Rimegepant: novo tratamento para a enxaqueca


Pergunta clínica: Em adultos com enxaqueca, o rimegepant é um tratamento seguro e eficaz?

População: adultos com ≥1 ano de história de enxaqueca e 2-8 crises/mês de intensidade moderada a grave
Intervenção: rimegepant
Comparação: placebo
Outcome: eficácia no tratamento da enxaqueca

Enquadramento:
O recetor peptídico relacionado com o gene da calcitonina tem sido implicado na patogénese da enxaqueca. Rimegepant, um antagonista desse recetor, administrado por via oral, pode ser eficaz no tratamento da enxaqueca.

Desenho do estudo: estudo multicêntrico, duplamente cego, em fase 3, realizado de julho de 2017 a janeiro de 2018. Incluiu 1186 adultos de 49 centros nos Estados Unidos, com idade média de 41 anos (89% do sexo feminino, com um número médio de 4,6 enxaquecas/mês), com pelo menos 1 ano de história de enxaqueca, com ou sem aura, e 2 a 8 crises/mês, de intensidade moderada ou grave (Headache Classification Committee of the International Headache Society. The International Classification of Headache Disorders, 3rd edition), que receberam rimegepant 75 mg oral ou placebo para o tratamento de uma crise de enxaqueca. Outcome primário: alívio da dor e do sintoma mais incómodo identificado pelo doente (fonofobia, fotofobia ou náusea), ambos avaliados 2 horas após a administração de rimegepant ou placebo.

Resultados: Em pacientes com enxaqueca moderada ou grave frequente, para cada 13 pacientes tratados, o rimegepant foi eficaz num, com ausência de dor às 2 horas após administração (19,6% vs. 12,0%; P <0,001; NNT = 13). Um segundo desfecho primário de alívio do sintoma mais incómodo (fotofobia em mais de metade dos doentes) foi também mais provável com o tratamento ativo (37,6% vs. 25,2%; P <0,001; NNT = 8). Os resultados de alívio sustentado da dor em 24 horas e da necessidade de medicamentos de resgate foram melhores com o tratamento ativo. Os eventos adversos foram raros, sendo os mais reportados náusea e infeção do trato urinário.

Comentário: As principais limitações deste estudo são a ausência de um comparador ativo com o rimegepant, a avaliação do efeito do tratamento apenas num único episódio (que não permite avaliar a consistência dos efeitos do fármaco ao longo do tempo no mesmo doente) e, apesar de não haver evidência de efeitos adversos cardíacos, a população estudada não apresentava doença cardiovascular. Uma revisão da Cochrane relatou um número necessário para tratar (NNT) de 5 para o zolmitriptano (https://www.cochrane.org/CD008616). Esta nova classe de fármacos “gepants” não parece ser tão eficaz e terá um custo superior ao dos triptanos (agonistas dos receptores 5-HT1B e 5-HT1D da serotonina), que agora estão disponíveis na forma genérica. No entanto, poderá surgir como alternativa útil para doentes sem resposta ou com contraindicações aos triptanos, como doenças cardiovasculares, dado que não apresenta os mesmos efeitos vasoconstritores. Serão necessários outros ensaios para determinar a consistência da resposta e a segurança e eficácia do fármaco, em comparação com outras terapêuticas.

Artigo original: N Engl J Med

Por Gisela Santos, USF Nova Via



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