2012 – ANO DE VIRAGEM !

Estamos num ano de viragem em Portugal e há inúmeras razões e factores para isso, mas não é objectivo desta crónica fazer a sua caracterização exaustiva. Muito menos em relação às múltiplas dimensões da nossa vida, como indivíduos, povo, sociedade e nação. Muito menos ainda em relação à humanidade, como comunidade global do século XXI.

De qualquer modo, numa perspectiva global, fazer de 2012 um ano de viragem, implica uma atitude de liderança e um comportamento colectivo, que exige assumir valores, missão e visão claras. Que exige além disso a concepção de que estamos aqui para transformar e não apenas para contemplar a realidade.

Perguntar-me-ão e bem, nesta altura, que viragem é essa e para onde?

Focando o meu pensamento na área da saúde, há três questões fundamentais que quero abordar e em torno das quais defendo qual é a direcção e o sentido.

As equipas de saúde multiprofissionais e multidisciplinares, ao nível dos Cuidados de saúde Primários (CSP), são a melhor solução para os cidadãos e as famílias portuguesas, não fazendo sentido hoje, pensar o médico de família isolado, nem mesmo um grupo de médicos, menos ainda separado de outros profissionais de saúde, designadamente dos enfermeiros e dos secretários clínicos.

Equipa essa que não anula, pelo contrário, estimula, potencia e multiplica as capacidades individuais, cria equilíbrios, proporciona respostas para as dificuldades e para a resolução de problemas, para a formação e a investigação, para a melhoria contínua, organizacional e técnico científica.

Equipa essa que é e será naturalmente liderada por médicos de família, sem que isso impeça, pelo contrário, o convívio com outras lideranças, num quadro de coexistência, de criatividade e de complementaridade.

A missão principal das Unidades de Saúde Familiar (USF) é organizarem-se em função da melhor prestação de cuidados de saúde à população, em termos de acesso e de qualidade. Algumas formas de o alcançar, manter e garantir são a avaliação da satisfação dos utentes, por exemplo com a aplicação do “Europep”, a superação de motivos de insatisfação, a prestação de contas, por exemplo em reuniões anuais e a dinamização de organizações próprias, por exemplo as “Ligas de Amigos”.

É preciso que as equipas saibam usar a sua autonomia e responsabilidade para cumprirem a sua missão. Vale a pena salientar que, embora a contratualização seja realizada com os ACeS e indirectamente com os outros níveis da administração, a finalidade das USF é servir as pessoas e a sua maior responsabilidade é para com a população.

O valor das USF está cada vez mais demonstrado, nas áreas do acesso, do desempenho, da qualidade e da eficiência. Assim, hoje, quando uma UCSP evolui para USF, isso é diminuir desperdício. Investir em USF e na sua evolução para modelo B é investir em eficiência.

Prosseguir este caminho de evolução da reforma dos cuidados de saúde primários exige que algo aconteça nos hospitais, sob pena de o imobilismo destes constituir um travão para os CSP.

Os médicos de família e os outros profissionais de saúde dos CSP necessitam cada vez mais que mude a atitude dos nossos colegas dos hospitais, em relação à prescrição, a boas práticas baseadas na evidência e à qualidade, que se invista na sua motivação, que se crie também aí uma cultura de equipa, de motivação dos profissionais e de inovação organizacional.

A mudança da organização dos serviços de saúde públicos, a mudança na administração, o diálogo e a articulação entre os diferentes níveis de cuidados de saúde é essencial.

Saibamos fazer das ameaças, as oportunidades de mudança e 2012 poderá ser um ano de viragem para melhor na área da saúde e dos CSP, no sentido de que a maioria da população portuguesa pode beneficiar das novas organizações de proximidade e qualidade que são as unidades de saúde familiares.

Bernardo Vilas BoasMais OpiniãoMaisOpinião - Bernardo Vilas Boas
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