FRAX calibrado para a população portuguesa

Por Ana Mafalda Macedo, UCSP Carvalhido 

 

Enquadramento: O objetivo deste trabalho foi descrever a epidemiologia da fratura osteoporótica da anca em Portugal e a sua aplicação no desenvolvimento de uma versão Portuguesa da ferramenta elaborada pela Organização Mundial de Saúde para o cálculo do risco de fratura (FRAX®).

Desenho do estudo: Todos os casos de fratura da anca ocorridos aos 40 ou mais anos foram extraídos da base nacional de dados de altas hospitalares no período compreendido entre 2006 e 2010. A taxa de mortalidade e estimativas populacionais foram obtidas através do Instituto Português de Estatística. As incidências foram calculadas para cada género e ano, em intervalos de cinco anos. Dados sobre outras fraturas major foram imputadas a partir da epidemiologia da Suécia, à semelhança da maioria dos modelos FRAX ® já disponíveis.

Resultados: A incidência de fraturas da anca é superior nas mulheres, aumentando com a idade. A menor incidência foi observada na faixa etária dos 40-44 anos (14,1 e 4,0 por 100.000 habitantes para homens e mulheres, respetivamente). A maior incidência foi observada entre os 95-100 anos (2.577,6 e 3.551,8/100.000 para homens e mulheres, respetivamente). A probabilidade de fratura osteoporótica major ou fratura da anca a 10 anos aumenta com a diminuição do T-score e com o aumento da idade.

Conclusão: Portugal tem uma das menores incidências de fraturas entre os países europeus. A ferramenta FRAX® foi calibrada com sucesso para a população Portuguesa, e pode agora ser utilizada para estimar a probabilidade a 10 anos de fractura no nosso país. Todas as entidades com interesse na osteoporose aprovaram a metodologia utilizada no modelo Português do FRAX® e foram co-autores neste artigo.

Comentário: Segundo a Norma da DGS nº 027/2011 de 29/09/2011 (“Tratamento Farmacológico da Osteoporose Pós-menopáusica”), todos os indivíduos com elevado risco de fratura devem ser identificados para introdução de terapêutica com vista à redução da incidência de fraturas de fragilidade. A DGS recomenda o recurso à ferramenta FRAX®, que atualmente já se encontra calibrada pelos dados epidemiológicos portugueses (disponível através do link: http://www.shef.ac.uk/FRAX/tool.jsp?lang=pt). Trata-se de um significativo avanço na abordagem da osteoporose que permite uma estimativa multi-dimensional da probabilidade a 10 anos da ocorrência de fratura osteoporótica e, desta forma, uma abordagem individualizada à intervenção farmacológica em indivíduos de alto risco.

Vantagens da ferramenta FRAX®:

– modelo baseado em extensa informação obtida de múltiplas coortes, encontrando-se já validado em vários países;

-adapta-se a cada população ao incorporar a epidemiologia local;

-fácil de utilizar e aplicável tanto a homens (acima dos 50 anos), como a mulheres pós-menopáusicas

– auxilia a comunicação entre médico e doente, ao facilitar a ponderação dos riscos e benefícios do início da terapêutica.

Limitações dos modelos FRAX®:

-poderão necessitar de atualizações regulares (por forma a incluírem eventuais mudanças na epidemiologia e estrutura populacional);

– não inclusão de vários factores de risco clínicos importantes para a ocorrência de fraturas (ex. história de quedas, número e gravidade de fraturas prévias)

– em Portugal não se encontra validado para as minorias étnicas que habitam no pais.

Assim, são necessários estudos adicionais que permitam avaliar a validade deste modelo na nossa população e que proponham os ajustes necessários para acomodar o impacto de fatores de risco específicos adicionais. Será também necessário estudar, a nível nacional, o custo-efetividade de possíveis estratégias de prevenção e intervenção baseadas na aplicação do FRAX®.

Artigo original

 

A não perder
Menu