Dr. Diogo Pereira @ Roma


Quando participaste no Programa Hippokrates da APMGF?

De 2 a 13 de Dezembro de 2013.

 

Quanto tempo estiveste no estágio? O que te levou a optar por ir para Itália? Em que cidade estiveste?

A duração de um estágio do Programa Hippokrates é geralmente de 2 semanas, embora, por vezes, há quem opte por fazer um estágio mais curto, de apenas 1 semana. Como era a primeira vez que estava a participar num estágio no estrangeiro, no âmbito dos cuidados de saúde primários (CSP), em que a curiosidade, à partida, era imensa optei por ficar as 2 semanas. Sem dúvida, foi o tempo ideal.

O Programa Hippokrates, inserido no Movimento Vaco da Gama, nasce da necessidade dos médicos em formação, completarem a sua prática diária com a exploração novos caminhos, tal como fez Vaco da Gama, há 5 séculos atrás, quando iniciou a era da Globalização. Assim, este estágio permite-nos ter uma perspetiva mais ampla, e isso, de certa forma, acaba por ser independente do local escolhido para o realizar. É pois um período em que, além de conhecermos um novo Sistema de Saúde, melhoramos o conhecimento que temos sobre o nosso próprio SNS, e também estamos mais abertos para refletir sobre os processos de organização e gestão dos cuidados de saúde. A escolha por Itália (Roma) prendeu-se com o facto de ser um dos locais com disponibilidade para me receber, por ter alguns conhecimentos básicos de italiano, pela admiração que tenho pela cultura e pelo país, além da possibilidade de poder saber como é trabalhar numa capital europeia

 

O que te surpreendeu mais no estágio?

Antes de partir, sabia que havia algumas diferenças, embora nunca tenha pensado que essas diferenças, tanto nas competências do Médico de Família (MF) como na própria organização dos cuidados, fossem tão acentuadas.

Uma das diferenças mais notórias é que os MF Italianos trabalham de forma mais isolada, não existindo o trabalho em grupo que temos nas nossas unidades. Além disso, cabe aos MF serem responsáveis por gerir o consultório médico com o ordenado que recebem do estado (são eles que pagam aos administrativos, o aluguer do espaço, o sistema informático, o material, as contas…). A ausência de enfermeiros nos CSP também me surpreendeu, sendo esta lacuna justificada pela menor necessidade e pela questão de ser mais um custo no orçamento que o médico tem para gerir.

Outro aspeto que me surpreendeu foi a menor abrangência de cuidados realizada pelos MF. Estes não fazem consulta a crianças com menos de 12 anos e não fazem a vigilância em Saúde da Mulher (gravidez e planeamento familiar).

 


O sistema de saúde italiano pode ser um modelo para Portugal? Porquê?

Uma das virtudes que tive com a realização deste estágio e com experiências trocadas com outros colegas foi a de entender que as palavras, tantas vezes escritas e ditas, de orgulho no nosso SNS afinal não são ocas, nem são de patriotismo exagerado. A criação do nosso modelo de SNS foi um marco importante para a melhoria dos nossos indicadores de saúde. Além disso, a reforma dos CSP iniciada em 2005 tem sido relevante para a satisfação tando dos profissionais como da população, devendo ser sempre salvaguardada, no entanto, a importância da pessoa sobre os indicadores. Ainda, com a criação e afirmação da nossa especialidade, estão a formar-se novos MF, que também irão contribuir para colocar os nossos cuidados de saúde primários noutro patamar. Perante isto, penso que não precisamos de importar o modelo italiano, mas sim, apenas limar alguns aspetos menos positivos do nosso Sistema de Saúde.

Entre alguns pormenores do modelo visitado, destaco apenas a desmaterialização das incapacidades temporárias, em que o empregador tem também acesso a um sistema central, eliminando papéis neste processo.

 

Quais os conselhos práticos que pode dar a um colega português que queira estagiar em Itália?

Em primeiro, que não hesite, pois a realização de um estágio no estrangeiro é uma experiência extremamente enriquecedora no campo profissional e pessoal, onde as competências técnicas são desenvolvidas ou reforçadas ao mesmo tempo que se conhece uma sociedade diferente, fazendo-se no processo novas amizades.

Por outro lado, a língua e o clima não são certamente uma barreira e as pessoas são bastante hospitaleiras e simpáticas.

Se houver interesse por um esquema de trabalho mais semelhante ao nosso, embora raro em Itália, existem algumas clínicas que funcionam em equipas de trabalho, como a do estúdio médico de Scandiano.

Entrevista conduzida por Luís Monteiro

Médicos portugueses pelo mundo
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