Por Vítor Cardoso, USF Gualtar
Pergunta clínica: No tratamento da enxaqueca aguda, os medicamentos não sujeitos a receita médica (MNSRM) têm uma eficácia similar do que aqueles sujeitos a receita médica?
Desenho: Revisão baseada na evidência, realizada por colaboradores do Alberta College of Family Physicians.
Resultados: Foram encontradas 4 revisões sistemáticas. Relativamente a cada opção terapêutica, estimaram-se os números necessários para tratar (NNT) para o alívio da dor às 2h e para a resolução completa da dor às 2h. Os NNT respectivos para o paracetamol 1 gr (n=2942) foram 5 e 12, para o ácido acetilsalicílico 1 gr (n=4222) 5 e 9, para o ibuprofeno 400 mg (n= 2575) 4 e 8, para o sumatriptano 50 mg (n= 6447) 4 e 7, e para o sumatriptano 100 mg (n= 6571) 4 e 5. Um ensaio clinico aleatorizado e controlado (ECAC) realizado em 1555 doentes comparou a eficácia no alívio da dor às 2 h da associação de fármacos constituída por paracetamol 500mg + ácido acetilsalicílico 500mg + cafeína 130mg (PAC) com o ibuprofeno 400mg, tendo concluído que o PAC foi superior no alívio da dor (p<0.03). Um outro ECAC comparou a eficácia da associação PAC com o sumatriptano 50 mg numa amostra de 171 doentes, tendo concluído que o PAC era mais eficaz na redução da intensidade da dor e no seu alivio ao fim de 2h. Ambos os ECAC não revelaram o número real de doentes nos quais a dor resolveu ou foi aliviada. Por outro lado, um ECAC ainda não publicado, comparou a eficácia do sumatriptano 100 mg com a associação PAC em 752 doentes, tendo o primeiro sido mais eficaz na resolução da dor às 2 h (NNT=10).
Comentário: Estes dados sustentam a evidência de que os analgésicos “tradicionais”, muitos MNSRM, podem ser tão eficazes como os fármacos destinados exclusivamente para o tratamento da enxaqueca aguda (essencialmente os triptanos). Na associação estudada, a PAC, as dosagens de paracetamol e ácido acetilsalicílico foram metade daquelas usadas habitualmente na toma isolada de cada fármaco. Em Portugal, essa associação é comercializada por um único laboratório, existindo outras formulações dos seus componentes como de cafeína + paracetamol e de cafeína + ácido acetilsalicílico, além da forma isolada. Na melhor escolha para cada doente, além da eficácia há que pesar igualmente os potenciais efeitos laterais, danos e custos associados.