COVID-19 e grávidas: menos sintomas, maior necessidade de tratamento intensivo

 

 

Pergunta clínica: Nas grávidas infetadas por SARS-CoV2, o risco de desenvolver doença é maior do que nas mulheres não grávidas? E em caso de doença, qual o risco de complicações?

Desenho do estudo: Revisão sistemática e meta-análise em actualização cíclica (rondas de actualização semanal, com análise se a nova evidência o justificar). As actualizações são divulgadas mensalmente através de um website (COVID-19: a living systematic map of the evidence). Protocolo registado prospectivamente na plataforma PROSPERO e de acordo com guidelines PRISMA. Pesquisa de estudos relevantes sobre COVID-19 em grávidas, nas bases de dados Medline, Embase, Cochrane database, WHO (World Health Organization) COVID-19 database, China National Knowledge Infrastructure (CNKI) e Wanfang, entre 1 de Dezembro de 2019 e 26 de junho de 2020. Dois revisores procederam à selecção de estudos, extracção de dados e avaliação do risco de viés de modo independente. Para avaliação do risco de viés foi utilizada a Newcastle Ottawa scale. Foram seleccionados estudos de coorte que indicassem manifestações clínicas, taxas, factores de risco e outcomes maternos e perinatais da COVID-19 em grávidas ou mulheres que tivessem estado grávidas recentemente. As grávidas foram consideradas como tendo COVID-19 se o resultado laboratorial (PCR) o confirmasse, independentemente de terem ou não sinais ou sintomas.

Resultados: Foram incluídos 77 estudos, com um total de 13,118 participantes grávidas com COVID-19 e 83,486 mulheres em idade reprodutiva com COVID-19. 96% dos estudos foram avaliados com baixo risco de viés em relação à validade interna, mas apenas 10 tiveram avaliação de baixo risco de viés relativamente à validade externa. A taxa de COVID-19 em grávidas foi de 10% (intervalo de confiança (IC) 95% 7-14%). As manifestações clínicas mais frequentes em grávidas foram: febre (40%) e tosse (39%). As grávidas demonstraram menor probabilidade de referir sintomas como febre e mialgia relativamente às mulheres em idade fértil, mas apresentaram maior risco de admissão em unidades de cuidados intensivos (UCI) (odds ratio (OR) 1.62, IC 95% 1.33 a 1.96; I2=0%) e de necessitar de ventilação mecânica (OR 1.88, IC 95% 1.36 a 2.60; I2=0%; 4 estudos, 91 606 mulheres). A presença de comorbilidades associou-se a maior risco de necessitar de UCI ou ventilação mecânica. A probabilidade de parto pré-termo (PPT) foi superior em grávidas COVID-19 (OR 3.01, IC 95% 1.16 to 7.85; I2=1%; 2 estudos, 339 mulheres). A necessidade de internamento foi superior em recém-nascidos (RN) de mães COVID-19  (OR 3.13, IC 95% 2.05 to 4.78, I2 não estimável; 1 estudo, 1121 RN).

Comentário: Com base na evidência disponível, as grávidas infetadas com SARS-CoV-2  poderão ter menor probabilidade de desenvolver doença sintomática do que a população em geral. Contudo, quando desenvolvem COVID-19 terão um risco superior de admissão em UCI e de necessidade de ventilação mecânica. As grávidas com COVID-19 têm maior probabilidade de parto pré-termo e os seus RN de serem internados. Os resultados desta revisão sistemática e meta-análise estão em permanente actualização e devem ser interpretados com a ressalva de que os resultados não se podem, para já, generalizar, tendo sido encontrada elevada heterogeneidade para algumas das comparações.

Artigo original: BMJ

 Por Sofia Baptista  

 

 

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