Democracia e ciência

 

 

O tema desta crónica andava a burilar na minha mente há algumas semanas. Mas com o avanço da barbárie da guerra tornou-se urgente partilhar com o leitor esta breve reflexão.
Comecemos por esclarecer que a história da ciência é complexa e que os caminhos de alguns cientistas cruzaram-se com momentos negros da nossa memória colectiva.
Não obstante, a verdadeira ciência precisa duma sociedade aberta para florescer.
O método científico necessita de liberdade para verificar a veracidade das hipóteses colocadas. Os cientistas têm um pensamento céptico que, de forma estruturada, tenta detectar erros, por exemplo, replicando experiências.
Para os investigadores não existem, portanto, dogmas ou personalidades acima de críticas.
Não é por acaso que quando os tiranos chegam ao poder atacam primeiro os intelectuais, artistas e cientistas. O pensamento livre nunca é tolerado pelas ditaduras.

 

O método científico necessita de liberdade para verificar a veracidade das hipóteses colocadas. Os cientistas têm um pensamento céptico que, de forma estruturada, tenta detectar erros, por exemplo, replicando experiências.

 

Mas será a democracia um garante absoluto duma comunidade racional? Infelizmente a pandemia destapou as nossas fragilidades. Nalguns países ocidentais algumas decisões foram baseadas no pensamento mágico com consequências trágicas.
Existem, portanto, poderosos adversários da ciência e estes estão bem descritos pela dupla Carlos Fiolhais e David Marçal no livro “A Ciência e os seus inimigos”. O primeiro capítulo da obra aborda, precisamente, os ditadores, com destaque para Adolf Hitler e Josef Estaline. A obsessão hitleriana com a “raça pura” deu origem a hediondas experiências nos campos de concentração. Na União Soviética o agrónomo Lysenko esteve na origem dum desvio pseudocientífico que negava a biologia da hereditariedade descrita inicialmente pelo monge agostiniano checo Gregor Mendel (1822-1884).

 

O pensamento livre nunca é tolerado pelas ditaduras.

 

Mas os autores exploram também outros famosos “inimigos”, tais como os vendilhões, passando pelos exploradores do medo, até aos obscurantistas.
Neste tempo de relativismo em que a verdade parece não existir é muito importante estar vigilante e este livro ajuda nesse exercício.
A ciência precisa da liberdade democrática e, por sua vez, a democracia necessita da razão da ciência para a prosperidade e bem estar.
Cidadãos informados são cidadãos mais livres.

 

Por Luís Monteiro

 

 

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