Betabloqueadores e antidepressivos tricíclicos são dos fármacos com maior risco de hipotensão ortostática

 

 

Pergunta clínica: Quais as classes farmacológicas que mais se associam a hipotensão ortostática?

Desenho do estudo: Revisão sistemática com meta-análise. Foi feita uma pesquisa em três bases de dados por ensaios clínicos aleatorizados publicados até novembro de 2020 que reportassem como marcador (outcome) o efeito adverso hipotensão ortostática, comparando o uso de qualquer fármaco com o placebo, numa população de adultos. Um investigador, com supervisão aleatória por outros dois, realizou a selecção de estudos para inclusão e avaliou o risco de viés dos estudos incluídos. As divergências foram resolvidas por consenso. A extracção de dados foi feita de forma independente por três revisores. Os autores tiveram em consideração o meio de avaliação da hipotensão ortostática, dose do fármaco, risco de viéses e características dos participantes, planeando análises por subgrupo.

Resultados: Foram incluídos 69 ensaios, com um total de 27,079 indivíduos. As classes terapêuticas que mostraram aumentar o risco de hipotensão ortostática foram os beta-bloqueadores (OR 7.76 [IC 95% 2.51, 24.03]), os antidepressivos tricíclicos (OR 6.30 [IC 95% 2.86, 13.91]), antihipertensores de ação central (OR 2.40 [IC 95% 1.38, 4.11]), antipsicóticos de segunda geração (OR 2.38 [IC 95% 1.38, 4.11]), bloqueadores alfa-adrenérgicos (OR 1.87 [IC 95% 1.33, 2.64]) e inibidores do SGLT-2 (OR 1.24 [IC 95% 1.08, 1.43]). Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas com o uso de bloqueadores dos canais de cálcio, inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECAs), antagonistas dos receptores da angiotensina II (ARAs) ou inibidores da recaptação selectiva de serotonina (SSRIs). Para 40 dos 69 estudos incluídos, o risco de viés foi considerado baixo.

Comentário: Este estudo vem alertar para o facto de que alguns fármacos usados com frequência na prática clínica no tratamento de patologias comuns se associam a hipotensão ortostática, com consequente hipoperfusão cerebral, que se associa a quedas, declínio cognitivo, acidente vascular cerebral e aumento da mortalidade. O risco de hipotensão ortostática é maior com fármacos que bloqueiem mais do que uma via envolvida na regulação da pressão arterial (por exemplo, inibição simpática combinada com efeito vasodilatador). Deste modo, o clínico deve estar particularmente atento a estes dados aquando da escolha da terapêutica a instituir, sobretudo perante um doente mais suscetível à diminuição da pressão arterial e em que este efeito possa ser potenciado por outros fármacos que já tome. Nos doentes polimedicados, pelo risco a que estão sujeitos, a avaliação da tensão arterial postural pode ser benéfica para despiste de hipotensão ortostática e assim evitar potenciais complicações. De referir como limitação, que a maioria dos estudos incluídos na revisão excluíu pacientes idosos.

Artigo original: PLoS Med

Por Sara Pereira Santos, USF Nova Via

 

Relacionado:

 

 

 

Prescrição Racional
Menu