Clorotalidona ou hidroclorotiazida na hipertensão do idoso?

Por Ana Mafalda Macedo, UCSP Carvalhido

 

Pergunta clínica: Será a clorotalidona mais segura ou eficaz que a hidroclorotiazida em idosos com hipertensão arterial?

Desenho do estudo: Estudo coorte retrospectivo. Utilizando uma base de dados administrativa investigadores canadianos incluíram todos os doentes com idade superior ou igual a 66 anos que haviam iniciado tratamento com clorotalidona ou hidroclorotiazida e que não tivessem tido hospitalizações por insuficiência cardíaca, enfarte agudo do miocárdio ou acidente cerebro-vascular no último ano. Tratando-se de uma análise retrospectiva, foi-lhes possível emparelhar cada indivíduo medicado com clorotalidona com dois indivíduos medicados com hidroclorotiazida, tendo por base a idade, o sexo, o ano de início do tratamento e um “score de propensão” utilizado para ajustar para outros factores que pudessem sinalizar risco adicional. O outcome primário tratou-se de um indicador composto de taxa de mortalidade e de taxa de hospitalização por insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral ou enfarte agudo do miocárdio. Os outcomes de segurança incluíram a taxa de hospitalização por hipocaliémia ou hiponatrémia.

Resultados: Foram estudados 29873 doentes, num período de tempo até 5 anos. Durante o seguimento, os utilizadores de clorotalidona (n=10384) alcançaram o outcome primário numa taxa de 3.2 eventos por 100 pessoas/ano, de forma semelhante à taxa de 3.4 eventos por 100 pessoas/ano nos doentes medicados com hidroclorotiazida (hazard ratio [HR]: 0.93 [0,81 a 1.06, IC a 95%]). No entanto, os doentes tratados com clorotalidona apresentaram maior probabilidade de serem hospitalizados por hipocaliémia (HR ajustado: 3,06 [2.04 a 4.58, IC a 95%]) ou hiponatrémia (HR ajustado: 1.68 [1.24 a 2.28, IC a 95%]). Quando comparados em doses equivalentes (ex. clorotalidona 12.5mg vs. hidroclorotiazida 25mg), estes efeitos adversos ocorreram com frequência semelhante, apesar de apresentarem diferenças quando as mesmas doses de cada fármaco foram comparados. Os resultados de outros outcomes de eficácia e de segurança avaliados foram consistentes com os dos outcomes principais.

Conclusão: Nesta análise retrospectiva, a clorotalidona e a hidroclorotiazida revelaram os mesmos resultados clínicos em indivíduos idosos. De uma maneira geral, a clorotalidona pareceu associar-se a uma maior taxa de hospitalizações por hipocaliémia e hiponatrémia. No entanto, quando comparadas em doses equivalentes, as taxas destes efeitos adversos foram semelhantes.

Comentário: Estes resultados poderão apresentar algum enviesamento, atendendo à natureza deste tipo de estudo. Apesar do emparelhamento cuidado, com recurso à aplicação de um “score de propensão”, as duas coortes apresentavam diferenças relativamente a outros tratamentos efectuados para a hipertensão, situação que ocorrerá menos frequentemente em estudos aleatorizados de maiores dimensões. Em todo caso, e havendo indicação para ser prescrita, nunca é de mais relembrar que a clorotalidona é 1,5 a 2 vezes mais potente que a hidroclorotiazida, com uma duração de acção mais prolongada. A dose inicial deverá ser de 12,5 mg/dia.

Artigo original

 

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