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Documento
de trabalho última actualização em Dezembro 2000 |
Contacto para comentários e sugestões: Carraça, Idalmiro |
O delírio é um conjunto de juízos convictos mas falsos que não cedem à argumentação lógica; o «delirium» é uma diminuição aguda da consciência, geralmente transitória, devido a doença cerebral orgânica, frequentemente acompanhada de ideias delirantes e alucinações. Quanto ao conteúdo, os delírios, por mais variados que sejam (de grandeza, de culpa, de ciúme, etc.) podem ser reduzidos a uma única forma essencial, o tema da perseguição, de acordo com Henry Ey. 1 Diagnóstico diferencial O delírio pode ocorrer em situações: 1. psiquiátricas (o exame neurológico é negativo): Crises agudas: afectivas: Depressão psicótica, Perturbação bipolar (tipo: mania, depressivo, misto = Perturbação maníaco-depressiva), Perturbação obsessivo-compulsiva psicóticas: Paranóia, perturbações paranóides (aguda, atípica, “folie à deux”), sindromas paranóides (puerperal, da menopausa, de involução senil), estados psicóticos por mudança de meio (ex.: prisão, emigração), surtos reactivos atípicos, esquizofrenia paranóide 2. médicas e neurológicas (no exame neurológico há sinais focais): a. nas perturbações do gânglio basal – Doença de Parkinson e Huntington b. em estados carenciais – B12, folato, tiamina c. «delirium» (em Portugal a causa principal é o alcoolismo) d. demência – de Alzheimer, de Pick e. induzida por drogas – anfetaminas, anticolinérgicos, cimetidina, f. endocrinopatias – tiróide, paratireóide, etc. g. alterações do sistema límbico – doenças cerebrovasculares, epilepsia, tumores h. sistémicas – encefalopatia hepática, porfíria, hipoglicemia, hiper-calcemia, uremia, doenças infecciosas i. atraso mental com episódios paranóides 2 Terapêutica Os doentes com delírio agudo contactam-nos de moto próprio ou trazidos por outrem, quando as ideias delirantes provocam comportamentos agressivos ou socialmente desadequados e/ou quando a ansiedade e agitação são muito acentuados. 1.Atitude clínica geral: a. Mostrar-se tranquilo e confiante. Manter atitude empática. Se possível, falar primeiro com o doente e chamar depois, se necessário, os familiares. Deixar falar o doente, sem o interromper nem emitir juízos de valor. b. Tentar averiguar quais os sintomas e sinais, a sua gravidade, se há factores desencadeantes e se sabemos actuar na situação. No «delirium» por abstinência alcoólica, em que existem alucinações visuais, ansiedade e agitação psicomotora: 1. corrigir os desequilíbrios hidroelectrolíticos 2. administrar complexos vitamínicos B e C 3. se o doente está muito agitado e agressivo, (devido à vivência delirante), requer hospitalização imediata; na urgência é mantido em ambiente calmo e sedado com haloperidol 2 mg IV, repetido de hora a hora até estar controlado. Não se ultrapassam os 10 a 60 mg/dia e logo que possa fazer per os, é usado o clordiazepóxido 50 -100 mg de 4 em 4horas. No delírio agudo, utilizamos neurolépticos (1 a 3 fórmulas IM de 25mg), sobretudo: - Haloperidol – tem efeito antipsicótico (+++) e sedativo (+) - Cloropromazina – efeito antipsicótico (++) e sedativo (++) - Levomepromazina – efeito antipsicótico (+) e sedativo (+++) Utilizam-se antiparkinsónicos, se ocorrerem sintomas extra piramidais secundários, como: espasmos (da língua, face, pescoço, tronco), crises oculógiras, acatisia (impossibilidade de estar quieto), parkinsonismo (gradualmente surgem: rigidez muscular, bradicinesia e tremor). Nos idosos é usado o haloperidol per os, começando por doses baixas, (1 ou 2 mg) aumentando-as gradualmente. Nas psicoses orgânicas (que se caracterizam inicialmente por alterações das funções cognitivas: atenção, memória e pensamento o que provoca perturbações da percepção e da orientação) deve corrigir-se primeiro a situação de base. 3 Bibliografia Fonseca AF. Psiquiatria e Psicopatologia. Fundação Calouste Gulbenkian, 1995. Gomes AA, Cortesão EL e Silva ES. Psiquiatria, Neurologia e Saúde Mental na Práxis do Clínico Geral. Laborat. UCB, 1986. Goroll A, May L, e Mullrey Jr A. Cuidados Primários em Medicina. 3 ed. McGraw-Hill, 1997. Hey H. Manual de Psiquiatria. 5 ed. Mason, 1981. Kaplan, Sadock. Synopsis of Psichiatry. 8 ed. Lippincott Williams & Wilkins, 1997. |