Livro: Silence de Shusaku Endo
Em 1640 o jesuíta português Sebastião Rodrigues inicia uma jornada arriscada rumo ao oriente. Outrora uma nação acolhedora, o Japão tornara-se um local perigoso para os católicos. Os poucos relatos que chegam via Macau descrevem uma perseguição cruel que culmina, pasme-se, na apostasia de missionários incluindo o seu mentor Ferreira que Rodrigues tem como exemplo.
Estas são as linhas iniciais do romance do japonês Shusaku Endo (1923-1996).
Mas engane-se o leitor se pensa que se trata de “apenas” mais um romance histórico.
De facto “Silêncio” é considerada uma das principais obras nipónicas do séc. XX pois aborda magistralmente o diálogo – por vezes doloroso – entre fé e dúvida, ocidente e oriente, comunidade e indivíduo.
A biografia do escritor explica a sua capacidade para descrever estes paradoxos.
Natural de Tóquio, Endo cresceu em Kobe e foi baptizado numa época em que os cristãos representavam menos de um por cento da população.
Enquanto o Japão avançava na espiral da segunda guerra, o romancista via o ocidente como destino. Em França a doença (tuberculose), a discriminação e a dúvida assolaram o escritor.
A passagem pela Palestina criou luz na sombra e a ficção foi o palco escolhido por Endo para expressar a sua interpretação de Deus e da sua aparente ausência.
A profundidade de “Silêncio” marcou o realizador Martin Scorsese, que confessa no prefácio desta edição pela “Picador Classic”, ter lido várias vezes a obra que acabou por trazer para o grande ecrã.
Uma sugestão de leitura de Luís Monteiro