HTA por hiperaldosteronismo primário: quando suspeitar e como tratar



Pergunta clínica: Quando suspeitar, como diagnosticar e como tratar a HTA por Hiperaldosteronismo Primário?

Enquadramento: As causas mais comuns de HTA endócrina são o feocromocitoma, a síndrome de Cushing e o Hiperaldosteronismo Primário que tem uma prevalência de 5 a 10%. Doentes com Hiperaldosteronismo Primário têm maior morbilidade e mortalidade do que doentes do mesmo sexo e idade, para o mesmo grau de elevação da pressão arterial.

Recomendações: Linhas de orientação clínica desenvolvidas com a colaboração de múltiplas sociedades científicas e após revisão sistemática da evidência. Os autores recomendam o estudo de Hiperaldosteronismo Primário em doentes que apresentem qualquer uma das seguintes condições: PA > 140/90mmHg, refratária a três anti-hipertensores HTA e hipocaliémia; HTA e incidentaloma da supra-renal; HTA e apneia do sono;  HTA e história familiar de hipertensão com início em idade jovem; Familiares de 1º grau com antecedentes de HTA. A prevalência de Hiperaldosteronismo Primário nestes casos varia de 2 a 34%.

Abordagem diagnóstica: O estudo inicial inclui o cálculo da relação aldosterona-renina plasmática, obtido pelo menos 2 horas após o despertar e em repouso, após o doente permanecer sentado durante 10 minutos. Antes desta análise devem ser suspensos todos os agentes que possam interferir com o eixo renina-aldosterona, durante um período de pelo menos 4 semanas (espironolactona, esplerona, amiloride, triantereno, IECA/ARAs, e derivados de raiz de alcaçuz). Doentes com hipocaliémia, que apresentem um valor de renina plasmática indetetável e concentração de aldosterona plasmática superior a 20 ng/gL (550 pmol/L) não necessitam de um teste confirmatório, assumindo-se o diagnóstico de Hiperaldosteronismo Primário. Nos outros casos deve ser realizado um teste confirmatório como a prova de infusão salina, prova do captopril ou sobrecarga oral de sódio. Todos os doentes devem realizar ainda TAC da supra-renal para avaliar a presença de adenoma ou carcinoma da SR.

Tratamento: O tratamento recomendado para os subtipos de Hiperaldosteronismo Primário unilateral é a adrenalectomia laparoscópica, com a resolução da HTA em cerca de 30 a 60% dos casos. Nos subtipos bilaterais de Hiperaldosteronismo Primário e em casos em que a cirurgia é contra-indicada ou recusada, a opção de eleição é o tratamento médico com espironolactona ou esplerenona.

Comentário: Em doentes de alto-risco, com HTA de difícil controlo, início precoce, lesão da supra-renal e/ou hipocaliémia concomitante deve ser considerado o diagnóstico de Hiperaldosteronismo Primário. A investigação laboratorial base Hiperaldosteronismo Primário é simples e deve ser iniciada a nível dos Cuidados de Saúde Primários, não esquecendo os múltiplos fatores (principalmente fármacos) que podem interferir nos resultados do estudo analítico. Uma vez que as complicações associadas ao Hiperaldosteronismo Primário acarretam uma taxa de morbilidade e mortalidade cumulativa maior do que aquela que seria de esperar para o mesmo grau de HTA, é fundamental a identificação dos indivíduos a rastrear e a referenciação atempada para os Cuidados de Saúde Secundários como por exemplo para o Serviço de Endocrinologia.

Artigo original: J Clin Endocrinol Metab

Por Inês Pintalhão, USF Garcia de Orta 




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