DPOC: a importância da espirometria




Pergunta clínica: Na avaliação da doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) existe concordância entre a avaliação clínica, a percepção do doente e o resultado da espirometria?

Enquadramento: Para classificar a DPOC num dos quatro grupos de gravidade (A, B, C ou D) é necessário ter em conta o histórico de exacerbações, a avaliação dos sintomas e a gravidade da obstrução brônquica determinada por espirometria. Na população portuguesa com mais de 45 anos a DPOC tem uma prevalência estimada de 14,2%. Actualmente assistimos nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) a uma crescente sensibilização para esta patologia.

Desenho do estudo: Estudo multicêntrico, observacional e transversal realizado em 83 centros de CSP nos EUA. Foram selecionados, aleatoriamente, 899 doentes com DPOC. Antes da realização da espirometria (a maioria no consultório), o médico e o doente classificaram a severidade da DPOC numa escala que variava de 1 (sintomas ausentes a ligeiros/ impacto leve no quotidiano) a 5 (sintomas severos/grande impacto no quotidiano). Foi registada a classificação da doença e o plano terapêutico do médico após a espirometria.

Resultados: Avaliação clínica do médico versus avaliação do doente: em 42% dos casos o médico subestimou e em 18% dos casos o médico sobrestimou a gravidade da doença. Avaliação clínica do médico versus o resultado da avaliação espirométrica: em 41% dos casos o médico subestimou e em 29% dos casos o médico sobrestimou a gravidade da doença. Após a revisão dos resultados espirométricos, o médico decidiu alterar a classificação da severidade da doença em 55% dos doentes (maioritariamente para níveis superiores) e reformular a proposta terapêutica em 37% dos casos (essencialmente aumento de dose ou associação de outro fármaco). Em 25 % dos casos não foi possível obter uma espirometria considerada válida.

Comentário: Verificou-se uma correlação fraca entre a avaliação clínica do médico e a avaliação do doente ou dos resultados da espirometria. A discrepância mais frequente foi a subestimação tanto do grau de obstrução quanto do impacto da doença na vida dos doentes. Ficou ainda comprovado o impacto da espirometria na avaliação e decisão terapêutica. Em Portugal, a maioria das unidades funcionais (UCSP/USF) não têm o equipamento necessário para estudo espirométrico. Nas unidades em que este existe há dificuldade em encontrar espaço na agenda para a realização e interpretação dos exames e manutenção do equipamento. Possíveis soluções poderão passar pelo estabelecimento de protocolos entre os CSP e CSS, para a realização deste exame em contexto hospitalar, a sua disponibilização disseminada em regime de convencionado ou ainda a disponibilização pelo ACeS de um técnico de cardiopneumologia que desse apoio às diversas unidades de saúde da respectiva área. 

Artigo original:Am J Med

Por Sandra Amaral, USF S. Julião 




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