Paralisia de Bell: esteróides e/ou antivirais?

Por Liliana da Silva Correia, USF Grão Vasco

 

A Paralisia de Bell (PB) é uma doença comum caraterizada por parésia facial periférica de causa desconhecida, sendo que mais de 30% dos doentes não recuperam completamente a função do nervo facial (FNF). Em 2001, a Academia Americana de Neurologia publicou uma guideline onde concluía que os esteroides seriam provavelmente eficazes e que o aciclovir seria possivelmente eficaz no aumento do número de doentes que recuperam a FNF na PB. Em 2012 foi feita uma atualização desta guideline.

Pergunta clínica: Qual a eficácia, a segurança e a tolerabilidade dos esteróides e dos antivirais (aciclovir, famciclovir e valaciclovir) no tratamento da PB?

Desenho do estudo: Pesquisa na Medline e na Cochrane de estudos publicados entre 2000 e Janeiro de 2012 que comparavam a taxa de recuperação da FNF na PB nos seguintes grupos terapêuticos: a) tratamento com esteróides vs grupo controlo (não medicados com esteróides nem com antivirais); b) tratamento isolado com antivirais vs grupo controlo; c) tratamento isolado com esteróides vs associação de esteróides com antivirais.

Resultados: Estudos de classe I demonstraram que, comparativamente ao grupo controlo, os doentes com PB que fizeram esteróides apresentaram uma probabilidade 12.8% a 15% superior de recuperação completa da FNF. Contudo, estudos de classe II, com menor precisão estatística, não demonstraram benefício significativo dos esteróides na probabilidade de recuperação “Boa” (diferença da probabilidade de recuperação entre -0.75% e 7%).

Relativamente à segurança e tolerabilidade dos esteróides, a maioria dos estudos refere efeitos laterais minor e temporários, sendo os mais frequentemente observados a insónia e a dispepsia. Nenhum estudo de classe I demonstrou um benefício significativo da terapia isolada com antivirais comparativamente ao grupo controlo. Estudos de classe I e II não demonstraram benefício significativo da associação de esteróides com antivirais comparativamente ao uso isolado de esteróides, contudo a precisão estatística desses estudos foi insuficiente para excluir um modesto benefício ou agravamento resultante dessa associação. Nenhum estudo demonstrou aumento significativo de efeitos laterais nos doentes que fizeram antiviral.

Recomendações:

– Na PB, os esteróides deverão ser prescritos para aumentar a probabilidade de recuperação completa da função do nervo facial (Nível A).

– Na PB, os antivirais poderão ser associados aos esteróides para aumentar a probabilidade de recuperação (Nível C). Neste caso, o doente deverá ser informado que o benefício com os antivirais ainda não está esclarecido e, se existir benefício, este deverá ser modesto (aumento da probabilidade de recuperação <7%).

Comentário: Existe evidência do benefício dos esteróides na recuperação da função do nervo facial na PB. Contudo, em determinadas situações (como Diabetes mellitus, obesidade mórbida, osteopenia e história prévia de intolerância a esteróides) devem ser pesados os seus benefícios e riscos antes de serem prescritos.

Relativamente à associação dos antivirais aos esteróides, parece não existir benefício significativo. São necessários estudos adicionais para clarificar esta questão, nomeadamente em grupos específicos, como aqueles que apresentam doença severa ou possibilidade de Zoster Sine Herpete.

Artigo original

 

 

Prescrição Racional
Menu