Maioria das lesões CIN2 regridem espontaneamente na mulher jovem

 

 

Pergunta clínica: Em mulheres entre os 25 e os 30 anos, com neoplasia cervical intraepitelial de grau 2, a vigilância activa pode ser uma alternativa ao tratamento invasivo?

Desenho do estudo: Coorte prospectivo e multicêntrico, realizado na Suécia, com o objectivo de investigar o curso natural da neoplasia cervical intraepitelial de grau 2 (CIN2) em mulheres com idades compreendidas entre os 25 e os 30 anos (ao momento do diagnóstico). Foram incluídas mulheres que apresentassem diagnóstico histológico de CIN2, com junção escamocolunar visível (zona de transformação). Foram excluídas pacientes com imunossupressão, infecção por vírus da imunodeficiência adquirida (VIH), que se encontrassem a realizar tratamento de cancro, com tratamento prévio para CIN ou que estivessem grávidas no momento do diagnóstico. As mulheres foram seguidas durante 2 anos com colposcopia, citologia, teste do vírus do papiloma humano (HPV) e, pelo menos, 2 biópsias cervicais a cada 6 meses até ocorrer progressão ou regressão. O marcador (outcome) principal foi a taxa de regressão da CIN2 aos 6, 12, 18 e 24 meses nos casos positivos para HPV 16 e nos com HPV 16 negativo. O marcador secundário foi a persistência e progressão da CIN2.

Resultados: Foram inicialmente incluídas 137 mulheres, sendo que 10 não cumpriram o protocolo como planeado, pelo que a análise apresentada respeita a 127 pacientes. Destas, 21% tinham sido vacinadas para o HPV, metade das quais antes da coitarca. Em relação ao teste HPV, foi identificado tipo não 16/18 em 72 mulheres (56%), HPV 16 em 45 pacientes (35%) , HPV 18 em 4 (3%); o teste HPV foi negativo em 6 mulheres (5%). Durante o período de seguimento de 2 anos, a regressão foi total ou parcial em 72% das pacientes (IC 95%: 63-79%). A CIN2 regrediu total ou parcialmente em 68 das 82 (83%) sem HPV 16, mas apenas em 23 das 45 (51%) mulheres com HPV 16+, sendo esta diferença estatisticamente significativa (p=0.0001). Durante o seguimento, apenas numa paciente (com HPV 16+) ocorreu progressão para cancro do colo do útero estadio 1A1. Apenas uma paciente com HPV 16 tinha sido vacinada – e após a coitarca. A progressão e regressão foram evidentes, sobretudo, aos 12 meses.

Comentário: Na maioria das mulheres entre os 25 e os 30 anos com CIN2 e HPV que não 16, as lesões regridem, pelo menos parcialmente, em 2 anos, sem tratamento. Neste grupo, a vigilância activa poderá ser uma opção. Nas pacientes com HPV 16, apenas 51% obtiveram regressão total ou parcial da CIN2, pelo que nestas o tratamento (procedimento de excisão eletrocirúrgica com alça) será necessário. O HPV 16 parece, assim, ser um forte determinante do curso natural da doença. A principal limitação do estudo é inerente ao seu desenho observacional. Seria positivo dispormos de estudos com maior tempo de seguimento para melhor avaliar a estratégia de vigilância activa.

Artigo original: Am J Obstet Gynecol.

Por Sofia Baptista

 

 

 

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