O Sr. Padre, a Professora Primária e o Médico…


Longe vai o tempo em que os vendedores de carros garantiam confiança na venda de um veículo ao referir que o primeiro dono teria sido um Padre, uma Professora Primária ou um Médico.  

Nos dias de hoje, as capas de alguns “folhetins” remetem-nos diariamente para um clima de suspeição,  nada favorável à consolidação de uma relação médico-doente que se quer forte, empática, isenta e saudável. Uma maçã podre não significa que a fruteira está estragada, nem sequer que a macieira adoeceu, mas infelizmente todos os dias continua a “apodrecer” muita fruta em Portugal.

Posto isto, cabe-nos a nós, Médicos, lutar diariamente para que esta imagem mude, para que a confiança volte, o que só conseguiremos se cultivarmos uma relação diária de honestidade, confiança, acessibilidade organizada e disponibilidade total para com o Utente, o doente, a família e a comunidade. A tarefa não é fácil – os ficheiros são cada vez maiores, os indicadores cada vez mais exigentes, os salários cada vez mais baixos – mas é possível.

Transparência e capacitação – parecem-me ser estas as “palavras-chave” que, cada vez mais, devem ser usadas e praticadas por quem presta, coordena e gere os cuidados de saúde. Transparência e honestidade na forma como comunicamos com o Utente, transparência no acordo terapêutico que fazemos com o Utente, transparência na prescrição de fármacos e MCDT´s e transparência nos resultados (quer sejam ganhos ou perdas).  Capacitação e decisão conjunta com o Utente, acessibilidade a informação isenta e objectiva, responsabilizando o Utente no seu percurso pelos serviços de saúde.   

Alcançando uma base da pirâmide honesta e transparente, ganhando a confiança e o apoio do Utente, temos todas as garantias que, mais cedo ou mais tarde, esta transparência chegará ao topo. Depois dessa conquista, só num acto de manifesta má-fé ou injúria, os “folhetins” continuarão a fazer manchetes. Certamente nessa altura o vendedor de carros voltará a garantir confiança na venda do carro.

Por Bruno Moreno, Médico de Família



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