Relação ente asma e postura corporal

Por Ângelo Costa, UCSP Fernão de Magalhães

 

 

Pergunta Clínica: Em adultos com asma, as alterações da mecânica respiratória interferem com a postura corporal?

Desenho do estudo: Estudo transversal englobando 34 indivíduos entre 18-50 anos com diagnóstico de asma, recrutados no Posto de Atendimento Médico Newton Bethlem. A análise postural foi realizada através da fotogrametria, utilizando-se o software de avaliação postural. Na análise respiratória foram realizadas espirometria, pletismografia, medição da capacidade de difusão do CO e avaliação da força muscular respiratória. A análise da composição corportal foi feita através da bioimpedância eléctrica.

Resultados: A maioria dos pacientes era do sexo feminino (70%) com uma média de idades de 32,5 anos. Houve correlação significativa dos desvios posturais com os indicadores de obstrução brônquica, incluindo a diminuição da relação entre o Volume Expiratório Máximo e a capacidade vital forçada (VEMS/CVF), a redução do débito expiratório máximo instantâneo (DEMI), o aumento da capacidade pulmonar total (CPT) e do Volume Residual (VR) e a elevação das resistências das vias aéreas (Rva). Os indicadores de obstrução brônquica e força muscular respiratória correlacionaram-se com as medidas de avaliação postural obtidas em vista lateral direita e esquerda. Tanto o índice de massa corporal como a percentagem de massa gorda correlacionaram-se com o alinhamento horizontal da cabeça e da pélvis e ângulo frontal do membro inferior.

Conclusão: Doentes asmáticos adultos apresentam alterações posturais específicas que se correlacionam com a função pulmonar e com a composição corporal.

Comentário: Considerado um problema muito prevalente, a asma é uma patologia respiratória crónica caracterizada pela hiperreatividade brônquica, obstrução reversível ao fluxo aéreo e inflamação brônquica. Esta obstrução provoca encurtamentos musculares, rebaixamento das hemicúpulas diafragmáticas com menor pressão abdominal, redução da expansibilidade torácica com diminuição da mobilidade costal e a insuflação do tórax. Estas alterações determinam compensações na coluna vertebral e cintura escapular e pélvica, o que acarreta alterações posturais significativas (cifose torácica e lordose lombar), hipertrofia adaptativa e diminuição da flexibilidade, evidenciando assim uma relação positiva entre as alterações pulmonares e a biomecânica postural. A maioria destes pacientes tem obesidade associada, o que traduz numa redução da função pulmonar e degradação da qualidade de vida comparativamente aos indivíduos com peso normal. É percetível que a reabilitação de portadores de asma não deve apenas incidir num tratamento respiratório, mas também incidir nas correções posturais e deste modo prolongar o período intercrises e diminuindo a sintomatologia, culminando, assim, na melhoria da funcionalidade mecânica e qualidade de vida.

 

Artigo original

 

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