
Entrámos no posto de turismo. Era a primeira vez que visitávamos aquela localidade...
- Bom dia, em que posso ajudar?
- Será que nos poderia dar algumas sugestões sobre o que visitar em Arles?
- Sim, com muito gosto. Tem aqui um mapa de Arles. Encontramo-nos aqui. Aconselho-o a visitar o teatro romano que fica aqui muito próximo e depois poderá visitar também o Anfiteatro e tem ainda o museu, os banhos e o Fórum...
- Peço-lhe desculpa por interromper, mas nós estávamos mais interessados nos locais relacionados com van Gogh.
Com cara de algum enfado e depois de um movimento respiratório mais lento e profundo, a senhora do Posto de Turismo lá passou a responder:
- Ah, para os locais de van Gogh, dispõe deste guia. Poderá visitar...
...
Em boa verdade, fiquei algo surpreendido com os espetaculares vestígios de Arelate (nome de Arles no período do Império Romano). Reconheço que desconhecia completamente esta pérola do Império Romano, mas foi pelo Vincent que fui até Arles.
Para quem gosta da pintura impressionista ou pós-impressionista, sabe como era importante para os pintores impressionistas o captar da cor, da luz, do momento e do local em que se encontravam a pintar. Frequentemente, estes pintores viajavam em busca de locais “especiais” que lhes permitissem inspiração e novos desafios. Vincent van Gogh encontrou em Arles e nas cores e luz da Provença as características ideais para se inspirar e desenvolver o seu trabalho. Muitos dos locais onde os impressionistas do século XIX criaram algumas das suas obras-primas existem ainda e podem ser visitados. Há cerca de 6 anos, já tinha tido a interessantíssima experiência de visitar a casa de Claude Monet em Giverny. Desta vez, fui à procura da Route van Gogh, ao encontro dos passos de Vincent. E foi muito interessante! Olhei para aqueles campos e facilmente reconheci o "The Harvest". Ao percorrer aquelas ruas ladeadas de casas pintadas em tons de amarelo com portadas de madeira nas janelas, foi fácil transportar-me para o mundo da "The yellow house".
Muitos dos pontos onde Vincent terá pintado os seus quadros, estão sinalizados com um painel informativo que contém também uma imagem do quadro ali pintado. No final deste texto, destaco e partilho alguns dos principais pontos que visitei: "Terrace of a café at Night (Place du Forum)”, “Starry Night”, “Entrance to the public gardens in Arles” e "Le jardin de la maison de santé a Arles". Passo a passo, pensamento a pensamento, pelas ruas de Arles, ocorre-me a turbulência da tua mente, Vincent, a compulsão com que pintavas, o teu sofrimento, mas também a alegria inicial e o entusiasmo por cada tela em branco que deixava de o ser. E, claro, a tua genialidade criativa.
Vincent. Muito obrigado, Vincent.
“Entrance to the public gardens in Arles”
"Le jardin de la maison de santé a Arles"
Por Carlos Martins
PS.: para os interessados na Route van Gogh, vale a pena visitar este site.
Com Fúria e Raiva
Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras
Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada
De longe muito longe desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a água
E tudo emergiu porque ele disse
Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra
Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"
“...As sociedades polarizadas são muito menos tolerantes em relação à globalização. É nas sociedades, como a Suécia no passado, como hoje o Canadá, onde há uma política ao centro, onde a direita e a esquerda trabalham em conjunto, que se torna possível encorajar e desenvolver atitudes inclusivas e de apoio em relação à globalização. E o que vemos no mundo hoje é um trágica polarização, a falta de um diálogo entre os extremos da política, e uma lacuna daquele centro liberal que possa incentivar a comunicação e um entendimento partilhado. Podemos não conseguir isso hoje, mas pelo menos temos que apelar aos nossos políticos e aos meios de comunicação social para deixarem cair a linguagem do medo e se tornarem muito mais tolerantes uns em relação aos outros.”