A tolerância dos diuréticos tiazídicos ao deitar

 

 

Pergunta Clínica: Os doentes sob tratamento com diuréticos tiazídicos de dose única diária toleram a sua toma ao deitar?

Desenho do Estudo: Este é um estudo de coorte prospetivo, integrado no ensaio clínico BedMed, no qual doentes adultos e hipertensos, em Cuidados de Saúde Primários no Canadá, são randomizados para a toma matinal ou noturna dos seus anti-hipertensores. Neste caso, incluíram-se doentes já em tratamento com um único anti-hipertensor matinal, que foram randomizados para a mudança da sua toma ao deitar. Assim, o presente estudo comparou a experiência auto-reportada entre utilizadores de diuréticos e não diuréticos, nomeadamente, a adesão à toma noturna do anti-hipertensor (definida como a vontade e disposição para manter a toma ao deitar) e, adicionalmente, o número de micções noturnas por semana, bem como a avaliação da noctúria como um grande incómodo.

Resultados: Após 6 semanas, a adesão à toma noturna dos respetivos anti-hipertensores foi inferior nos utilizadores de diuréticos, comparativamente aos não utilizadores de diuréticos (88,7% vs 94,6%). A mudança para a toma do anti-hipertensor ao deitar associou-se a uma maior frequência da noctúria nos utilizadores de diuréticos, resultando num aumento significativo do número médio de micções noturnas por semana e da proporção de participantes a considerar a noctúria um grande incómodo (15,6% vs 1,4%). Aos 6 meses, a adesão à toma noturna do anti-hipertensor foi ainda menor nos utilizadores de diuréticos (77,3% vs 89,8%; diferença de 12,6%). A noctúria foi a razão reportada para a não adesão à terapêutica por 56% dos utilizadores de diuréticos, tendo-se verificado o aumento contínuo e persistente da frequência da noctúria, com o incremento médio de 1,0 micção noturna por semana. Para além disso, uma proporção significativamente maior de utilizadores de diuréticos considerou a noctúria um grande incómodo (15,6% vs 1,3%; diferença de 14,2%).

Comentário: Embora a maioria, 77,3% aos 6 meses, dos utilizadores de diuréticos tenha tolerado a sua toma ao deitar, uma proporção significativa destes experienciou um agravamento da noctúria, com uma menor adesão à terapêutica, em relação aos doentes sob a toma noturna de outros anti-hipertensores. Assim, ainda que a toma de anti-hipertensores ao deitar possa constituir uma opção clínica para determinados doentes, é fundamental considerar os seus potenciais efeitos e consequente adesão à terapêutica. Por outro lado, é importante ter em conta a natureza subjetiva da avaliação do incómodo associado à noctúria e ainda a possibilidade de sobrestimação da tolerabilidade da toma noturna de diuréticos tiazídicos, uma vez que doentes com experiência prévia de noctúria resultante da sua toma poderiam estar menos dispostos a participar no estudo.

Artigo original: BMJ Open

Por Bárbara Moreira, USF Caminhos do Cértoma

 

 

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