Pergunta clínica: Em adolescentes com obesidade, o semaglutido é eficaz para a perda de peso ?
População: adolescentes (12-17 anos) com obesidade
Intervenção: injeção
Comparação: placebo por injeção
Outcome (primário): proporção de alteração do IMC entre o início do estudo e as 68 semanas
Desenho do estudo: Ensaio clínico aleatorizado controlado por placebo, com dupla ocultação, de fase 3. Aleatorização em grupos paralelos, 2:1, para o grupo que recebeu uma injeção
Resultados: Foram aleatorizados um total de 201 participantes: 134 para o grupo que recebeu semaglutido e 67 para o grupo placebo. Os grupos apresentavam características semelhantes no início do estudo, tendo sido feita uma análise segundo a intenção de tratar. No grupo que recebeu semaglutido, a percentagem de alteração do IMC foi significativamente superior (-16.1% vs +0.6%; P< .001). Também no grupo do semaglutido significativamente mais participantes atingiram uma redução de peso de pelo menos 5% (73% vs 18%; NNT=2); de, pelo menos, 10% (62% vs 8%; NNT = 2); e de, pelo menos, 20% (37% vs 3%; NNT = 3). As queixas gastrointestinais foram mais frequentes no grupo semaglutido e 5 pacientes neste grupo tiveram colelitíase (um deles com colecistite), nenhum caso tendo sido registado no grupo placebo. A suspensão do tratamento devido a efeitos adversos foi semelhante em ambos os grupos.
Comentário: O semaglutido demonstrou, neste estudo, ser eficaz em adolescentes com obesidade, possibilitando uma perda de peso clinicamente significativa. Será necessário estudar se esta perda de peso se mantém – ou não – após a suspensão da terapêutica. O aumento de casos de colelitíase que ocorreu no grupo que recebeu semaglutido deve ser tido em conta, sendo que este é um efeito adverso já conhecido do fármaco. Não é, contudo, claro se o risco de colelitíase, também constatado num estudo com dulaglutido, se relaciona com a terapêutica ou antes com a rápida perda de peso. A decisão partilhada com o paciente e importância do aconselhamento sobre medidas de estilo de vida são fundamentais neste contexto.
Por Sofia Baptista