 50 mg/dl (2.75 mmol/l).
A hipoglicemia não tratada pode conduzir a lesão neurológica irreversível e à morte.
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Anamnese
Os sintomas de hipoglicemia variam de pessoa para pessoa, é importante que cada um saiba reconhecer os seus sintomas e que o médico os registe. Classicamente os sintomas dividem-se em:
Sindroma vegetativo – Aparece quase sempre por descida rápida de glicemia, ocasionando contra-regulação hormonal, nomeadamente descarga de adrenalina e de glucagom.
1. Taquicardia e palpitações
2. Palidez
3. Sudação fria e por vezes profusa
4. Ansiedade
5. Tremores, sensação de ‘tremor interior’
6. Fome
Sindroma neuroglicopénico – Surge por descida lenta da glicemia, com predomínio dos sintomas do SNC ou por bloqueio simpático.
1. Cefaleias
2. Tonturas
3. Visão nublada
4. Dificuldades de concentração
5. Lentificação do raciocínio
6. Perda de memória
7. Confusão mental
8. Parestesias – formigueiros peribucais e da língua
9. Alterações do humor e/ou alterações do comportamento 
10. Alterações da fala e dos movimentos finos
11. Quadros neurológicos com: hemiparesia, convulsões, coma
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Diagnóstico diferencial
1. De jejum – apenas após várias horas de jejum

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Quadro I

Causas de hipoglicemia de jejum

1. Por superprodução de glucose
Deficiência hormonal
1. Hipopituitarismo
2. Insuficiência adrenal
3. Deficiência de catecolaminas
Defeitos enzimáticos
(na sua maioria hepáticos e relacionados com a produção e catabolização de glicogénio)
Deficiência do substrato
1. Hipoglicemia cetótica da infância
2. Mal nutrição severa
3. Gravidez (sobretudo no último trimestre)
Doença hepática adquirida
1. Congestão, hepatite e/ou cirrose
Hipotermia
Uremia
Fármacos e drogas
1. Álcool
2. Salicilatos em altas doses
2. Por sobre-utilização de glucose
Com valores aumentados de insulina
1. Insulinoma
2. Insulinoterapia
3. Sulfonilureias
4. Doença auto-imune com produção de insulina ou anticorpos anti-receptor desta
5. Fármacos: quinino, disopiramida, pentamidina
6. Choque endotóxico
Com valores normais de insulina
1. Tumores extrapancreáticos
2. Caquexia com depleção adiposa
3. Deficiência enzimática (enzimas cadeia oxidativa dos lípidos)
4. Deficiência de carnitina

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2. Pós-prandial ou reactiva
– apenas após a ingestão alimentar

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Quadro II

Causas de hipoglicemia reactiva

1. Idiopática
2. Hiperinsulinismo reactivo alimentar
3. Intolerância à frutose
4. Galactosemia
5. Hipersensibilidade à leucina

Na sua maioria, as situações de hipoglicemia ocorrem em pessoas com diabetes e medicadas com fármacos hipoglicemiantes, pelo que é importante aqueles tragam sempre consigo um cartão de identificação onde deve constar o tipo de terapêutica utilizada, bem como as instruções, sobre como actuar, em caso de hipoglicemia.

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Quadro III

1. Doente consciente – o controlo imediato faz-se com a ingestão de solução fraca de sacarose (2 pacotes de açúcar em água) ou glicose (refrigerante com açúcar e não "Diet"), repetindo, se necessário, até ao desaparecimento dos sintomas. 

Só então deve ser ingerida pequena refeição contendo hidratos de carbono de absorção lenta. O tratamento inicial da hipoglicemia com alimentos de digestão mais lenta induz a perda de sensibilidade aos sintomas vegetativos. 

2. Doente agitado ou negativista – administrar uma papa de açúcar feita com adição de umas gotas de água.
3. Deglutição impossível – administrar glucose hipertónica a 20% IV até à recuperação da consciência (na impossibilidade da sua administração fazer 1 mg de glucagom i.m.*). Se após 100 cc não houver retoma da consciência fazer uma determinação da glicemia capilar:

Se inferior ou igual a 200 mg/ dl, (11 mmol/l) continuar administração de glicose hipertónica até obter este valor e manter em vigilância.**

Se superior a 200 mg/dl, trata-se de um coma prolongado com edema cerebral que exige internamento hospitalar urgente.

*lembrar o baixo efeito do glucagom do paciente alcoolizado ou mal nutrido ou no diabético com actividade física intensa.
**Caso a causa seja o uso de sulfonilureias o doente deve ser mantido em vigilância durante 24 a 72 h pois a acção destas é longa e pode haver recidiva.

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Bibliografia

Duarte R. Diabetologia Clínica. 1ª ed. Lidel: Lisboa,1997.

Harrisson’s Principles of Internal Medicine. 14th edition. 1998.

Joslin Textbook of Diabetes, 1996.