Recomendação USPSTF: prevenção do cancro de pele





Pergunta clínica: Qual a melhor estratégia de prevenção do cancro de pele em crianças, adolescentes e adultos?

Enquadramento: O cancro de pele é o mais prevalente nos Estados Unidos da América. Os carcinomas espinocelular e basocelular são os mais frequentes. Apesar do melanoma ser o menos frequente, é o responsável pela maioria das mortes associadas ao cancro de pele. A exposição a radiação ultravioleta durante a infância e adolescência aumenta o risco de cancro de pele na vida adulta, especialmente se existe história de queimaduras solares, pele clara, utilização de solários. Outros fatores de risco incluem: nevos atípicos, história familiar, infeção por VIH e transplantados.

Desenho do estudo: A United States Preventive Services Task Force (USPSTF) realizou uma revisão da literatura em que avaliou o efeito do aconselhamento da população sobre a proteção solar e consequentemente a diminuição de queimaduras solares e cancro de pele. Avaliou também os potenciais efeitos negativos do aconselhamento e ainda a realização do auto-exame da pele e os seus efeitos na incidência do cancro de pele.

Resultados: As intervenções comportamentais têm benefício moderado no aumento da proteção solar da criança, adolescentes e adultos jovens com pele clara. Em adultos com mais de 24 anos as intervenções educacionais mostraram uma ligeira melhoria de comportamentos de risco. A evidência disponível não é conclusiva em relação ao balanço entre os benefícios e os malefícios do aconselhamento do auto-exame da pele em adultos. O auto-exame da pele pode provocar ansiedade e sobrediagnóstico. A radiação ultravioleta do sol ou artificial é cancerígena. As recomendações para a proteção solar incluem utilização de protetor solar com fator superior a 15, aplicado a cada 2 horas e contra ultravioleta A e ultravioleta B; utilização de chapéu, óculos de sol ou vestuário com proteção solar, evitar exposição solar entre as 10 e as 16 horas e evitar a utilização de solário. Estudos demonstram que a exposição solar durante a infância está associada a um aumento do risco de melanoma, bem como a exposição a radiação ultravioleta artificial (solários). A utilização de solários antes dos 35 anos de idade, mais de 10 sessões ao longo da vida ou mais de um ano foram associadas ao aumento do risco de cancro. 

Conclusão: É recomendado o aconselhamento de jovens adultos, adolescentes, crianças e pais de crianças pequenas sobre a redução da exposição à radiação ultravioleta para pessoas com idade entre 6 meses e 24 anos com tipos de pele clara para reduzir o risco de cancro de pele (Recomendação B). Os médicos devem avaliar a presença de fatores de riscos para o cancro de pele e devem aconselhar os adultos com mais de 24 anos com pele clara a reduzir a exposição à radiação ultravioleta (Recomendação C). A evidência científica atual é insuficiente para avaliar o equilíbrio entre os benefícios e os malefícios do auto-exame da pele para prevenir o cancro de pele. Estas recomendações são aplicáveis a pessoas assintomáticas e sem história de cancro de pele. 

Comentário: A importância do aconselhamento e intervenções comportamentais na prevenção do cancro de pele devem ser parte integrante das consultas de vigilância de Medicina Geral e Familiar. A avaliação dos fatores de risco e o despertar dos efeitos nefastos deve ser feito oportunisticamente em consulta de forma a alterar comportamentos e intervir precocemente, especialmente nas crianças e adolescentes. Para alterar comportamentos será necessária uma intervenção multidisciplinar, com apoio de entidades governamentais, que envolva a sociedade, as escolas, polícias e profissionais de saúde que visem a mudança dos hábitos e minimizem a exposição à radiação ultravioleta.

Artigo original: JAMA

Por Filipa Coelho, USF Salvador Lordelo 



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