Suplementação de ferro durante a gravidez: que evidência?

Por Joana L. Gonçalves, USF São Julião

 

Pergunta Clínica: Haverá associação, em mulheres grávidas, entre a anemia, a suplementação de ferro durante a gravidez e o risco de baixo peso ao nascer ou de parto pré-termo?

 

Enquadramento: O défice de ferro é o défice nutricional mais prevalente em todo o mundo e é a causa mais frequente de anemia na grávida.

 

Desenho do estudo: Foi realizada uma revisão sistemática e meta-análise, publicada no BMJ, de vários estudos aleatorizados (48 estudos, 17 793 mulheres) e de coorte (44 estudos, 1 851 682 mulheres). Foram excluídos estudos de caso-controlo e estudos transversais.

 

Resultados: A suplementação com ferro durante a gravidez reduz significativamente a incidência de anemia materna e o risco de baixo peso ao nascimento. Ficou demonstrada uma relação dose-resposta para cada aumento da dose de ferro em 10 mg/dia até 66 mg/dia (OMS recomenda suplementação com 60 mg/dia). Não ficou demonstrada qualquer relação entre a suplementação pré-natal com ferro e a redução do risco de parto pré-termo.

 

Comentário: A suplementação de ferro durante a gravidez poderá ser uma estratégia para melhorar o estado hematológico materno e prevenir o baixo peso ao nascimento. A anemia pré-natal e a deficiência de ferro são fatores de risco controláveis, responsáveis por uma elevada carga de doença em termos de morbilidade e mortalidade maternas e do feto, principalmente nos países em desenvolvimento. O médico de família está numa posição privilegiada para garantir a implementação desta medida e fazer o seguimento adequado da gravidez. Nos países em desenvolvimento, onde a maioria das gravidezes decorrem sem qualquer seguimento médico, poderão explorar-se outras alternativas para fornecimento de ferro à população, nomeadamente através da dieta.

Além do ferro, também a ingestão de iodo é essencial durante a gravidez – tem um papel fundamental na síntese de hormonas tiroideias da mãe que são necessárias à maturação do SNC do feto. Os dados actuais apontam para o facto de existir uma deficiência de iodo em populações de risco em Portugal, nomeadamente grávidas e lactantes. Assim, a Direcção Geral de Saúde (DGS) emitiu a Norma de Orientação Clínica nº 011/2013 (de 26/08/2013) que recomenda que as mulheres em preconceção, grávidas ou a amamentar devem fazer suplementação diária com iodeto de potássio, na dose de 150 a 200 µg/dia (a dose diária recomendada de iodo é de 250 µg/dia para grávidas e mulheres a amamentar e de 150 µg/dia para as mulheres em preconceção). Estes valores são atingidos através, além da suplementação, da ingestão de alimentos ricos em iodo (peixe, leguminosas, produtos hortícolas, algas, leite e seus derivados) já que o défice grave de iodo é resultante de insuficiente ingestão na dieta. Uma outra estratégia será a iodização universal do sal, que poderá eliminar a necessidade de suplementação específica com iodo durante a gravidez e lactação.

Artigo original

Prescrição Racional
Menu