
Há quanto tempo estás na Austrália?
Iniciei funções na Austrália em Agosto de 2015, como Postdoctoral Research Fellow na Macquarie University, em Sidney.
O que te levou a optar por emigrar?
A paixão por viajar e conhecer novos lugares e pessoas. A necessidade constante de expandir a minha zona de conforto e enfrentar novos desafios. A vontade de explorar uma carreira académica onde tivesse melhores condições para o fazer. A desmotivação com a má gestão no SNS, sobretudo ao nivel das chefias, onde o desrespeito pelos profissionais de saúde e, sobretudo, pelos doentes, atingiu proporções intoleráveis.
A proposta para trabalhar no Australian Institute of Health Innovation – Centre for Health Informatics tornou-se irrecusável porque me permitia prosseguir a carreira académica na área em que realizei o meu doutoramento, além de me oferecer todas as condições para poder equilibrar a minha vida pessoal e profissional da melhor forma possível.
Claro que não foi uma decisão fácil, particularmente porque a Austrália fica do outro lado do mundo! As saudades da família e amigos custam muito e apenas são parcialmente aliviadas pelo Skype e Facebook.
O que te surpreendeu mais no primeiro contacto com a cultura académica australiana?
A multiculturalidade, que adoro, e a abertura e simplicidade das pessoas, que permite que a comunicação seja fácil, sem o constrangimento de formalidades ou hierarquias. Penso que isto é uma grande vantagem, sobretudo no meio científico, porque permite que o conhecimento avance e se transmita de forma mais célere, sem barreiras desnecessárias.
Outro aspeto passa pelas oportunidades de financiamento para projectos de investigação clínica, que é muito superior ao existente em Portugal. Finalmente, a flexibilidade de horário no meio académico é muito grande e, além disso, as oportunidades existentes para médicos seguirem paralelamente a carreira académica são muitas (virtualmente qualquer combinação de tempo entre as duas atividades é possível, sendo muito comum ver médicos a realizar prática clínica 1, 2, ou 3 dias da semana e o restante em investigação).
O sistema de saúde australiano pode ser um modelo para Portugal? Porquê? Sinceramente, sinto que ainda não conheço o sistema de saúde australiano suficientemente bem para poder fazer uma comparação justa. Daquilo que me apercebi até agora, uma das maiores vantagens do ponto de vista do médico de família tem a ver com a flexibilidade da prática clínica, que permite a conjugação fácil com outras atividades de valorização pessoal ou profissional. Do ponto de vista do utente, penso que existem bastante iniciativas “patient-centred”, com vários protocolos em prática para a promoção da partilha de decisões de saúde (“shared decision-making”). Como pontos negativos, o sistema ‘fee-for-service’ utilizado na Austrália poderá ser uma causa de sobremedicalização, com todas as suas consequências nefastas.
Quais os conselhos práticos que podes dar a um colega português que queira emigrar para a Austrália?
O reconhecimento da licenciatura portuguesa em Medicina, bem como da especialidade feita em Portugal, não é automático na Austrália: é um processo lento, trabalhoso, e caro. Mas não é impossível. Há alguns sites que ajudam a explicar o processo:
– http://doctorconnect.gov.au/internet/otd/publishing.nsf/Content/skillsRecognition
– http://www.racgp.org.au/becomingagp/imgaus/specialist-pathway/
Uma maneira muito mais fácil de emigrar para a Austrália é conseguindo uma posição académica (e posteriormente iniciar o processo para poder exercer medicina aqui, se for esse o objetivo).
Recentemente criei o grupo no Facebook “Médicos Portugueses na Austrália”, para que os colegas que aqui estejam a trabalhar e os que pensem emigrar num futuro próximo possam trocar ideias e dicas sobre todo o processo. Este grupo poderá, em breve, ser um canal útil para partilha de informações sobre a emigração de médicos para a Austrália.