Os meus avós e a médica que hoje sou





Desde o primeiro ano da faculdade, aprendi que a empatia é um pilar fundamental na relação-médico doente. Também me foi explicado que, por vezes, fruto do desgaste profissional, a empatia diminui à medida que um médico progride na carreira. Felizmente, tenho a convicção que tenho palmilhado o caminho inverso. Para isso, muito contribuiu o relacionamento que cultivei com os meus avós.

Durante os últimos anos, assisti à degradação física e psicológica dos meus avós. O meu avô materno partiu, e levou com ele a memória da minha avó… No entanto, deixou comigo a profunda alma do seu ser, e acredito que todos os dias me visitam no meu gabinete…

Os meus avós entram no meu gabinete quando os doentes me olham e me sorriem, quando esperam ansiosos por uma boa notícia, ou receosos que a má notícia não tenha solução.

Os meus avós entram na sala quando algum doente se baralha na medicação, quando se sente perdido porque a memória já não é o que era, quando vestir e tirar a roupa é um processo cansativo e difícil.

Os meus avós entram na sala quando a dificuldade de locomoção é grande mas o sorriso está lá ao cruzar a porta, sempre que me fazem rir ou me comovem com a inocência e humildade do seu ser.

Os meus avós entram na sala quando os meus doentes me desejam que seja muito feliz, mesmo quando quem precisa de uma palavra de alento sejam eles.

De todas as vezes que me empenho, sei que ajudei os avós de alguém, tal como os colegas ajudaram os meus quando foi necessário…

Desejo a todos um feliz dia dos avós… e que a sua presença, ou a sua memória, ilumine os nossos dias.

Por Sofia Magalhães Ferreira, USF Uma Ponte para a Saúde

MaisOpinião +
Menu