Alguns anti-hipertensores reduzem o risco de diabetes e outros aumentam

 

Pergunta clínica: Poderá o tratamento farmacológico da hipertensão arterial (HTA) reduzir o risco de desenvolvimento de Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2)?

Desenho do estudo: Meta-análise. Trata-se de uma meta-análise conduzida pelo grupo de estudos Blood Pressure Lowering Treatment Trialists’ Collaboration (BPLTTC) da Universidade de Oxford, onde foram analisados dados relativos a participantes individuais incluídos em estudos anteriores. Foram selecionados estudos conduzidos entre 1973 e 2008, incluindo estudos de prevenção primária e terciária com utilização de uma classe ou diferentes associações de anti-hipertensores em comparação com placebo ou comparações entre si. Todos os estudos mantiveram um follow-up de pelo menos 1000 pessoas/ano. Foram excluídos participantes com diagnóstico conhecido de Diabetes Mellitus tipo 2.

Resultados: Foram analisados dados de 145939 participantes de 19 estudos diferentes. Destes, após um follow-up de 4-5 anos, 9883 desenvolveram Diabetes Mellitus tipo 2. Não se verificou uma diferença estatisticamente significativa entre a incidência de diabetes no grupo de intervenção e o grupo controlo: 15,94 vs 16,44 por 1.000 pessoas-ano, respectivamente, com intervalos de confiança sobrepostos. Através de uma network meta-analysis, verifica-se que os inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECAs) e os antagonistas dos receptores da angiotensina (ARAs) se associam a uma redução de desenvolvimento de diabetes. Por outro lado, os bloqueadores beta e os diuréticos tiazídicos associam-se a um aumento do risco de desenvolver a diabetes. Os antagonistas dos canais de cálcio não se associam nem ao aumento nem à redução do risco de diabetes.

Comentário: Em relação ao outcome principal, a redução da pressão arterial não se associou a uma diminuição do risco de diabetes. Esse eventual efeito pode estar mais relacionado com a classe de anti-hipertensores que é usada do que com a redução da pressão arterial per si. E se alguns desses fármacos podem reduzir o risco de diabetes, outros podem até aumentá-lo, devendo isso ser considerado na nossa prática clínica, sobretudo nos doentes em maior risco de desenvolver diabetes.

Artigo original: The Lancet

Por Mariana Ferreira Rodrigues, UCSP Macedo de Cavaleiros

 

 

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