Doença cardíaca reumática de 1990 a 2015: mortalidade e morbilidade




Pergunta clínica: Qual a evolução mundial da prevalência e mortalidade por doença cardíaca reumática nos últimos 25 anos?

Enquadramento: A doença cardíaca reumática é uma sequela da febre reumática, patologia esta relacionada com baixo nível sócio económico, condições de higiene e sanitárias precárias e, consequentemente, saúde deficitária. Nos países desenvolvidos, com a introdução de políticas governamentais de prevenção da doença, normas emitidas pela Organização Mundial de Saúde e o uso alargado da penicilina, este problema tornou-se praticamente erradicado. No entanto, nos países em desenvolvimento a doença cardíaca reumática continua a ser uma causa importante de mortalidade e morbilidade. Integrado no estudo “Global Burden of Disease Study 2015” surgiu a necessidade de estudar a evolução da doença e suas consequências desde 1990.

Desenho do estudo: Revisão sistemática dos dados registados em 132 países de 1990 a 2015. Foram revistos estudos de prevalência locais, relativos a doença cardíaca reumática e estimativa da sua prevalência, morbilidade e mortalidade em várias regiões. Os dados foram analisados através de duas ferramentas que permitiram fazer a estimativa da prevalência e mortalidade.

Resultados: O impacto da doença reumática cardíaca na população teve um decréscimo mundial, no entanto, esta doença persiste com taxas elevadas nas regiões mais pobres do mundo. A mortalidade global estandardizada pela idade devido a doença cardíaca reumática diminuiu de 9,2/100.000 habitantes em 1990 para 4,8/100.000 habitantes em 2015, o que se refletiu numa descida de 47,8% na mortalidade por esta causa. A maioria das mortes ocorreu no continente asiático. A prevalência estandardizada para a idade em 2015 foi de 444 casos em 100.000 habitantes nos países com padrão endémico e de 3,4 casos em 100.000 habitantes para países não endémicos, sendo os países mais afetados a Índia, China e Paquistão. Relativamente à morbilidade, nomeadamente insuficiência cardíaca de ligeira a grave, houve um aumento de 88% de 1990 a 2015.

Comentário: Apesar da prevalência de febre reumática e morbilidade associada ser baixa em Portugal, impõe-se refletirmos sobre esta patologia e de que forma se distribui no mundo. Somos país de acolhimento de cidadãos de outras pátrias, nomeadamente do continente africano, onde esta patologia tem áreas endémicas. A prevenção da doença cardíaca reumática passa pelo tratamento da amigdalite estreptocócica, sendo que a prevenção terciária da doença já instalada cursa com a monitorização da função cardíaca e o controlo dos fatores de risco cardiovasculares.

Artigo original: N Engl J Med

Por Marta Guedes, USF Entre Margens  




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