À luz da evidência disponível relaxantes musculares não aliviam a lombalgia

 

 

Pergunta clínica: Os relaxantes musculares são eficazes no alívio da dor lombar?

Desenho do estudo: Revisão sistemática e meta-análise, utilizando como fonte de informação várias bases de dados, incluindo a Cochrane Library, assim como resumos de conferências e bases de registo de ensaios clínicos. Foram incluídos ensaios aleatorizados realizados com adultos, que comparassem diferentes relaxantes musculares (benzodiazepínicos ou não) vs. placebo, cuidados habituais ou ausência de tratamento. A selecção de estudos, extração de dados e avaliação do risco de viés foram efectuados de forma independente por dois revisores e as divergências resolvidas por discussão e, quando necessário, com recurso a um terceiro revisor. Os autores escolheram como principais marcadores (outcomes) a intensidade da dor e a aceitabilidade do tratamento. A perda de funcionalidade, segurança e interrupção do tratamento foram marcadores (outcomes) secundários.

Resultados: Foram incluídos 49 ensaios clínicos, 31 dos quais integraram a meta-análise, com um total de 6505 participantes. Em 16 ensaios (N=4546), os participantes que receberam um relaxante muscular não benzodiazepínico reportaram uma redução de 7,7 pontos numa escala de dor de 0-100 (intervalo de confiança (IC) 3,3-12,1) face ao grupo de controlo. Contudo, esta redução não se associou a melhoria da funcionalidade e não é considerada clinicamente relevante. Quando analisados apenas os estudos com baixo risco de viés ou controlados por placebo, não se encontraram diferenças entre os grupos em relação ao alívio da dor. Considerando 22 ensaios que avaliaram a segurança e tolerabilidade em 3404 pacientes, os relaxantes musculares não benzodiazepínicos apresentaram maior risco de efeitos adversos (risco relativo (RR)=1,6; IC 95% 1,2-2,0), embora sem diferenças relativamente à probabilidade de serem descontinuados face ao controlo (RR=1,5; IC 95% 0,6-3,5). Por sua vez, os antiespasmódicos e os relaxantes musculares benzodiazepínicos não apresentaram diferenças relativamente à redução da dor lombar. Verificou-se elevada heterogeneidade entre os estudos com antiespasmódicos, com o maior benefício a registar-se nos estudos com tiocolquicosido. Não pareceu existir viés de publicação.

Comentário: A evidência de suporte ao uso de relaxantes musculares é de baixa qualidade. Nenhum destes tratamentos parece levar a diferença clinicamente relevante no alívio da dor lombar face ao placebo. Na prática clínica, o uso por rotina de relaxantes musculares na lombalgia aguda deverá ser revisto à luz desta evidência e numa perspectiva de minimização de possível iatrogenia.

Artigo original: BMJ

Por Maria Beatriz Morgado, USF Cova da Piedade

 

 

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