Ensaio clínico: educação para a saúde por SMS





Pergunta clínica: Será que o envio de mensagens de texto via telemóvel (sms), que incentivem a alteração de estilos de vida, tem efeito nos fatores de risco modificáveis em doentes com doença coronária estabelecida?

Enquadramento: A prevenção da doença cardiovascular, que inclui a alteração de estilos de vida, é fulcral para controlo da patologia, mas encontra-se subaproveitada. As estratégias de melhoria da saúde que incluam o uso das novas tecnologias, nomeadamente o telemóvel, pode colmatar esta falha. No entanto, o seu uso apresenta falta de evidência científica no seu benefício terapêutico.

Desenho do estudo: Ensaio clínico, randomizado, duplamente cego, realizado num centro australiano, entre setembro de 2011 e novembro de 2013. A população incluiu 710 doentes (idade média de 58 anos; 82% homens; 53% fumadores ativos), com patologia arterial coronária comprovada (enfarte de miocárdio prévio ou coronariopatia comprovada angiograficamente). A intervenção consistiu no envio de sms: a incentivar a cessação tabágica; a prática de exercício físico e hábitos alimentares saudáveis. Os doentes do grupo de intervenção (n=352) receberam quatro sms, semanalmente, durante 6 meses, além de cuidados assistenciais. Os doentes do grupo controle (n=358) receberam os cuidados de saúde habituais. O marcador primário avaliado foi o colesterol LDL e os secundários consistiram na avaliação da pressão arterial, IMC, atividade física e hábitos tabágicos.

Resultados: Aos 6 meses, o nível de colesterol LDL foi menor no grupo de intervenção, com redução simultânea dos valores de pressão arterial sistólica e IMC, aumento na atividade física, e uma redução dos hábitos tabágicos (p<0,05). A maioria dos participantes referiram a utilidade dos sms para estes resultado (91%), a fácil compreensão deste método (97%), e a frequência adequada do envio (86%).

Comentário: Este ensaio clínico é interessante pois pretendeu provar que, através de uma tecnologia de informação acessível (sms), é possível promover estilos de vida saudáveis. No entanto, e atentando para os marcadores avaliados (orientados para a doença) não se pode extrapolar o efeito na morbi-mortalidade cardiovascular destes doentes. Por esse motivo é necessário outros estudos que avaliem os eventuais ganhos em saúde e a efectividade destas estratégias num grupo mais alargado, durante mais tempo e com marcadores orientados para o paciente.

Artigo original:JAMA

Por Débora Monteiro, USF Pirâmides 





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