Prova de provocação oral com amoxicilina para esclarecer alergia à penicilina

 

 

Pergunta clínica: As provas de provocação oral com amoxicilina são uma forma segura e acessível de distinguir as verdadeiras alergias à penicilina da rotulagem incorrecta?

Desenho do estudo: Este estudo tipo coorte teve lugar no Canadá, onde foram recrutados voluntários e os seus registos clínicos analisados. Foram identificados e seleccionados 99 adultos e crianças com mais de 18 meses de idade com história de reacção alérgica a penicilina, considerados de baixo risco para verdadeira alergia a penicilina (sem reacção grave e sem reacção IgE-mediada). As provas de provocação oral ocorreram em duas unidades de saúde equipadas com elixir de difenidramina para as reacções ligeiras e adrenalina para as reacções anafiláticas. A amoxicilina foi fornecida sob a forma de suspensão oral, sendo a dose total de 500mg para doentes >10kg e 45mg/kg para doentes <10kg. Primeiramente foi fornecida 10% da dose e, não havendo reacção, 90% da mesma 20 minutos depois. Se durante a hora seguinte não se verificasse urticária, pieira ou edema, considerava-se incorrecta a classificação de alergia à penicilina. Sintomas subjectivos como prurido e tonturas não foram considerados como suficientes para o diagnóstico de reacção alérgica. Os doentes receberam instruções para reportar sinais de alergia que ocorressem até uma semana mais tarde.

Resultados: Três dos participantes (3%) sofreram reacção ligeira, tendo sido medicados com elixir de difenidramina, com resolução sintomática; não houve necessidade de usar adrenalina em nenhum dos voluntários. Aos restantes 96 participantes foi-lhes retirado o rótulo de “alergia à penicilina”.

Comentário: Aproximadamente 10% de adultos e crianças estão classificados como portadores de alergia a penicilina. No entanto, estima-se que apenas 20% destes sejam verdadeiramente alérgicos à mesma. Referenciá-los todos para serem testados não é prático. Combinando a aplicação de algoritmos que permitem identificar quem tem baixo risco de ser verdadeiramente alérgico com a realização de provas de provocação oral destes indivíduos nos cuidados de saúde primários poderá resultar na poupança de recursos de saúde através da não prescrição de antibióticos mais caros, menos eficazes, e menos seguros.

Artigo original: CMAJ Open

Por Luís Bicheiro, USF Portas do Arade, Portimão

 

Artigo relacionado: Algoritmo – Alergia à penicilina

 

 

1 Comentário. Deixe novo

Teresa de Castilho
6 de Abril, 2024 10:45

Obrigada pela partilha. Achei útil.

Uncategorized
Menu