Semaglutido para tratamento da obesidade em adolescentes

 

 

Pergunta clínica: Em adolescentes com obesidade, o semaglutido é eficaz para a perda de peso ?

População:  adolescentes (12-17 anos) com obesidade
Intervenção:  injeção subcutânea semanal de 2.4 mg semaglutido durante 68 semanas + aconselhamento de estilo de vida
Comparação: placebo por injeção subcutânea semanal durante 68 semanas + aconselhamento de estilo de vida
Outcome (primário): proporção de alteração do IMC entre o início do estudo e as 68 semanas

Desenho do estudo: Ensaio clínico aleatorizado controlado por placebo, com dupla ocultação, de fase 3. Aleatorização em grupos paralelos, 2:1, para o grupo que recebeu uma injeção subcutânea semanal de 2.4 mg semaglutido durante 68 semanas ou para o grupo placebo; os participantes e famílias em ambos os grupos receberam concomitantemente aconselhamento de estilo de vida. A dose de semaglutido inicial foi de 0.25 mg, sendo titulada nas primeiras 16 semanas, de acordo com a tolerância e até à dose de 2.4 mg por semana. Foram incluídos adolescentes com idades compreendidas entre 12 e 17 com um índice de massa corporal (IMC) igual ou superior ao percentil 95 ou com IMC igual ou superior ao percentil 85 e associadamente um factor de risco relacionado com o peso. O marcador (outcome) primário foi a proporção de alteração do IMC entre o início do estudo e as 68 semanas. O marcador secundário foi a obtenção de uma perda de peso de, pelo menos, 5% às 68 semanas.

Resultados: Foram aleatorizados um total de 201 participantes: 134 para o grupo que recebeu semaglutido e 67 para o grupo placebo. Os grupos apresentavam características semelhantes no início do estudo, tendo sido feita uma análise segundo a intenção de tratar. No grupo que recebeu semaglutido, a percentagem de alteração do IMC foi significativamente superior (-16.1% vs +0.6%; P< .001). Também no grupo do semaglutido significativamente mais participantes atingiram uma redução de peso de pelo menos 5% (73% vs 18%; NNT=2); de, pelo menos, 10% (62% vs 8%; NNT = 2); e de, pelo menos, 20% (37% vs 3%; NNT = 3). As queixas gastrointestinais foram mais frequentes no grupo semaglutido e 5 pacientes neste grupo tiveram colelitíase (um deles com colecistite), nenhum caso tendo sido registado no grupo placebo. A suspensão do tratamento devido a efeitos adversos foi semelhante em ambos os grupos.

Comentário: O semaglutido demonstrou, neste estudo, ser eficaz em adolescentes com obesidade, possibilitando uma perda de peso clinicamente significativa. Será necessário estudar se esta perda de peso se mantém – ou não – após a suspensão da terapêutica. O aumento de casos de colelitíase que ocorreu no grupo que recebeu semaglutido deve ser tido em conta, sendo que este é um efeito adverso já conhecido do fármaco. Não é, contudo, claro se o risco de colelitíase, também constatado num estudo com dulaglutido, se relaciona com a terapêutica ou antes com a rápida perda de peso. A decisão partilhada com o paciente e importância do aconselhamento sobre medidas de estilo de vida são fundamentais neste contexto.

 

 

Por Sofia Baptista

 

 

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