Corticoterapia na alopécia areata: a potência importa?


Pergunta clínica: os corticoides de alta potência são mais eficazes que os corticoides de baixa potência no tratamento da alopécia areata das crianças?

Enquadramento: a alopecia areata pode afectar qualquer superfície corporal com pilosidade. Embora seja benigna, quando ocorre na infância, é fonte de ansiedade e preocupação por parte de muitos pais.

Desenho do estudo: estudo aleatorizado duplamente cego realizado durante 24 semanas no hospital Sick Children de Toronto, Canadá. Foram estudadas 41 crianças, com idades compreendidas entre os 2 e os 16 anos, que tinham alopécia areata com atingimento de pelo menos 10% do couro cabeludo. Foram excluídos todos os doentes que estavam a fazer tratamento concomitante com outros corticoides, imunossupressores, terapêutica tópica recente ou fototerapia. O tratamento foi feito com a aplicação de uma fina camada de corticóide em creme, 2 vezes por dia, durante 2 ciclos de 6 semanas a fazer tratamento e 6 semanas sem tratamento, perfazendo um total de 24 semanas de seguimento. Um dos grupos utilizou propionato de clobetasol, 0.05% (corticoide tópico de alta potência), e o outro utilizou hidrocortisona, 1% (corticoide tópico de baixa potência). As áreas de alopécia de todos os participantes foram reavaliadas às 6, 12, 18 e 24 semanas.

Resultados: 85% dos doentes a fazer propionato de clobetasol tiveram uma redução para metade ou mais na área afectada pela alopécia, em comparação com 33% dos doentes que utilizaram hidrocortisona (P<0,001). Além disso, ocorreu uma redução de 96,5% na área afectada pela alopécia com o uso de corticoides de alta potência comparado com 4,6% com a utilização de corticoides de baixa potência. Ocorreu apenas 1 caso de atrofia da pele, que resolveu espontaneamente ao fim de 6 semanas, e os níveis de cortisol urinário mantiveram-se estáveis.

Comentário: O propionato de clobetasol 0,05% demonstrou uma eficácia muito superior à hidrocortisona e o único caso de efeitos laterais ocorridos, que resolveram espontaneamente, reportava-se a um doente com uma forma muito extensa de alopécia. Estes resultados permitem atenuar o medo da utilização de corticóides de alta potência e também da sua utilização por tempos prolongados. Além disso, fornecem uma solução eficaz para uma patologia com tanto impacto emocional.

Artigo original

Por Mariana Rio, USF São João do Porto

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